Artrite reumatóide: uma doença que afeta mais as mulheres

Dores nas mãos e nos pés, deformações e uma vida muito limitada. Estes são alguns dos aspetos mais visíveis de quem sofre de artrite reumatóide. Uma doença que afeta sobretudo as mulheres, que acabam por ter uma qualidade de vida ainda mais comprometida tendo em conta as tarefas de precisão que precisam de fazer no lar.

Apesar de se tratar de uma patologia muito limitativa e não ser curável, ela é tratável e a condenação pode não ser para o resto dos dias.

Esta doença reumatológica afeta quatro por mulheres e cada homem, estimando-se uma prevalência entre as 50 e as 70 mil pessoas. Uma patologia em que todos os minutos contam, sendo muito importante “não perder tempo”, alerta Filipa Mourão, secretária-geral da Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR).

A SPR quer aproveitar a dia Nacional do dDente com Artrite Reumatóide para chamar à atenção não só dos custos sociais, mas também do subdiagnóstico que existe em Portugal.

“Só 43 % destes doentes é que são vistos em reumatologia, estão a ser seguidos noutras especialidades como ortopedia, medicina interna e pelos médicos de família, e por isso menos indicados”, vinca a especialista ao Delas.pt, citando o estudo EpiReuma.pt.

De acordo com aquele recenseamento, efetuado entre 2011 e 2013 e que contou com mais de 10 mil e 600 entrevistados, “38% dos casos foram diagnosticados de novo, durante o estudo. Este facto revela o subdiagnóstico de artrite reumatóide existente no nosso país”, afirma fonte oficial da SPR.


Conheça alguns sintomas da doença vincados por Filipa Mourão, percorrendo a galeria de imagens acima


E se a doença afeta mais mulheres, também é verdade que ela começa a ser mais evidente a partir dos 40 a 50 anos. “É mais frequente nas mulheres e pensa-se que seja devido a fatores hormonais”, explica a especialista, acrescentando: é mais frequente pelos 40 a 50 anos e na pós-menopausa.”

Ressalvando que se trata de uma patologia que também atinge homens, há a relatar a artrite reumatóide juvenil, que se manifesta pelos 10 a 11 anos.

E o quotidiano das mulheres, como fica? “Elas têm uma quebra no dia-a-dia, e muitas queixam-se que já não conseguem passar a ferro ou fazer a cama. As doentes que não estão tratadas não conseguem fazer movimentos tão simples como atar sapatos, lavar os dentes, e até levar uma colher à boca. Com o tratamento, o panorama melhora e aí começa a vida normal”, lembra Filipa Mourão.

Fumar potencia doença e atrasa recuperação

“Em termos de prevenção, a única coisa que podemos fazer é aconselhar a população a não fumar”, começa por advertir a reumatologista do Centro hospitalar de Lisboa Ocidental.

Mas as recomendações não ficam por aqui: “Os doentes devem ter um estilo de vida saudável e a alimentação mediterrânica é a melhor. Devem cumprir sete a oito horas de sono porque a privação e a ingestão de proteínas a mais leva a ambiente pré-inflamatório.” Por fim, a prática de exercício físico e o controlo dos níveis de stress também podem ser aliados.


Conheça as medidas políticas que estão previstas


“Se a doença estiver controlada, o doente tem uma qualidade de vida normal e pode fazer o exercício normal de 30 minutos, três vezes por semana”, conta a especialista.

Os movimentos que estimulem a amplitude articular – como yoga e pilates – e a força – para os músculos susterem as articulações – são os mais recomendados.

Hidroginástica e natação também são escolhas acertadas.

Entre as práticas a evitar estão as corridas intensas (como as maratonas), o futebol, a equitação, a aeróbica e os exercícios de alto impacto.

Diagnosticar cedo para evitar lesões… e custos

Quanto mais cedo for diagnosticada, menos lesões existem provocadas pela artrite reumatóide.

“É importante fazer um tratamento adequado mal se identifiquem os sintomas e, para isso, é preciso que os médicos de família referenciem o mais cedo possível para uma consulta da especialidade”, diz Filipa Mourão, lembrando que o objetivo é “iniciar o tratamento antes das sequelas”.

Numa realidade em que os anti-inflamatórios se mostram um paliativo para as dores, eles “não atacam a doença”, só “fazem perder tempo”. “Quando chegam ao reumatologista, os doentes já trazem deformações articulares irreversíveis, queremos que cheguem mais cedo ao especialista, para evitar lesões e recuperarem a qualidade de vida”, diz a especialista.

Com vários tipos de tratamentos, Mourão conta que “nos últimos anos, houve bastante evolução” e que os “fármacos biológicos – que são caríssimos, mas comparticipados a 100% pelo Estado – travam a progressão da doença”.

Cada doente submetido a esta medicação custa “mil euros por mês ao Estado”, mas são soluções usadas quando “os doentes não respondem à terapêutica tradicional, ao fim de três a seis meses”.


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Mourão crê que aqueles custos devem ser analisados a par com outras tabelas. “Estes doentes faltam muito trabalho, têm reformas por invalidez. Há muitos custos [sociais] por ano, são 204 milhões de euros o Estado gasta em quebra de produtividade – custos podem ser evitados, se forem tratados logo”, ressalva a especialista. Garante ainda que não estão incluídos os gastos com cirurgia, fisioterapia ou medicação comparticipada.

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