Casos de tuberculose voltam a diminuir em Portugal

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Portugal registou 18 novos casos de tuberculose por 100 mil habitantes em 2016, ano em que 18% das ocorrências foram em nascidos fora do país, um aumento que levou as autoridades de saúde a desenvolver estratégias com outros organismos.

Segundo dados provisórios que serão hoje divulgados pela Direção-Geral da Saúde (DGS), no Dia Mundial da Tuberculose, a taxa de incidência (novos casos) de tuberculose em Portugal situou-se em 18 por 100 mil habitantes em 2016.

Através do Programa Nacional para a Infeção VIH, SIDA e Tuberculose, a DGS indica que cerca de 18% dos casos de tuberculose notificados em 2016 ocorreram em doentes nascidos fora do país.

“O aumento desta proporção nos últimos anos levou o Programa Nacional a desenvolver estratégias em conjunto com o Alto Comissariado para as Migrações, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e ONG no sentido de reduzir este valor”, lê-se na nota da DGS.

Em 2015, último ano com dados definitivos conhecidos, “o teste VIH foi realizado em 88% dos doentes com tuberculose, dos quais 12% foram positivos”.

“Portugal continua a ter uma das mais altas taxas de coinfecção tuberculose/VIH da Europa Ocidental que motiva o Programa a delinear estratégias que visem o rastreio da tuberculose em população VIH positiva e a identificar as barreiras ao tratamento preventivo nesta população”, prossegue a nota da DGS.

A autoridade de saúde destaca “a redução dos casos de tuberculose entre a população prisional e a população consumidora de drogas, traduzindo já o trabalho efetuado nestes grupos”.

Em 13 de outubro do ano passado, o diretor-geral da Saúde, Francisco George, esclarecia que a taxa de incidência de tuberculose em Portugal, em 2015, era de 19,2 casos por cem mil habitantes.

Vacina só para grupos de risco

A prevenção da doença, que passa pela administração da vacina BCG, passou, este ano, a ser ministrada apenas a grupos de população considerados de risco, tendo deixado de ser dada universalmente à nascença.

Esta é uma das medidas que consta do Plano Nacional de Vacinação, que entrou em vigor a 1 de janeiro de 2017, e que vinha já a ser estudada desde 2013.


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Mediante a nova diretiva, só as crianças que pertençam a famílias com risco acrescido perante a doença ou que residam em determinadas zonas em que se verifique a incidência de uma taxa da doença superior à do país (como, por exemplo, nos distritos de Lisboa e Porto) é que são convocadas, pelos centros de saúde, a estarem presentes para serem vacinadas.

Pobreza, desemprego, álcool e tabaco potenciam doença

A investigadora Raquel Duarte afirmou, esta semana, no Porto, que o álcool e o tabaco estão associados ao aumento da incidência da tuberculose, a um pior resultado do tratamento e um risco maior de recidiva após o seu término.

No seminário “Tuberculose, Álcool e Tabaco: ligações perigosas”, organizado pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), a diretora da Unidade de Gestão Integrada do Tórax e Circulação do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia, mas também coordenadora do Centro de Referência Nacional para a Tuberculose Multirresistente e assessora do Diretor do Programa Nacional para a TB/VIH para a área da tuberculose, vincou que a doença tem vindo a diminuir ao longo do tempo, mas de forma lenta, situando-se abaixo dos 20 casos por 100 mil habitantes, e longe dos objetivos definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

“A tuberculose tem vindo a diminuir, mas não tem vindo a diminuir ao ritmo que nós gostaríamos ou que queríamos de forma a atingir os objetivos da OMS”, sublinhou a responsável pelo encontro.

Segundo explicou, “as pessoas que fumam têm maior risco de estar doentes, têm maior risco de o tratamento correr pior e, uma notícia ainda pior, é que o tabagismo passivo também coloca as pessoas em risco de tuberculose, particularmente nas crianças”.

“O que é preciso é que, além de sensibilizar a população, haja uma abordagem integrada da tuberculose, também prestando atenção a estes comportamentos de risco, como o álcool e o tabaco”, sublinhou Duarte, também docente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

Sendo uma doença causada por um agente conhecido, que é possível prevenir e para a qual existe tratamento e cura, os investigadores questionam-se porque é que a tuberculose ainda existe. Defende por isso que é necessário atuar “na co-infeção VIH, na resistência e na boa adesão ao tratamento”.

“Mas temos de atuar também, e cada vez mais se dá importância a isso, [quanto] aos determinantes sociais, à pobreza, ao desemprego, à forma como as pessoas vivem e aos comportamentos de risco, como o consumo de droga, de álcool e tabaco”, acrescentou.

A investigadora considera que “só uma abordagem integrada é que permitirá maior eficácia na redução da tuberculose”.

“A tuberculose é curável. O que é preciso é que a pessoa seja diagnosticada atempadamente, de modo a não ficar com sequelas, e faça o tratamento adequado, o tempo todo, para não ter resistências. Porque se houver resistências estamos a perder fármacos e, assim, a ter algumas complicações em tratar a tuberculose”, frisou.

Tuberculose multiresistente conduz a retrocesso

A doença, numa forma resistente a vários medicamentos, está a aumentar no mundo, revertendo décadas de progresso, alertaram investigadores sul-africanos num novo estudo.

A investigação, publicada na revista especializada britânica Lancet, vem dizer que há novos antibióticos a entrar no mercado, mas que são precisos testes de diagnóstico eficazes para poder orientar o tratamento em cada caso.

Caso contrário, afirmam, as novas drogas serão inúteis para travar o aumento das estirpes de tuberculose com grande resistência a vários tipos de medicamentos.

A tuberculose é a doença infecciosa que mata mais pessoas no mundo anualmente, com números da ordem de 1,8 milhões em 2015, 60% das quais concentradas em seis países: Índia, Indonésia, China, Nigéria, Paquistão e África do Sul.

Dos casos da doença registados, um em cada cinco resistia a pelo menos um medicamento dos mais usados contra a tuberculose e 5% apresentava resistência a outros tipo de fármacos usados no tratamento.

Esta dificuldade de tratar a doença, já de si difícil e prolongada, traduz-se em mortalidade mais alta, risco de contágio para o pessoal de saúde, tratamentos caríssimos e um problema de saúde pública.

Os antibióticos revolucionaram na década de 1950 o tratamento da tuberculose mas o seu uso em massa levou a um aumento de bactérias que lhes resistem, com mutações genéticas provocadas por tratamentos mal feitos.

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