75 anos de carreira de Eunice Muñoz: “Quando me vejo nunca fico satisfeita”

A atriz Eunice Muñoz, que foi homenageada pelos seus 75 anos de carreira no teatro, confessou que mesmo com um percurso profissional tão longo nunca se sente totalmente realizada. “Quando me vejo nunca fico satisfeita. Há coisas de que gosto, outras não”, contou a atriz de 88 anos ao companheiro de profissão Diogo Infante, convidado pelo Teatro Nacional D. Maria II para conversar com Muñoz. “Há momentos que acho engraçados, gosto de pequenas coisas”, explicou ainda, referindo-se também à sua prestação em telenovelas. “Sou muito exigente”, concluiu.

Desde o dia 28 de novembro de 1941 que a paixão de Eunice Muñoz pelo teatro não esmorece: “Olho para o espelho e penso ‘Ainda tens aquele brilho nos olhos'”. Esse brilho vai voltar a iluminar, em setembro do próximo ano, a sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II, quando Eunice Muñoz voltar a pisar o palco. Num espetáculo de Shakespeare encenado por Bruno Bravo, a atriz alentejana vai protagonizar a peça interpretando Rei Lear, numa obra homónima.

Eunice Muñoz, definida pela neta “não como uma atriz mas como o próprio teatro”, está afastada dos palcos desde 2012, quando caiu e partiu os dois pulsos. A atriz ainda preparou o regresso aos palcos este ano, com uma peça encenada por Filipe La Féria, ‘As Árvores Morrem de Pé’, mas uma intervenção cirúrgica ao coração adiou o retorno ao ativo de Eunice.

Já em 2013 lhe tinha sido diagnosticado um tumor na tiroide, que acabou por afetar a voz da atriz. A Diogo Infante e aos vários colegas e familiares presentes na homenagem, Muñoz confessou que já se sentia “há muito tempo parada” e que “é muito pesado estar à beira de tudo parar”. A consagrada atriz portuguesa revelou ainda que a única coisa que procura “é que a voz fique clara para poder representar.”

Quando questionada sobre a razão pela qual nunca optou por ser encenadora, como acontece com o colega Diogo Infante, Eunice revelou que não basta querer: “Nunca tive vontade de dar aulas. É preciso ter vocação e eu não tinha. Quero é que me dirijam a mim.” A vencedora do Prémio Carreira em 2015 atribuído pelos Prémios Sophia confidenciou ainda que evita dar conselhos.

Com muitos alunos de teatro presentes na sala Garrett, o método de Eunice Muñoz também foi abordado. Simples e perentória, a atriz confessou-se “uma ladra”: “Roubei tudo o que podia”, referindo-se às técnicas dos talentosos colegas com quem contracenou.

O Presidente da Republica, Marcelo Rebelo de Sousa, não pode estar presente mas em carta congratulou Muñoz pelas “bodas de diamante” e enalteceu o trabalho da atriz, que representou “personagens maiores do que a vida.” Da parte do Governo, discursou o secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, que definiu a homenagem como “o encontro do teatro consigo mesmo.”

Eunice Muñoz estreou-se precisamente na sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, quando tinha 13 anos, com a peça ‘Vendaval’. Representou também no cinema e na televisão, tendo-se estreado na sétima arte em 1946. Nos anos 90 fez televisão pela primeira vez, protagonizado D. Branca, na novela da RTP ‘A Banqueira do Povo’.