‘A Bela e o Monstro’: uma princesa à medida de Emma Watson

Chegou o dia. O remake da Disney A Bela e o Monstro é um dos filmes mais esperados do ano e está finalmente, a partir desta quinta-feira, nas salas de cinema nacionais. Com Emma Watson como protagonista, muito se especulou sobre as alterações ao argumento do filme para que se aproximasse das convicções feministas da atriz, que é também Embaixadora da Boa Vontade das Nações Unidas para a Igualdade de Género e Poder das Mulheres. No entanto, neste aspeto pouco mudou em relação à versão de Walt Disney Feature Animation, de 1991, que já era bastante feminista.

Na altura, Bela não se deixou levar pela beleza exterior de Gaston, que além de ser “bruto e burro” apenas queria uma esposa para lhe “massajar os pés”. O vilão aconselhou-a a deixar de ler e a não alargar os seus horizontes culturais, argumentando que era o assunto mais comentado da aldeia e não era “correto uma mulher ler”, pois começava “a ter ideias, a pensar”. Indo contra todos estes padrões impostos pela sociedade, Bela acabou por se apaixonar pelo Monstro, a personagem de aparência assustadora que, além de um bom coração, tem outro fator importantíssimo a seu favor: uma biblioteca gigante em casa (biblioteca essa que se diz ter sido inspirada na Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra. Na galeria de imagens acima pode ver imagens da biblioteca portuguesa e da biblioteca do filme, para poder fazer a comparação).

Apesar de o remake se manter parcialmente fiel à versão original, em entrevista ao The Telegraph o realizador Bill Condon admitiu ter feito algumas alterações à personagem, baseadas nos valores defendidos por Emma Watson. “Obviamente, muito aconteceu em 25 anos. Quisemos ter a certeza de que ela [a Bela] permanecia uma figura feminista e alguém que olhasse para o futuro”, explicou Bill Condon.


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Os traços feministas de Emma Watson refletem-se em Bela no calçado – usa botas e alpercatas em vez das originais sapatilhas de ballet –, na habilidade em manusear as ferramentas do pai e no facto de criar utensílios que lhe facilitam as lides domésticas e lhe permitem passar mais tempo a ler e ensinar as crianças da aldeia.

Duas personagens negras e dois gays

A igualdade é outro dos temas abordados pelo filme, com duas atrizes negras, Gugu Mbatha-Raw e Andra McDonald, a darem voz ao espanador e ao armário, respetivamente.

Já a primeira cena gay da Disney, de que tanto se falou nas últimas semanas, é pouco explícita. Nunca há um amor declarado de LeFou a Gaston, só se percebe pelos gestos e tiques. A personagem tem uma devoção clara ao vilão, mas nunca o confessa ou
demonstra.

“LeFou é alguém que um dia quer ser como o Gaston e no outro quer beijá-lo. Está confuso sobre aquilo que quer, é alguém que ainda está a perceber os seus sentimentos. E Josh Gad [que dá vida a LeFou] interpreta algo completamente subtil e delicioso”, revelou o realizador à revista Attitude.

É noutra personagem secundária, um dos populares que no final invade o castelo do Monstro, que a homossexualidade mais se manifesta. No filme original, durante a invasão três homens da aldeia deparam-se com o armário, que os “ataca” vestindo-os de mulher. Perante este cenário, os três homens fogem a gritar. Na versão de Bill Condon, um desses homens não foge nem grita, ficando a deleitar-se com as roupas femininas e a maquilhagem, dando claramente a entender que é gay. No final, acaba a dançar com Le Fou, deixando a ideia de que irá existir um futuro romance homossexual entre as duas personagens.

Um remake aquém das expectativas

A Bela e o Monstro é um dos melhores filmes da Disney, retratando na perfeição a essência dos contos de fadas tradicionais, onde o terror e a maldade são atenuados pelo ambiente romântico, a música e o lado cómico das personagens secundárias. Para qualquer remake que se seguisse, a fasquia estava elevada e seria difícil superar. Esta nova versão “realista”, em que personagens de carne e osso convivem lado a lado com as personagens criadas com efeitos especiais digitais, falhou esse objetivo. Ficou aquém das expectativas e não aguentou a comparação.

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Os efeitos especiais revelam-se demasiado elaborados e tornam o filme muito artificial, algo que se nota na cena em que os objetos – que também não são tão expressivos como se esperava, apesar de toda a tecnologia utilizada – servem o jantar a Bela no castelo enquanto cantam a música ‘Be Our Guest’.

No que toca aos protagonistas, Emma Watson teve um desempenho mediano. Longe de ser uma atriz extraordinária, a britânica encontrou em Bela uma princesa com os seus ideais – feita à sua medida, como refiro no título – mas não conseguiu dar o brilho e alma que a personagem merecia, revelando-se demasiado contida nas cenas mais emocionantes. Por sua vez, Dan Stevens, que vem da série Downton Abbey, ficou com um papel ingrato como Monstro, a quem até a voz foi alterada.

Apesar destes contras, vale a pena ir ver A Bela e o Monstro ao cinema e reviver toda a magia e nostalgia da infância. Mas se tiver crianças em casa não deixe de lhes mostrar o verdadeiro encanto do filme da Disney que, até aos dias de hoje, ainda não teve nenhum remake que lhe chegasse aos calcanhares.