Como o feminismo vai fechar as pernas de Alexander Wang

Durante a madrugada desta sexta-feira, dia 15 de setembro, Alexander Wang revelou uma das novas imagens da sua campanha para este inverno. A fotografia é da autoria do famoso fotógrafo Juergen Teller e mostra a modelo Bella Hadid sentada numa plateia de pernas abertas para câmara tapando a vagina com apenas uma carteira, nem sombra de cuecas, saia ou calças, apenas umas meias de liga rendadas, um vestido de cetim que não desce abaixo da cintura e uns stilletos.

A imagem polémica já está a criar burburinho nas redes sociais sendo classificada por muitos como “nojenta”, “vulgar” e “ordinária”. Uma reação idêntica à provocada pelas imagens da campanha da Saint Laurent da estação pre-fall 2017, lançada em março deste ano. As imagens da casa de moda francesa mostravam imagens sexualizadas e vulneráveis de mulheres em que, à semelhança da imagem da Alexander Wang, o foco era a zona púbica, apesar de nessas imagens estar coberta.

Campanha de outono-inverno 2017/18 Alexander Wang

As reações e movimentos para retirar as imagens de circulação foram tantas que a marca foi obrigada a ceder, removendo a campanha acatando também a decisão a autoridade francesa para a publicidade. Na altura a associação feminista “Osez le feminisme” (Ouse o feminismo) foi uma das vozes mais fortes contra a Saint Laurent, alegando que as imagens mostram uma “hiperssexualização, conversão da mulher em objeto, posição de submissão. Simbolicamente, é muito violento”, disse a porta-voz da associação, Raphaelle Remy-Leleu.

Em relação à mais recente campanha do designer americano Alexander Wang, ainda não houve reações formais, apenas comentários nas redes sociais que levam a crer que esta poderá ser outra campanha a ser retirada pelas autoridades reguladoras da publicidade. A imagem em causa faz parte de um conjunto de nove fotografias, que incluem um retrato de seis modelos usando apenas as collants – as collants que dizem “No After Party” (“não há festa depois”, tradução livre) na lateral e que foram elogiadas depois do desfile por parecerem uma expressão do empoderamento das mulheres, mostrando, supostamente, que as elas têm poder de decisão sobre as suas vidas sexuais. Agora a imagem de Bella Hadid parece bem distante dessa mensagem: a manquim aparecer não como mulher mas como objeto sexual. Além de aparecer em revistas e cartazes, esta imagem que está a chocar opinião pública, foi ainda reproduzida numa edição limitada de objetos para festas (um copo, um saca caricas, um isqueiro, uma embalagem de mortalhas e um cinzeiro) – uma escolha de artigos que dava outro artigo, mas disso falamos noutro dia.

Não é a primeira vez que a marca americana revela uma imagem polémica e hipersexualizada. Em 2014 já o tinha feito com a imagem de Erin Wasson sentada de forma lânguida, num sofá, com uns jeans despidos até abaixo dos joelhos, e mais uma vez sem cuecas. Esta foi a primeira imagem da campanha revelada, e seguindo-se de um plano aproximado que retratava uma cena de masturbação. Na altura as reações nas redes sociais foram menos duras havendo bastantes elogios à ousadia do designer. Alexander Wang defendeu a campanha dizendo que esta não era “provocadora em termos sexuais, mas provocadora para provocar o diálogo”, e o argumento parece ter sido aceite por toda a sociedade. Hoje a conversa é outra.

Campanha Alexander Wang Jeans 2014

Com apenas três anos de distância estas imagens tiveram reações cabalmente diferentes, o que demonstra uma profunda mudança na sociedade. O feminismo nunca esteve tão na ordem do dia como hoje e é óbvio que o diálogo sobre a condição feminina está a alterar a imagem que se tem das mulheres e a traçar novos limites ao que é razoável quando estas são retratadas.

Campanha Alexander Wang Jeans 2014

Aqui a sexualidade ganha uma nova importância, por um lado a liberdade sexual é uma das bandeiras hasteadas, mas por outro é cada vez mais claro que este é um capítulo que deve ser interpretado, sobretudo visualmente sem que a exposição da mulher e do seu corpo seja vulgar, retratando-a apenas como objeto sexual. Foi este ténue limite que foi ultrapassado tanto na campanha da Saint Laurent, como agora nas imagens da Alexander Wang. Liberdade sexual e exposição sexual são coisas distintas e é cada vez mais evidente que esta diferença deve ser respeitada.


Veja também o desfile que só teve modelos de tamanhos grandes.


Margarida Brito Paes

@margaridabritopaes

@delas.pt