Carla Gonçalves, a nutricionista por trás do medidor de sal portátil

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Carla Gonçalves é a investigadora que está a desenvolver o medidor de sal portátil (Foto: DR)

Tem 27 anos e quer revolucionar o consumo excessivo de sal em Portugal. O medidor de sal portátil criado pela nutricionista Carla Gonçalves, com uma equipa de engenharia da Universidade do Porto, ainda está em fase de testes, mas a investigadora da Faculdade de Ciências de Nutrição e Alimentação, natural de Barcelos, acredita que o aparelho, muito rapidamente, chegará a casa dos portugueses. Os preços? Esses ainda não estão estabelecidos.

Há quanto tempo começou a desenvolver o projeto do medidor de sal portátil?

O projeto começou há dois anos, na Universidade do Porto e na Faculdade de Nutrição. Foi aqui que fiz o doutoramento e, com ele, nasceu este equipamento. A equipa de engenharia que auxiliou na elaboração deste medidor também é da Universidade do Porto. Nesta fase, a construção do protótipo está concluída e patenteada.

Protótipo de medidor de sal (Foto: DR)
Protótipo de medidor de sal (Foto: DR)

Mas já entrou na fase de fabrico?

Neste momento estamos em testes de validação, com mais equipamentos presentes em mais instituições. Primeiro, vamos avançar para esta fase e, só depois, seguiremos para o mercado.

Que reações tem recebido em torno do medidor?

A nível nacional temos recebido um feedback excelente por parte de todas as entidades, quer sejam de saúde, quer sejam privadas. Tem havido muita curiosidade e até necessidade deste tipo de equipamento. Nós queremos que o medidor tenha utilidade a nível internacional e vemos enquadramento neste sentido.

Mas já há passos concretos dados neste momento?

Há alguns contactos informais, mas nada que possa avançar seguramente para já.

 

“A nível nacional temos recebido um feedback excelente por parte de todas as entidades, quer sejam de saúde, quer sejam privadas”, afirma a investigadora Carla Gonçalves

Como é que a investigadora despertou para esta questão do sal?

Como nutricionista, chego a este medidor pela necessidade de encontrar soluções para reduzir o consumo de sal, que sabemos que é claramente excessivo. A Organização Mundial de Saúde recomenda o consumo inferior a 5 gramas por dia e nós, em Portugal, temos um consumo a rondar os 10,7 gramas diários, na população adulta. E acabamos por registar estes valores desde a infância porque as crianças começam logo a ter acesso à comida dos adultos e a apanhar com aquelas doses excessivas de sal. O impacto que isso vai ter a nível cardiovascular é muito alto e é importante sublinhar que a principal causa de morte são as doenças cardiovasculares. Portanto, todas estas condições de ambiente alimentar levaram-me procurar ferramentas que pudessem ajudar a reduzir o consumo de sal. E este medidor portátil é uma delas, permitindo queimar etapas que até hoje existiam entre as medições e a espera pelos resultados das análises.

“Não podemos falar de valores [preço do aparelho]. Para já estamos a falar de uma fase de desenvolvimento, ainda não estamos na etapa da comercialização”, diz a investigadora da Faculdade de Nutrição, do Porto

E como antecipa a utilização de um mediador de sal a nível particular? Pedro Graça, diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável dizia que se hoje “analisamos uma rolha para avaliar a qualidade do vinho, porque não haver um medidor portátil que avalie o sal na sopa”? Crê que as pessoas venham a andar com um aparelho na mala, meçam o nível do sal da sopa que comem num restaurante e, caso esteja em excesso, mandem a sopa para trás?

Nesta fase, este medidor está pensado para uma escala macro, ou seja, para restaurantes, para entidades que fiscalizem a indústria alimentar, para autoridades que monitorizem hospitais ou as cantinas da escola. Obviamente, tudo, hoje em dia, evolui muito rapidamente e caminhar deste protótipo até ao consumidor final, até casa, creio que será um passo muito rápido.

E já há um preço pensado para a comercialização do aparelho?

Não podemos falar de valores. Para já estamos a falar de uma fase de desenvolvimento, ainda não estamos na etapa da comercialização.

E agora, como investigadora, que caminho vai seguir depois de ter trabalhado neste protótipo?

Este projeto vai continuar comigo, seguindo para a fase de colocar o medidor de sal em validação, em instituições.