Da Síria à Alemanha em cadeira de rodas

Nujeen Mustafa
Nujeen Mustafa (terceira a contar da esquerda) com a irmã, Nasrine, e outros dois familiares. Fotografia do Twitter de Nujeen Mustafa

Nujeen Mustafa tem 16 anos, paralisia cerebral e é a mais nova de nove irmãos. A doença faz com que use diariamente a uma cadeira de rodas. Passou a maior parte da vida fechada no quinto andar de um apartamento em Alepo, na Síria, por não poder andar. Nunca frequentou a escola e tinha poucos amigos. As horas passadas em frente à televisão permitiram-lhe aprender inglês, uma ferramenta fundamental para ajudar a família quando fugiu da guerra na Síria em direção à Europa.

Por saber falar outra língua conseguiu negociar com os vendedores estrangeiros a compra do pequeno barco em que ela e a família fugiram do país em direção à Europa. No programa Brain Games, da National Geographic, aprendeu a utilizar um colete salva-vidas corretamente e com a ajuda do YouTube ensinou o tio a conduzir o bote que lhes custou 1 300 euros por pessoa.


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“Estava feliz por ser útil, pude praticar o inglês que tinha aprendido nos últimos três anos”, explicou Nujeen Mustafa ao El País.

Apesar da viagem ser arriscada, principalmente por a adolescente precisar de viajar numa cadeira de rodas que adicionou peso extra ao bote, Nujeen estava muito entusiasmada com a aventura. “Na minha cadeira, mais alta do que os outros, sentia-me como o Poseidon, o deus do mar”, escreveu a jovem síria na sua autobiografia, Nujeen.

Chegaram são e salvos à ilha de Lesbos, na Grécia, mas queriam ir até à Alemanha. Para lá chegarem, a adolescente foi empurrada na sua cadeira de rodas por uma das irmãs, Nasrine, de 27 anos e estudante de física. Até alcançarem o destino percorreram a Grécia, Macedónia, Sérvia, Croácia, Eslovénia e Áustria.

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Nujeen Mustafa, na cadeira de rodas, empurrada pela irmã, Nasrine

Atualmente vive com a irmã e quatro sobrinhas num apartamento na Alemanha, longe dos pais, que estão na Turquia. E adora a nova vida. Não perde programas de cultura geral, já tem alguns amigos – muitos deles virtuais, que conheceu no Twitter e Facebook –, escreveu um livro com a ajuda de Christina Lamb, biógrafa de Malala, a adolescente afegã que venceu um Prémio Nobel da Paz, e quer ser astronauta ou escritora profissional.

“O plano A é estudar física para ser astronauta. O plano B é ser uma escritora profissional. Os alemães têm sempre um plano B”, sublinha a adolescente que quer “ser um bom modelo para os refugiados”.

Só não pode deixar de fazer favores à sua irmã Nasrine, com quem está em dívida para o resto da vida. “Quando me pedir algo e eu não o fizer diz-me: ‘Hey, eu empurrei-te pela Europa'”, brinca.