Alves/Gonçalves, viagem ao mundo material

O desfile da dupla Alves/Gonçalves fechou o primeiro dia do Portugal Fashion e rebentou com a escala dos desfiles desta temporada. As lista de palavras que servirão para o descrever tem gótico, punk, clássico, anos 70, Ziggy Stardust, The Duke, hippie, Marrocos, materiais sintéticos, couros, pelos, plissados, escamas, vinil, pixel, blusões, dourados, veludos, rendas, rede, franjas, cintos… Provavelmente tem mais termos.

Desta mistura/conjugação incrível de materiais, texturas e referências saiu um conjunto que deu espetáculo. Na base preta da coleção sobressaem as texturas combinadas, quatro ou mais em cada modelo apresentado. Os brilhos de várias origens evidenciam-se. Inesperadamente surgem silhuetas pouco marcadas em sobretudos de lã. Logo a seguir vêm crop tops de mangas compridas, sobreposições e cinturas marcadas. As calças são sempre largas, masculinas. Quando já não se espera aparece a cor: encarnado, numa saia plissada, numa simples franja num casaco cintado. Depois o plissado sobe para uma blusa com gola e o vermelho amplifica-se num vestido.

As surpresas continuam: aparecem dourados, tops que parecem filigrana, vestidos em degradé de cinza para azul com materiais metalizados. O desfile final parece uma viagem no tempo. A dupla Alves/Gonçalves está em linha com a criatividade do fim de ciclo que casa como a Prada e a Fendi apresentaram em semanas de moda de outras cidades: citar outros tempos, outros momentos históricos. Alguns anunciam que estes desfiles referenciais demonstram o fim da Moda como ela é. Outros dizem que serão os materiais a salvar este ofício. A ser verdade a dupla de designers está na charneira desse movimento novo que recupera as linhas conhecidas através de novas utilizações materiais. É uma viagem ao passado com um pendor futurista.