Petição para acabar com as peles verdadeiras já tem 92 mil assinaturas

‘Banir as peles da London Fashion Week’. Este é o nome da petição que está a correr no Reino Unido contra a utilização de pelo verdadeiro na semana de moda de Londres e que tinha, esta manhã, 92 398 assinaturas. A petição disponível no site Change refere que o evento é visto em todo o mundo como pioneiro e que por isso devia ser o primeiro a proibir o uso de peles nos desfiles. O texto apresenta ainda números alarmantes:

“Todos os anos são mortos mil milhões de coelhos e 50 milhões de outros animais, incluindo raposas, lontras, gatos, texugos, chinchilas, baleias e muitos mais.”

Os números estão em consonância com a informação de várias organizações ativistas dos direitos dos animais, entre as quais a PETA.

O Reino Unido tem uma longa história de luta contra a utilização de peles naturais, as quintas de produção de peles verdadeiras foram proibidas por lei, no ano 2000, e vários criadores de moda que desfilam na London Fashion Week têm progressivamente abandonado os casacos, as golas e os gorros de origem animal. A própria petição cita os nomes de designers que decidiram não usar peles nas propostas de moda: Armani, Stella McCartney, Calvin Klein, Tommy Hilfiger, The Kooples, Vivienne Westwood.

Ed Winters, o mentor desta petição e fundador do grupo de defesa animal Surge, em declarações ao jornal Metro.uk afirmava a semana passada que o atual quadro de consumo de peles não chega.

“Se alguém quer mesmo comprar um casaco de peles deve sempre comprar [um casaco de peles] falsas, que é a única escolha ética.”

Amigos do ambiente?

Mas será que ético quer dizer ecológico? Mark Boyle, diretor de qualidade, ambiente e bem-estar da Federação Internacional de Peles (FDI), com sede em Londres, tem uma opinião divergente, claro. Apesar de não indicar números sobre os animais mortos para a produção de uma indústria que movimenta 40 mil milhões de euros, por ano, em todo o mundo, diz, em declarações ao Delas.pt, que os dados pelos ativistas dos direitos dos animais estão muito acima da realidade e afirma que a indústria das peles verdadeiras é mais sustentável do que a das peles falsas, basicamente porque os desperdícios são reaproveitados para outras indústrias:

“Todos beneficiam da indústria das peles. Os animais utilizados são sobretudo as lontras, que são carnívoras, e comem os desperdícios das carnes para alimentação humana – patas de galinha, entranhas, etc. Depois, as partes dos animais que não usamos vão para a indústria dos fertilizantes. Não há desperdícios.”

Mas há mais dois aspetos a ter em conta, quando comparadas as vantagens e desvantagens da utilização das peles naturais. Diz o responsável da We Are Fur, o nome catita pelo qual a FDI está presente na internet:

“Gasta-se mais energia a produzir um casaco de pelo falso do que um de pelo verdadeiro. E depois, há a questão do ciclo de vida das duas peças: um casaco de pelo falso é basicamente como um saco de plástico – fica velho depressa mas não é eliminado por processo naturais, permanece na natureza. Por outro lado um casaco de pelo verdadeiro, se for bem tratado, dura uma vida, ou pode passar de geração em geração, como as joias, mas se for abandonado acaba por se desmanchar. O pelo falso é fast fashion. O verdadeiro não.”

Imagem de destaque: Desfile de Anya Hindmarch

na London Fashion Week (Neil Hall/ Reuteurs)