Alice Braga: “A valorização dos atores latinos está a aumentar”

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Alice Braga (Fox/DR)

Depois de Wagner Moura, o Brasil volta a estar em destaque numa série americana. Desta vez, o mérito é de Alice Braga. A atriz de filmes como ‘Cidade de Deus’, ‘Eu sou a Lenda’ ou ‘Blindness- Ensaio sobre a Cegueira’ é a protagonista de a ‘Rainha do Sul’, série inspirada no livro homónimo de Artur Pérez-Reverte sobre o narcotráfico e que passa na Fox Life, às quintas-feiras, pelas 23h15. Numa entrevista ao Delas.pt, a primeira para Portugal desde que a série começou, em dezembro, Alice Braga – sobrinha da também atriz Sónia Braga – explica o que a atraiu na personagem de Teresa Mendoza e como a construiu. A atriz, que nasceu em São Paulo, em 1983, a atualmente divide a sua vida entre Brasil e Estados Unidos, e o seu talento por produções cinematográficas variadas, sempre em busca de boas personagens. A ‘Rainha do Sul’, em que participa também Joaquim de Almeida, trouxe-lhe a sua primeira grande personagem no pequeno ecrã.

Alice Braga (Fox/DR)
Alice Braga (Fox/DR)

Esta é a sua estreia numa produção para televisão americana. Como surgiu a oportunidade de fazer esta personagem?
Eu fui contactada pelos guionistas que conheciam o meu trabalho no Brasil e que tinham trabalhado com algumas pessoas com quem eu trabalhei.

Leu o livro há vários anos e diz que se apaixonou pela jornada de Teresa. O que mais a atraiu nesta personagem?
O que mais me atraiu foi a força dela e o facto de ela nunca se auto-vitimizar.

Como define a Teresa Mendoza a quem dá vida na série?
É uma sobrevivente, uma mulher forte que, além de nunca se vitimizar, faz tudo o que pode para sobreviver. Ela é alguém que nunca foi ambicioso, que nunca quis poder nem dinheiro, mas que era boa com contas.

Há muitas diferenças entre a série e o livro?
Sim, há algumas. Os guionistas na primeira temporada decidiram não seguir o livro e recriar a viagem da Teresa [Mendoza] passando-a para os Estados Unidos. Eles readaptaram os nomes de algumas personagens, e os seus respetivos papéis e respetivas relações.

Como se preparou para este trabalho? Além do livro, teve algum contacto com universo da personagem?
Vi muitos documentários e li sobre o mundo dos cartéis de droga atuais. Também diversifiquei um pouco e li sobre mulheres poderosas, do mundo dos negócios, como CEOs, dirigentes políticas, entre outras. Mas a minha fonte principal foi e é o livro de Arturo-Perez Reverte e a sua Teresa.

Nos últimos tempos, as séries sobre o narcotráfico glamorizam um pouco esse universo. De resto, essa é uma das críticas do filho de Pablo Escobar à série “Narcos”, protagonizada pelo seu conterrâneo Wagner Moura. A Alice diz que não quis colocar a cocaína como algo maravilhoso. Construiu a sua personagem em torno do quê?
Uma das minhas referências é um documentário chamado “Cartel Land”, realizado pelo Matthew Heineman. O documentário começa com alguém a dizer que trabalhar no negócio da droga não foi uma opção, mas um meio de sobrevivência. Foi assim que eu escolhi retratar a personagem, tentando nunca glamorizar as suas ações, mas em vez disso mostrando-a como um ser humano que está a lutar pela sua vida e pela sua sobrevivência.qots_172113_1075
Tem havido uma valorização crescente dos atores latinos nas produções americanas, mas no que toca a seriados, quando são escolhidos para protagonistas ou papéis maiores, muitas vezes é para fazerem papéis ligados ao mundo crime. Isso não é um pouco limitador e estigmatizante?
Sim, houve limitações, mas acredito que agora estamos a viver um novo momento e a valorização dos atores latinos está a aumentar. Veja-se o que Gael Garcia Bernal está a fazer com [série] ‘Mozart in the Jungle’. Ou mesmo o Diego Luna como uma das personagens principais do novo ‘Star Wars Rogue One’. O universo da droga não foi uma limitação para mim, eu vi uma grande personagem na Teresa. E o contexto onde ela se encontra serve de background para o seu percurso.

Acha que a presidência de Donadl Trump pode prejudicar a carreira dos atores latinos em Hollywood?
Não, não creio. Acredito que a indústria [dos cinema] é forte o suficiente para ripostar. Se se olhar de perto para a história de Hollywood, vê-se que foi construída por estrangeiros e que tem acolhido estrangeiros desde então. O discurso da Meryl Streep na cerimónia deste ano dos Globos de Ouro diz tudo sobre isso.

Qual é o género de trabalhos que mais prazer lhe dá: as grandes produções ou os filmes independentes?
Os dois. São experiências tão diferentes e igualmente enriquecedoras…No final, o que me importa são as personagens e podem encontrar-se grandes personagens nos dois tipos de produção.

Nas grandes produções americanas temo-la visto em muitos papéis de ação. Que papéis gostaria de desempenhar no futuro, em Hollywood?
O que procuro na minha carreira é interpretar grandes personagens, seja em filmes de comédia, ação ou drama. E espero que o future me traga experiências desafiadoras, independentemente de serem papéis principais ou secundários.

Pode dizer-se que o papel de Teresa Mendonza é a sua primeira grande personagem?
Na televisão, sim. No cinema, penso que foi a Karina, do filme ‘Cidade Baixa’, um filme brasileiro, realizado pelo Sérgio Machado.

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Neste momento passa mais tempo nos Estados Unidos ou no Brasil?
Metade-metade. Tenho vivido onde o meu trabalho me leva.

Na série ‘Rainha do Sul’ contracena com o ator português Joaquim de Almeida. Gostou de trabalhar com ele?
Sim. Ele não só é um grande ator como é uma ótima pessoa. Acho que muitas das minhas melhores cenas foram com ele. Ele traz sempre tanta verdade às suas personagens.

E para quando uma visita da Alice a Portugal?
Adoraria ir em breve, porque sempre sonhei visitar Lisboa e Sintra. Tenho muitos amigos e familiares que estiveram aí recentemente e passaram momentos maravilhosos.