Canal marroquino ensina mulheres a disfarçar marcas de violência doméstica

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A estação de televisão pública marroquina, a 2M, transmitiu um tutorial que ensinava as mulheres a esconder as marcas de violência doméstica na cara. Algo que já levou o próprio canal a pedir desculpas pelo sucedido, face às críticas que recebeu sobre a rubrica, exibida dois dias antes do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher.

Lilia Mouline, jornalista responsável pelo tutorial de maquilhagem, disfarçava as partes marcadas a roxo na cara de uma mulher, para ilustrar como estas deviam proceder. “Esperamos que estes conselhos de beleza vos ajudem no vosso dia-a-dia. Depois de estarem maquilhadas, continuem com a vossa vida e vão trabalhar sem preocupações”, dizia a apresentadora do programa ‘Sabahiyat’.

Muitas foram as marroquinas que rapidamente se insurgiram contra o que viram, criando prontamente a petição “Não escondas a violência doméstica com maquilhagem”. O abaixo-assinado, que recuperou as imagens originais, removidas pela 2M, procura que o canal televisivo marroquino sofra as sanções adequadas. Para isso, colocou os contactos da Alta Autoridade das Comunicações Audiovisuais à disposição dos signatários.

No próprio dia de exibição do segmento, o canal partilhou um comunicado na página de Facebook. “A direção [do canal 2M] entende que esta rubrica é completamente inadequada e comporta um erro de apreciação editorial, tendo em conta a sensibilidade e a gravidade da questão da violência contra as mulheres”, podia ler-se no primeiro ponto evocado no retratamento da estação pública. O pedido de desculpas continuou: “Esta abordagem está em total contradição com a linha editorial da cadeia, com a carta [de valores] da 2M, de valorização da imagem da mulher e, principalmente, com o compromisso, de 27 anos, da 2M na defesa dos direitos da mulher.”

Por fim, o canal televisivo declarou que fará tudo o que puder para evitar que situações destas aconteçam no futuro. “A cadeia compromete-se a tomar as medidas necessárias para com as pessoas responsáveis por este erro e reforçar as ferramentas de controlo e de enquadramento sobre este assunto. A 2M recorda o seu empenho em prol da defesa dos direitos da mulher que é e que permanecerá um dos valores primordiais da cadeia.”