As impressoras já imprimem cadeiras

Já não é ficção: desenhas uma cadeira, sem qualquer tipo de entrave, ligas uma máquina ao computador onde a desenhaste, dás a ordem e a maquineta ‘tece-a’. É isto a Impressão 3D, e é já.

Durante décadas esta tecnologia apregoava muito mas cumpria pouco. Galinhos de Barcelos, porta-chaves manhosos e pouco mais era o que se conseguia dela.
Foi desenvolvida na América, na década de 80, para colmatar brechas das indústrias aeronáutica e automóvel na produção de pequenos componentes. Nesta sua altura de nascimento, foi batizada com o nome pomposo de Estereolitografia, que faz de alguma forma sentido, litografia estereofónica.


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A dificuldade maior na transição para um uso mais alargado (até ao nosso âmbito, o do design), era o tamanho menor dos objetos produzidos (as máquinas teciam em micro) e a qualidade da matéria-prima, um filamento plástico que se revelava frágil quando aplicado a uma maior escala.

Hoje, o salto qualitativo que a técnica oferece nasce da queda destes pressupostos: as máquinas são maiores e as matérias-primas muitas e melhores. A ‘tecelagem’ plástica foi substituída por um raio laser que desenha, linha por linha, uma forma que agrega pó sintético com outros materiais como a cerâmica ou o metal. Não só melhora o aspeto da peça, como agora a torna mais forte estruturalmente e duradoura.

O passo seguinte ainda é um pouco do foro ficcional: a impressão 3D+bio. Lembra-se do filme ‘Soldados do Universo’ de 1997? O herói tinha perdido uma parte da coxa na bocarra de uma gigantesca espécie de aranha inter-galáctica, mal chega à nave é colocado num tanque para que uma impressora 3D lhe teça uma coxa nova. A realidade dá já os primeiros passos e passa pela inclusão de células em tecidos vivos, e será um enorme avanço para a medicina na produção de órgãos substitutos para transplante, num futuro muito breve.

Esta tecnologia não abarca apenas a produção total da peça numa impressora; por exemplo, um projetista tem no estirador o desenho de uma super cadeira, produzida de forma ortodoxa, mas cuja mais valia é uma pequena junta entre os pés e o assento, peça essa, que sozinha fará disparar o custo da produção devido à sua manufactura; o 3D supre às mil maravilhas essa lacuna, fazendo baixar dramaticamente o preço de custo da cadeira, no plano da peça de edição mais ou menos limitada, claro.

Se a cadeira for gizada para entrar no mercado de massas, continua a ser mais barato o uso da grande produção na definição como a conhecemos até hoje. Mas mesmo aqui o uso da impressão 3D pode embaratecer a produção, ao escusar a mão-de-obra ‘fina’ e especializada na manufatura do molde a ser reproduzido à casa dos milhões.

O uso desta tecnologia admirável-mundo-novo não se esgota no design deco: armas (apreciadíssimas com certeza por terroristas em aeroportos se modeladas na primeira verão plástica), na moda, produzindo efeitos nunca vistos antes porque há coisas que máquinas de costura nunca conseguiriam obter, e até mesmo em food design onde o açúcar, uma matéria ‘forjável’ aqui facilmente, se transforma em requintadas e nunca vistas esculturas.

A impressão 3D pode ditar uma viragem vertiginosa do modus operandi da Indústria como o conhecemos até agora: os designers deixam de estar sujeitos à ditadura das casas produtoras e dos respetivos editores que selecionam quem passa do papel para a realidade, da ideia para o comércio. Nesta nova vaga eco/comércio justo, as pequenas oficinas especializadas poderão destronar os grandes tubarões de mercado no topo da cadeia alimentar, também através desta carta de alforria que será para elas a impressão 3D.