O instagramismo e o jornalismo de moda

Esta quarta-feira, dia 6 de setembro, Verona encheu-se de pernas cobertas com collants brilhantes e dançou até de manhã. A apresentação da nova coleção da Calzedonia foi um verdadeiro espetáculo, bem na linha dos desfiles iniciados por Victoria’s Secret, nos anos 90. Na plateia, os ilustres convidados eram celebridades, influencers e jornalistas, poucos estes últimos, e é para isso que devemos olhar. De Portugal foram convidados influencers – essas pessoas mágicas que angariam milhares de corações no Instagram e valorizam qualquer pedacinho de pano – valorizam literalmente porque aquilo em que tocam esgota nas lojas passado pouco tempo. São uma espécie de Kate Middleton sem tiara, com um estilo mais arrojado e com rendimento sobre a utilização da peça porque na maioria dos casos os influencers são pagos para usar essas peças.

O único órgão de comunicação social português convidado foi uma estação de rádio, apesar de um espetáculo visual ser difícil de pôr no ar apenas sonoramente… mas isso também não interessa nada porque uma conta de Instagram com 190 mil seguidores resolve quase tudo. Dos meios jornalísticos – as revistas femininas em papel, as suas versões digitais, ou agora as revistas nativas digitais – que são historicamente, teoricamente, e em última análise, os realmente especialistas na matéria, foi apenas um meio convidado.

Estou com uma tremenda dor de cotovelo, por não ter estado lá? Talvez. Mas este texto é apenas a análise da realidade em que vivemos e parece-me urgente que as revistas historicamente, teoricamente e em última análise realmente especialistas na matéria compreendam. Hoje comunica-se de outra forma! As redes sociais e sobretudo o Instagram, que como o próprio nome indica foi criado para registar e partilhar instantes, permitem que cada pessoa mostre em direto e sem filtros analíticos (porque dos outros está ele cheio) o que está a acontecer. Esse processo faz com se forme uma opinião muito rápida sem se consultar arquivos, história, memória e conhecimento especializado sobre a matéria. O ciclo inverteu-se, hoje o interesse é gerado pelo acontecimento em si (ou em direto) e não pelo conteúdo que ele tem e, muito menos, pelo que foi dito ou escrito sobre o acontecimento. A opinião conta, mas só conta se o objeto julgado já tiver sido mostrado e tiver despertado interesse.

Como é que se sobrevive como líder de opinião num tempo em que todos têm ferramentas de comunicação na mão? Escrevendo de forma refletida, matérias que contam mais do que aquilo uma fotografia pode mostrar, que contam mais do que a interpretação de quem escolheu o ângulo, fazendo correr linhas de tinta que convidam à reflexão e tocam as entranhas do assunto descrito, não apenas no seu aspeto exterior.

Para resistir ao imediatismo é preciso ressuscitar o velhinho jornalismo, das perguntas pertinentes e insistentes que não deixa qualquer questão de fora. Mas isto não chega… é urgente perceber a importância do Instagram! É fundamental comunicar com todas as armas das mais modernas às mais antigas, é preciso compreender porque é que a comunicação está a mudar e acompanhar a mudança, falar na mesma língua que os leitores e convidá-los a ler o que foi escrito, o que está escondido em cada fotografia e quando conseguimos que corram o risco da leitura não os podemos desiludir, temos de fazer boa informação, boa crítica, ter um bom critério na escolha de cada palavra e informar de forma independente.


Margarida Brito Paes é jornalista e coordenadora de moda e beleza do Delas.pt