Carla Salsinha: o futuro está no comércio de proximidade

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Carla Salsinha é aos 46 anos a presidente da União de Associações de Comércio e Serviços (UACS). Em 145 anos de existência da instituição ela é a primeira mulher a comandar-lhe os destinos. Licenciada em Economia, com um MBA em internacionalização de empresas, Pós-graduação em fiscalidade empresarial, gestora de empresa do setor do comércio. Esta terça-feira começa a Conferência Internacional Desafios do Comércio em Portugal e é por isso que falamos com ela.

É a primeira mulher Presidente da UACS. Como é que chegou aqui?

A minha chegada a Presidente da UACS foi natural, depois de assumir a Presidência de uma Associação Integrada na UACS, a Associação Comercial de Moda, e de desenvolver um conjunto de iniciativas com o objetivo de promover o setor e a atividade. O convite para me candidatar foi algo que surgiu de uma forma natural e unânime numa estrutura maioritariamente masculina, e em que o número de mulheres em funções nos múltiplos cargos era reduzidíssimo.

Por que razão se candidatou a este lugar? O que é que está a fazer neste cargo?

Achei um desafio interessantíssimo e que me encheu de entusiasmo e de vontade de fazer inúmeras coisas pelo nosso setor. Mas desafio com uma elevada responsabilidade, pois estava a assumir a Direção da estrutura de maior referência na Região de Lisboa e Vale do Tejo, mentora da Criação da Escola do Comércio, do Centro de Arbitragem de Lisboa e que desde a sua fundação esteve presente nos momentos mais emblemáticos e significativos da nossa cidade.

O que é que exatamente a UACS, qual é o objeto social?

A UACS é a maior estrutura associativa representativa do comércio de proximidade, constituída por 14 associações setoriais que tem por missão a defesa dos empresários do setor. Foi criada em 1870 e o setor do Comércio e Serviços, que a UACS representa, tem um forte peso como gerador de negócios do País, quer como grande empregador, quer no contributo para o PIB Nacional. Novas marcas, novos conceitos, renovação de lojas, empreendedorismo é o que se verifica num setor que sabe renovar-se, mas mantendo a sua tradição, não perdendo o seu carisma, não deixando de ser o Comércio de Proximidade.

Começa esta terça-feira Conferência Internacional os Desafios do Comércio em Portugal, em particular o comércio de proximidade? Que razões há para fazer esta conferência?

Esta conferência termina a comemoração dos 145 anos da instituição, a cerimónia de arranque foi um evento interno, institucional e retrospetivo da nossa história, este tem como objetivo terminar a comemoração virados para o exterior, a falar sobre o futuro, o caminho a percorrer e possibilitar entre as várias experiências e sensibilidades representadas pelos diversos oradores aquilo em que podemos melhorar, dar o salto em frente e acompanhar a evolução do mercado e das expectativas do consumidor.

Como é que vê a fiscalidade atual aplicada ao comércio e serviços?

O nosso setor está sobrecarregado fiscalmente. Temos de ter em linha de conta que apesar de existirem várias empresas com múltiplas lojas, o representativo do setor são lojas individuais, micro e pequenas empresas que por si só têm dificuldade em fazer face a toda a burocracia e ao elevado número de responsabilidades fiscais. É urgente a simplificação dos procedimentos, a eliminação de toda a burocracia, a eliminação da carga fiscal ou pensar numa reforma fiscal que saiba refletir a dimensão das estruturas que representamos.

Como é que vê o futuro deste setor? Quem é que vai vingar?

Acredito que o futuro está nas empresas do nosso setor. Hoje o consumidor sabe diferenciar os seus momentos de compra e os preços e a forma como pretende adquirir. Um dos nossos grandes desafios é apresentar qualidade quer em termos dos produtos, quer em termos do atendimento, quer os próprios espaços e ir de encontro a essa separação de consumo. Hoje, mais de que um ato de compra, temos de saber oferecer ao consumidor experiências, sensações, temos de transmitir emoções.

Que propostas tem o setor para o futuro do País?

A grande mais-valia do comércio de proximidade, como o nome indica é a proximidade com o cliente. Conhecemos o cliente, as pessoas, melhor que ninguém. Isto é algo que as grandes empresas gostariam de conseguir ter e tanto investem para conseguir chegar a níveis de personalização que não chegam próximo dos nossos. Esta é uma tendência que tem sido cíclica e enquanto empresas como a Amazon têm a necessidade de criar pontos físicos de comércio de proximidade, o nosso setor tem a necessidade de se transformar digitalmente, chegar ao multicanal, a novas plataformas e renovar-se, sem perder o que desde sempre conquistou: a proximidade. A juntar a isto, o crescente turismo em Portugal e em especial Lisboa tem um potencial enorme, porque uma grande tendência é vender-se o pacote por inteiro, porque a cidade e o país são únicos porque o próprio comércio também o é, temos um comércio diferenciador e ele próprio pode ser potenciador de turismo.