Breviário essencial dos termos de moda

Toda a gente sabe os que são bainhas. E rebuço, sabe? Ou calças pata de elefante? Bem-vinda à universidade de verão da verdadeira adepta da moda, lúcida e informada. Aqui ficam todas as ferramentas essenciais que lhe permitem conversar quando enfrentar um estilista.

Linha A: Designa o formato das saias, dos tops e dos vestidos típicos da década de sessenta. A lateral destes não é paralela aos centros das costas e da frente, como numa saia a direito, ao invés formando um A a partir da cintura. Para aguentar a forma sem quebrar, a saia não pode ser muito comprida e não passar abaixo do joelho (o que em sessenta até se agradecia). Pela mesma razão quanto mais estruturado for o tecido, melhor o resultado. Também se pode chamar a este formato “evasé”.

Asa de morcego: É um tipo de manga que teve a sua glória na roupa de noite das décadas de 30 e 40, e que mais tarde foi uma das favoritas em 80. Basicamente é uma ‘não-manga’, pois anula as cavas e as laterais do top, sendo assim uma peça contínua, como as asas do bicho.

Chapéu de sol: Saia ou parte de vestidos inteiros e sem costura, cortados num círculo sobre todo o pano. Como a maior parte dos tecidos têm apenas 140cm de largura esta premissa apenas possibilita cortar saias com menos de 70cm de altura. Se a quiser mais longa, tem que incluir 2 costuras laterais, cortando duas vezes o molde.

Escapulário: Componente de vestidos e camisas que substitui a costura do ombro por duas, uma à frente e outra nas costas. Normalmente é dupla, e tanto as costas como ambas as frentes encaixam no escapulário. É uma espécie de peça de charneira, que reforça a peça onde é mais necessário e providencia apoio ao colarinho ou à gola para que se mantenham direitos.

Fio direito: Marcação obrigatória (uma reta que atravessa o molde de um lado ao outro) em todos os moldes de confeção. Colocam-se estes sobre o tecido a cortar com o fio direto paralelo à ourela (ver a seguir) e tal garante que todos os componentes da roupa oferecem a mesma resistência uns em relação aos outros, e que as respetivas teias estão paralelas e que a peça cai com aprumo. Para o contrário ver a seguir Viés.

Godés ou panos: Formato de saia ou vestido cortados em vários panos de formato trapezoidal, que quando unidos pelas costuras geram assim muito mais roda que a conseguida com um chapéu-de-sol. Está a ver os vestidos de dança da Ginger Rogers? É isto.

Hot Pants: Cações curtos mas altos, com o cós na cintura, típicos das flausinas de 50 e 60. É mesmo preciso ter boas coxas, a sério. Tipo 16 anos.

Kimono: Manga que se une ao corpo sem costura e de forma mais ou menos reta. Especialmente usada quando o padrão é rico e decorativo, e em tecidos moles, como a seda, quando as rugas e os refegos provocados pela ausência das cavas são uma mais-valia para a peça e não o seu contrário.

Macho: Encontro de duas pregas, com o excesso virado para dentro ou para fora, de modo a conferir volume, mais ou menos em ‘caixa’, à peça.

Ourela: Acabamento da trama em todos os tecidos, para que não desfiem e para manter a sua estabilidade ao longo da peça. É especialmente usada para cortar os moldes a Fio Direito (ver anterior).

Pata de elefante: Formato da boca de algumas calças, usadas em 80 e 90. De uma perna skinny, das costuras lateral e interior projeta-se uma reta com leve evasé, a um terço da altura entre a bainha e o joelho. Se esta reta for projetada da altura do joelho para a bainha, corta-se a peça em ‘boca de sino’.

Pinça: Pequenos ‘V’ onde são consumidos os excessos de tecido onde é necessário dar volume ou reduzi-lo, como na cintura das calças e saias, ou no volume do busto. Este excesso é normalmente oculto para o avesso, cosido e pode ser pespontado. Quando virado para o lado do direito, se cosido designa-se nervura e se solto, prega.

Raglan: Formato de manga e cava em que parte desta é deslocada para o decote, anulando a costura central do ombro, gerando duas, uma à frente outra atrás. Existem inúmeras possibilidades de raglan, sendo estas muito usadas especialmente na roupa desportiva.

Rebuço: Tipo de gola sem banda, obtida inteira sem costuras. Pode-se encontrar amiúde em roupões e outra roupa de andar por casa, mas por vezes também em casacos e abafos de inverno.

Saruel: Tipo de calças em que o gancho desce, e assim anula a função deste, a união das duas pernas na linha do centro. Há alguns poucos anos o saruel voltou, mas de forma forreta, e mantendo o gancho ainda a cima da linha dos joelhos. Em 80, o gancho do saruel não existia de todo, e o entrepernas das calças podia descer, em certos casos, até ao chão, numa coisa mais oriental e flamboyant.

Teia e trama: São a base da construção de todos os tecidos: a teia são os fios estáveis e permanentes, que dão o comprimento aos tecidos e a trama são os fios que se mexem, passando no tear ora por cima ora por baixo dos fios da teia, formando a largura. A localização e o número de vezes que a os fios da trama fazem isto designam as tipologias clássicas dos tecidos: tafetá, sarjas e cetins.

Tulipa ou pouf skirt: Formato de saia e vestido, abaulados por franzido ou pregas, e/ou por panos modelados em forma de pétala de tulipa. A bainha é depois puxada para cima e para dentro, conferindo o típico volume da flor.

Vestido chemise: Como o nome indica, é uma camisa para se usar como um vestido. Tem colarinho, carcela e punhos, como uma camisa, e pode ser cintado com pinças ou com cinto de nó ou afivelado. Quanto mais curto, melhor.

Viés: Antes dos tecidos stretch o viés era a forma que se tinha de dar alguma elasticidade aos tecidos. É obtido subvertendo as qualidades do fio direito paralelo à ourela, fazendo assentar esta sobre uma linha da trama, formando um triângulo; esta hipotenusa assim obtida passa a ser o novo fio direito e os centros dos moldes (os festos) são aí colocados. O corte em viés, porque apanhado onde a teia e a trama não oferecem qualquer resistência, faz com que a peça caia fluida e lânguida. Pela mesma razão as bainhas e as costuras da peça em viés devem ser reforçadas com nastro ou costura inglesa.