Patrões podem continuar a obrigar mulheres a trabalharem de saltos altos

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As companhias já vão ter autorização sobre os corpos das suas empregadas e se for regra as mulheres andarem de salto alto no horário útil e nos dias de expediente, agora podem continuar a ser obrigadas. A proposta, bem como a petição que a sustentava, tropeçaram no após debate preliminar no parlamento britânico e nem vão chegar a uma formulação final de lei.

Mas para contar esta história, temos mesmo de começar do princípio. Estávamos em Londres, em dezembro de 2015, quando Nicola Thorp, uma atriz e rececionista em part-time, contratada para trabalhar para a consultora Pricewaterhouse Coopers foi mandada para casa por se ter apresentado de sapatos rasos.


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A petição lançada no seguimento deste caso “Make it illegal for a company to require women to wear high heels at work” (em tradução livre, uma empresa não pode exigir que as mulheres usem sapatos de salto alto no trabalho, é ilegal) conquistou mais de 150 mil assinaturas, e a questão até chegou a ser debatida no parlamento, em março.

Porém, o Gabinete para a Igualdade britânico (entidade que é responsável pela estratégia de igualdade e pela legislação do governo na matéria) veio declarar formalmente, na sexta-feira, 21 de abril, que não iria propor uma lei relativa aos saltos altos nos locais de trabalho porque considera que a lei antidiscriminação atualmente em vigor, a Lei pela Igualdade de 2010, é a ferramenta “adequada” para proteger as mulheres de dress codes [conjunto de regras que definem tipos de roupa que devem ser usados] sexista.

O mesmo organismo oficial declarou também que está a preparar para “este verão” novas “linhas orientadoras” em matéria de “dress cores”. Não antecipou, contudo, medidas que possam estar a ser pensadas.

Portanto, a revolta de uma mulher que foi dispensada por se recusar a usar sapatos de salto alto, a adesão massiva à petição que ela criou e as manchetes que se multiplicaram um pouco por todo o mundo – também no Delas.pt – foram factos que agora caíram por terra.


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“Vergonha” e “o governo deve assumir as responsabilidades e colocar estas questões de forma bem clara na legislação”, classificou a fundadora desde movimento ao órgão de comunicação social Press Association. Nicola Thorp, de 27 anos, considera que a lei atual não responde a todos os casos.

“Tal como está, a Lei da Igualdade sustenta que um empregador tem o direito de distinguir códigos de vestuário masculino e feminino, desde que não estejam implícitos tratamentos mais ou menos favoráveis”, acrescenta.

Para esta rececionista, “infelizmente, o sexismo intrínseco e a maneira como as empresas trabalham no Reino Unido vão levar a que, uma vez sendo dada liberdade de decisão às companhias, as mulheres saiam, como sempre, a perder”.

“A legislação sobre a igualdade não é suficiente para alcançar a igualdade na prática”, declarou Maria Miller, da Comissão de Mulheres e Igualdade, ao jornal britânico The Guardian: ” Esta petição e esta investigação levada a cabo pelas comissões vieram reforçar a necessidade de aplicação efetiva da legislação, com as obrigações e os direitos”, afirmou, crendo no próximo governo para levar estes compromissos por diante. Esperamos que o próximo governo vá monitorizar como o aumento da consciencialização destes direitos muda as experiências das mulheres no local de trabalho”.

Imagem de destaque: Shutterstock