Adeus Hillary Clinton: fotografias e frases de uma vida inspiradora

Há oito anos, a então candidata nas primárias democratas Hillary Clinton fez o seu discurso de concessão, abandonado a corrida em favor de Barack Obama:

“Embora não tenhamos sido capazes de quebrar este teto de vidro, mais alto e mais forte, desta vez, graças a todos ele agora tem 18 milhões de rachas, e a luz que passa, brilhante como nunca, enche-nos com esperança e a certeza de que este caminho será um pouco mais fácil da próxima vez, e que nos vamos continuar a trabalhar para que seja. Ainda temos muito para fazer juntos. Já fizemos história, vamos fazer mais».

Quando sete anos depois, ao ultrapassar o opositor Bernie Sanders e de ter conquistado a nomeação aritmética como candidata à presidência dos Estados Unidos, do Partido Democrata, Hillary recordou esse discurso e acentuou a tecla feminina. Era a primeira vez na história americana que uma mulher chegava a candidata.

“Para cada menina que sonha em grande: sim, podes ser tudo o que quiseres, até presidente. Esta noite é para ti”, disse a 7 de julho de 2016.

Quando em 1992 o então candidato presidencial Bill Clinton disse aos eleitores que caso ganhasse teriam na Casa Branca “dois pelo preço de um”, numa referência à sua mulher Hillary, isso foi um sinal da persistência da advogada de Chicago.

Vinte e quatro anos depois, Hillary Clinton já desempenhou vários papéis na política americana – primeira-dama, senadora, secretária de Estado -, focando agora, pela segunda vez, a sua ambição no papel derradeiro: a Presidência dos Estados Unidos.

Quando se é uma mulher na política “é preciso ter uma pele tão grossa como um rinoceronte”, afirma regularmente, citando o seu ídolo Eleanor Roosevelt, mulher do antigo Presidente Franklin Roosevelt. É também frequente mencionar as várias provações que enfrentou ao longo de quatro décadas de vida pública: “tenho as cicatrizes para provar isso”.

Entre casos e escândalos, a candidata presidencial democrata tem enfrentado as acusações de fraude, mentira e clientelismo, mas também a sua falta de empatia com o eleitorado.

“Caso não tenham reparado, não sou naturalmente dotada para a política, como é o meu marido [o ex-Presidente Bill Clinton] ou o Presidente Obama”, admite Hillary Clinton, que tem tentado contornar a impopularidade com a participação em formatos humorísticos, ‘talk-shows’ descontraídos ou com discursos mais emotivos.

Essas iniciativas visam afastá-la da imagem de uma figura formal, ligada a uma elite política e com sede de poder.

Aos 69 anos, a antiga chefe da diplomacia norte-americana já tem um lugar reservado na história dos Estados Unidos, ao ser a primeira mulher que consegue ser a candidata presidencial de um grande partido. Um feito que poderá ganhar ainda mais dimensão caso seja eleita como a primeira mulher Presidente dos Estados Unidos.

Hillary Diane Rodham nasceu a 26 de outubro de 1947 em Chicago (Illinois) e cresceu no subúrbio de classe média e conservador de Park Ridge com a mãe e o pai, Dorothy e Hugh Rodham, e dois irmãos mais novos.

O pai, um pequeno empresário têxtil, transmite-lhe uma forte ética de trabalho. É dele que herda as convicções republicanas, que vai conservar até aos anos de estudante.

Aluna exemplar, Hillary Rodham ingressa em 1965 na universidade liberal para jovens mulheres Wellesley College (Massachusetts).

Os quatro anos em Wellesley College transformam-se numa revelação sobre várias matérias: a luta dos direitos civis, a guerra do Vietname e a igualdade de géneros.

Hillary Clinton, a persistente e o sonho

A estudante com óculos “de fundo de garrafa”, que odeia maquilhagem, revela-se muito trabalhadora e ambiciosa e conclui uma graduação em ciência política.

Em 1969 entra na faculdade de Direito de Yale e conhece Bill Clinton, o seu “Viking do Arkansas”.

“Tinha um ar voluntarioso e um autocontrolo que raramente tinha visto numa pessoa, homem ou mulher”, escreve mais tarde Bill Clinton.

O ativismo em defesa dos direitos das crianças e das mulheres assume um grande protagonismo na sua vida e decide ir trabalhar como advogada para o Fundo de Defesa das Crianças. Bill Clinton regressa ao Arkansas para investir numa carreira política.

Após uma passagem por Washington em 1974, altura em que trabalha na equipa de investigação relacionada com a comissão de inquérito sobre o caso Watergate (que culminou na renúncia do Presidente norte-americano Richard Nixon), a jovem Hillary, encarada então como alguém com um grande potencial político, cede aos desígnios do coração, aceita casar-se com Bill Clinton e ir viver para o Arkansas.

Integra o corpo docente da Faculdade de Direito do Arkansas e, mais tarde, entra num conceituado escritório de advogados no mesmo estado. Cerca de cinco anos depois do casamento, em 1980, nasce Chelsea, a única filha do casal. Em junho deste ano foi avó pela segunda vez.

No Arkansas, Bill Clinton chega a procurador-geral e é eleito para dois mandatos de governador.

Só no segundo mandato do marido, em 1982, a primeira-dama do Arkansas decide apresentar-se como Hillary Clinton. Ganha a atenção nacional quando o marido é eleito, pela primeira vez, Presidente dos EUA em 1992.

Mesmo na “sombra” do marido, Hillary Clinton não se enquadra na versão tradicional da primeira-dama e é apelidada como “copresidente”, imagem alimentada pela ala republicana devido à sua influência em questões centrais da política pública norte-americana.

Nos bastidores da Casa Branca, tenta lidar com várias questões incómodas, como o caso “Whitewater”, relacionado com a especulação imobiliária no Arkansas, e o escândalo Lewinsky, que envolve Bill Clinton e uma estagiária, divulgado em 1998.

Quase no fim do segundo mandato de Bill Clinton, a primeira-dama aventura-se na política e é eleita senadora de Nova Iorque em novembro de 2000.

Ambiciona desde 2003 uma eventual candidatura à Presidência, mas só em 2008 avança para as primárias democratas. Fica debaixo de fogo pelo apoio que deu à guerra do Iraque e, em junho desse ano, retira-se da corrida a favor do então senador do Illinois Barack Obama, o primeiro afro-americano a ser eleito Presidente dos Estados Unidos.

Obama designa Clinton como secretária de Estado, cargo que ocupa até ao início de 2013.

Os quatro anos de Clinton à frente da política externa da primeira potência mundial são recordados, entre outros aspetos, pelos milhares de quilómetros que percorreu (visitou 112 países) e pela tentativa de recuperar a cumplicidade com parceiros e aliados após o clima de confrontação da administração republicana de George W. Bush.

Mas, a sua passagem por Foggy Bottom (nome associado ao Departamento de Estado) é também marcada por embaraços, que não foram esquecidos durante campanha às presidenciais de 2016.

É acusada de ter responsabilidades políticas e de ter mentido enquanto secretária de Estado pela forma como geriu os antecedentes e as consequências do ataque contra o consulado americano em Benghazi, na Líbia, que matou em 2012 quatro americanos, incluindo o embaixador. É ouvida em audição mais que uma vez no Congresso, assume ser responsável e consegue gerir o assunto.

Revelado em março de 2015, o caso dos ‘emails’ é outra polémica que persegue a democrata. Enquanto chefe da diplomacia, Hillary Clinton usa um endereço de ‘email’ pessoal para assuntos profissionais.

Pede desculpa e admite que cometeu um erro de avaliação, mas não escapa às críticas severas, tanto dos adversários políticos como do próprio Departamento de Estado.

A menos de um mês da convenção democrata (que decorreu em julho em Filadélfia), a candidata é interrogada pela polícia federal norte-americana (FBI) depois de ter violado as regras de segurança informática. Apesar de considerar que Clinton foi “extremamente negligente”, o FBI recomenda que a democrata não seja acusada.

Já em plena campanha eleitoral para as presidenciais de 08 de novembro, o estado de saúde de Clinton foi um dos temas que dominou a agenda política.

Uma indisposição (justificada posteriormente pela campanha como uma consequência de uma pneumonia) durante a homenagem às vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001 deu azo a especulações e fez recordar um episódio de 2012, quando foi hospitalizada depois de lhe ter sido detetado um coágulo sanguíneo, após ter sofrido um traumatismo craniano.

Como um prenúncio da candidatura presidencial, a democrata lança em 2014 o livro autobiográfico ‘Hard Choices’ (‘Escolhas difíceis’), dedicado ao seu percurso como 67.ª secretária de Estado.

Na obra, a democrata não abre o jogo sobre a eventual (agora confirmada) candidatura, mas tenta cimentar a imagem de uma mulher pragmática, resistente e com sentido de Estado.

“Todos enfrentamos escolhas difíceis nas nossas vidas. (…) As nossas escolhas, e a forma como lidamos com elas, formam-nos enquanto pessoas”, escreve então a mulher que assegura agora estar pronta para assumir os comandos dos EUA.