Assunção Cristas quer que partido seja “a primeira escolha dos portugueses”

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“A organização do tempo da vida ativa com possibilidade de paragens, a conciliação do trabalho com a família, estudo do sistema de pensões e transição gradual para a reforma, favorecendo o envelhecimento ativo”. Estes são alguns dos eixos da reforma da Segurança Social, uma das quatro prioridades de Assunção Cristas na sua chegada à presidência do CDS, a candidata única e a primeira mulher a liderar os destinos dos democratas-cristãos, sucedendo a Paulo Portas.

“Uma vez em eleições, teremos muita força e, com ambição e realismo, vamos trabalhar para ser a primeira escolha dos portugueses. Estou muito otimista, sinto que vamos percorrer um grande caminho, Com o CDS, Portugal vai vencer, estamos juntos”, afirmou a nova líder No discurso, Cristas criticou a “governação irresponsável e errática” do atual executivo, reiterou a necessidade de rever o sistema de pensões, de alterar as regras para a escolha do governador do Banco de Portugal, de recusar a existência de dois países a nível salarial -o do setor publico e o do setor privado -, e a de fazer crescer a presença do CDS a nível autárquico. “Não se está para corridas de 100 metros, mas está-se para maratonas”, afirmou a nova líder dos democratas-cristãos.

Assunção Cristas no discurso de vitória (Facebook)
Assunção Cristas no discurso de vitória (Facebook)

“Podem contar comigo, como posso contar com todos”, declarou a nova presidente dos centrsitas perante uma plateia que contou com a presença de toda a família de Cristas – que receberam um especial agradecimento -, mas também com, entre outros, o ex-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, ex-presidente do CDS, Paulo Portas, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, novo chefe da Casa Civil, Frutuoso de Melo e o porta-voz do PP Espanhol.

Sobre as eleições no partido, Cristas disse-se orgulhosa por serem “por duas mulheres e dois homens a encabeça a cúpula do CDS”, referindo-se a si e a Cecília Meireles, bem como a Nuno Melo e a Adolfo Mesquita Nunes.

À chegada ao palco, Cristas foi aplaudida de pé e ao som de “Changes”, um tema alegre de Faul & Wad Ad. A nova presidente do CDS-PP optou por vestir um blazer comprido em tons de azul bebé sobre um conjunto escuro. O tema da música escolhida começa por “Baby, I don’t know/Just why I love you so/Maybe it’s just the way/That God made me this day”, o que em tradução literal significa “Bebé, Eu não sei/porque te amo tanto/Talvez tenha sido a forma/que Deus me fez neste dia”. No sábado, recorde-se, a dirigente optou por um camiseiro em tons de amarelo e um blazer azul escuro, fazendo lembrar as cores do CDS.

“É muto importante haver mulheres na política”, diz filha mais velha de Assunção Cristas

Com 42 anos, Assunção Cristas é casada com o jurista Tiago Machado da Graça e é mãe de quatro filhos: Maria do Mar, de 14 anos, José Maria, dois anos mais novo, Vicente, com dez, e Maria da Luz, com dois e já nascida durante o período em que a atual deputada era governante da pasta da Agricultura e do Mar.

Num discurso que contou com a presença da família mais nuclear, mas também a mais alargada, os filhos e o marido da nova dirigente demonstraram todo o apoio. Maria do Mar, a filha mais velha da nova líder do CDS, dizia agora perceber “que é muito relevante, que é muito importante haver mulheres na politica, para mostrar que não são só os homens que estão nesta área. É preciso igualdade de género”. A filha, lembrou também que “na moção estar a ser tratados temas muito importantes e que fazem os grandes tempos”.

Para José Maria, “a mãe está a trabalhar para ajudar o país”. “Estamos menos tempo com ela, mas se está a ajudar outras pessoas isso é importante”, acrescentou. “Se a minha mãe está feliz então devemos apoiá-la em tudo o que for preciso. Temos de fazer esses sacrifícios, mas estou pronto”, adiantou Vicente, em declarações à SIC Notícias.

“Temos de fazer esses sacrifícios, mas estou pronto”, afirmou Vicente (10 anos) de Assunção Cristas e Tiago Machado da Graça

Para o marido, Tiago Machado de Graça, talvez cheguem agora tempos mais calmos em matéria de organização familiar. “Tanto a fase da ministra, como esta acabam por ser mais fáceis do que a de deputada, porque controla mais agenda”, considera.

Consenso, mas com oposição

No discurso que fez durante a tarde de sábado, 12 de março, Assunção Cristas escolheu falar do seu lado mais intimista e familiar para explicar “o consenso” e o “diálogo” que pretende trazer para o partido. “Sou a filha do meio de cinco irmãos e, enquanto era criança e adolescente, isso por vezes causava-me problemas porque os meus pais diziam que eu me ia encostando ora aos mais velhos, ora aos mais novos consoante era mais vantajoso”, contava.

“Quero ir muito longe e acompanhada por todos”, afirmou Assunção Cristas

E prosseguiu: “A verdade é que é preciso dialogar muito, trabalhar muito, ter espírito construtivo, perceber as oportunidades e isso dava-me muito trabalho. Hoje, não há nada como ter uma família grande e perceber que é preciso muito diálogo e muito consenso”, afirmou. Num testemunho onde não faltou a citação de um provérbio angolano (país de onde é natural), Cristas vincou: “quem quer ir depressa vai sozinho, quem vai acompanhado vai longe. Eu quero ir muito longe e acompanhada por todos”.

Ainda durante esse sábado, Assunção desvalorizava os que falavam de “um congresso muito morno”, que “faltava sangue, animação, ofensas”, afirmava. Mas a nova dirigente sustentou que “lá fora as pessoas não gostam de ofensas, de sangue e que se diga mal uns dos outros. Lá fora as pessoas gostam que olhemos para o país, para esses problemas e que procuramos as melhores respostas e que o saibamos dizer com convicção.”

A verdade é que na manhã de domingo surgia uma lista concorrente ao Conselho Nacional do CDS, liderada pelo deputado Filipe Lobo D’Ávila. “Quisemos dar o nosso contributo no debate de ideias, achamos que é uma sequência natural apresentarmos uma lista, que é uma lista pela positiva para dar o nosso contributo nos órgãos do partido e para conseguirmos valer o nosso caminho”, afirmou. Aos jornalistas, Filipe Lobo d’Ávila justificava que, perante um congresso com “mais de mil congressistas, seria estranho que só houvesse uma única lista ao Conselho Nacional – o órgão principal do Parlamento do partido”. Por isso – avançou ainda – “[a nova lista] vem dar alguma vivacidade, vem dar diversidade e vem acrescentar”

No domingo de manhã, à chegada ao Pavilhão Multiusos de Gondomar, e confrontada com esta nova candidatura, Assunção Cristas falava não em oposição, mas em “sinal de acrescento, de pluralismo”.Recorde-se que a lista da nova líder conta com Nuno Melo como vice-presidente, a par de Cecília Meireles, Adolfo Mesquita Nunes e Nuno Magalhães. Nos restantes cargos, Pedro Morais Soares passa a ocupar o cargo de secretário-geral e João Almeida torna-se porta-voz. Contas feitas, Assunção Cristas viu nomeados 54 delegados, face a 16 da lista apresentada por Filipe Lobo d’Ávila.

Para os pais da nova presidente, que marcaram presença no domingo para o discurso final, este olhar familiar levou nota positiva dos pais. “Gostei muito”, afirmou a mãe da dirigente. “Somos católicos praticantes, os filhos e genros seguiram essa nossa linha. O CDS é o nosso partido”, afirmou o pai.

Sobre o novo rumo dos democratas-cristãos, a mãe de Cristas lembrou que o mesmo reflete “os ventos dos tempos” e é preciso “acompanhar a evolução, mantendo a matriz”.


Leia mais sobre Assunção Cristas e o caminho feito rumo à liderança do CDS-PP aqui e aqui.


“Um par de mãos seguras”, diz Portas

Na manhã de sábado e no discurso emocionado de despedida da liderança do partido, Paulo Portas usou uma expressão em inglês para definir a nova líder dos democratas-cristãos: “a safe pair of hands”. “Um par de mãos seguras para tratar bem de Portugal”, afirmou o líder, que esteve à frente dos destinos do partido durante 16 anos e que falava agora em “pax centrista”. Ou seja, uma paz centrista que tem dominado o partido.

Paulo Portas falou, assim, de uma “transição ordenada” na hora de entregar o partido à ex-ministra da Agricultura e do Mar e atual deputada. “Foi uma agradável surpresa: uma transição ordenada, sim, mas sem quebra de espontaneidade. Uma sucessão natural, sim, mas com exemplos magníficos de renúncia em nome do todo e de sentido de equipa pelo bem comum”, afirmou o dirigente centrista.

“Uma sucessão natural, sim, mas com exemplos magníficos de renúncia em nome do todo e de sentido de equipa pelo bem comum”, afirmou Paulo Portas, que agora deixa a liderança do partido

Na madrugada de domingo, Assunção Cristas via a sua moção”Ambição e Responsabilidade para Portugal” aprovada com 877 votos face a 11 recolhidos pelo documento “Uma Estratégia para Portugal”, apresentada por Miguel Mattos Chaves. Esta foi a única lista que resistiu perante as restantes oito que foram levadas a congresso e debatidas no Pavilhão Multiusos, em Gondomar.

“Têm de esperar, podem esperar, respostas concretas para todas as áreas que à política compete responder”, declarou a nova presidente, no seguimento daquela vitória. “É isso que nos faz afirmar como um partido grande, um partido que quer crescer e não como um partido que se contenta com uma dimensão que já é muito boa e muito relevante, mas que não é aquela que nós entendemos que o país merece”, declarou.