A judia portuguesa que foi banqueira de reis e sultões

Gracia Mendes Nasi

Gracia Mendes Nasi foi uma judia lisboeta falsamente convertida ao catolicismo que no século XVI viveu na Flandres, na Itália e no Império Otomano e emprestava dinheiro tanto ao imperador Carlos V como a Solimão o Magnífico. Nasceu em 1510 numa família de judeus que tinha vindo de Espanha para Portugal para escapar à perseguição dos Reis Católicos. Para defender o negócio, que passava tanto pelo comércio das especiarias como pela banca, assumiram por fim uma fachada cristã, mas em segredo praticavam a fé de Moisés.

Gracia, batizada com o nome cristão de Beatrice de Luna, casou com um tio, Francisco Mendes, aliás Benveniste, que tinha aproveitado Lisboa ser uma espécie de entreposto das riquezas mundiais para fazer fortuna. Quando este morreu em 1538, a viúva herdou metade dos bens e tornou-se ela própria banqueira. Mudou-se então com a filha Ana (a quem chamava Reina) para Antuérpia, para escapar à Inquisição, e depois para Veneza e Ferrara. Nesta última cidade praticou pela primeira vez o judaísmo de forma aberta, ao mesmo tempo que usava a fortuna para ajudar outros falsos conversos a fugir de Portugal e Espanha. Mas também em Itália o perigo aumentava e foi então que Gracia optou por se instalar em Constantinopla, a atual Istambul. Tia e sogra de Joseph Nasi, outro judeu português influente entre os turcos (nasceu em Lisboa como João Micas e chegou a ser duque de Naxos, no Egeu), Gracia obteve do sultão o direito de governar parte da Palestina, começando a dar o sentimento de querer criar um Israel, pois o objetivo era acolher os judeus em fuga da Europa.

Nos anos finais da vida, pagou muitas publicações de livros judaicos e também ordenou a construção de sinagogas, a mais famosa a ser em Izmir, antiga Esmirna, chamada de ‘La Señora’. Gracia morreu em 1569, após 18 anos de vida no Império Otomano, que protegia os judeus. Já no século XX, a sua história foi recuperada, primeiro pelo historiador Cecil Roth depois pela escritora francesa Catherine Clément, que lhe dedicou o romance ‘A Senhora’. Também a portuguesa Esther Mucznik publicou recentemente a biografia de Gracia.