David Moreno: “Foi preciso criar óculos que se identificassem com o mundo feminino”

Chama-se Hawkers e em apenas três anos já vendeu mais de 4 milhões de óculos de sol com apenas quatro modelos. A marca espanhola, que nasceu nas redes sociais e por lá tem crescido, conta já com mais de 5 milhões de fãs no Facebook, 500 mil no Instagram e 200 mil no Twitter.

Com uma nova coleção, a marca veio a Portugal, no início de julho, dar a conhecer os 30 modelos que já se encontram disponíveis no site. O Delas.pt esteve à conversa com o co-fundador e diretor criativo, David Moreno, que nos revelou que a equipa da Hawkers gosta, particularmente, de produzir modelos femininos e que a marca está prestes a abrir uma loja física.

Começaram com apenas quatro modelos. Agora apresentam uma coleção com 30. Porquê?

Desde que começámos vendemos mais de quatro milhões de unidades, isto com apenas quatro modelos diferentes. É um número muito importante, porque nunca antes se tinham vendido óculos de sol online. As pessoas não compravam óculos de sol pela internet e, por isso, nós precisámos reduzir o gosto cognitivo, isto é, fazer com que não fosse muito difícil tomar uma decisão e adquirir o produto. Porque se for difícil acabamos por não comprar. Para contornar essa situação optámos por criar estilos reconhecíveis com os quais as pessoas se identificassem. Começámos por nos focar em modelos que haviam sido vendidos durante muito tempo, como o modelo Frogskin do qual fizemos uma reinterpretação para a nossa marca. Agora passámos a ter 30 estilos diferentes.

E o que é que podemos encontrar entre estes 30 estilos?

Apresentamos óculos de sol que são muito mais de verão do que de inverno, mas depois também temos um estilo desportivo, com modelos para a neve ou a prática de ciclismo, por exemplo. É uma coleção intemporal, mas completa, que se pode usar todo o ano e com estilos que podem ser utilizados em várias alturas.

Esta atual mistura de estilos numa mesma coleção faz com que a Hawkers não siga um determinado estilo. É propositado?

A Hawkers é uma marca que nós consideramos líquida, ou seja, que se pode adaptar e que podemos mudar ao longo dos tempos. Não queremos ser uma marca estanque, que fica presa a um modelo. Não queremos que digam que Hawkers é apenas isto. Por isso, tanto pode ser retro num momento, como, num outro, já pode ser futurista. Creio que o nosso público, a nova geração a que nos dirigimos, é uma mistura de estilos e nós queremos ser assim.

E a inspiração. De onde veio a inspiração para estes 30 novos modelos?

Surgiu de uma espécie de homenagem a grandes nomes da moda responsáveis por marcas de luxo. O objetivo é tornar acessível os estilos que são tendência e que se encontram na moda sem ter que se gastar muito dinheiro, basicamente sem ter que se entrar em banca rota (risos). Temos também uma clara inspiração em Los Angeles, porque todos os influencers de moda estão lá e, por isso, nós queremos estar lá. Até porque o que é hot e trendry em L.A. é-o em todo o lado.

Antes de termos 30 modelos à escolha, os quatro existentes eram unissexo. Quem sempre foi o público mais fiel: mulheres ou homens?

Oh. Podemos dizer que está muito equilibrado. Por exemplo, temos a coleção “For Her” (Para ela), mas há muitos rapazes que perguntam: “Porque não?”. E a verdade é que se um rapaz gosta do modelo, porque é que não o pode levar?

Se os modelos unissexo foram bem recebidos e tiveram bastante saída, porque se apostou na criação de uma linha dedicada às mulheres?

As decisões sobre as coleções são tomadas tendo em conta os dados que obtemos, mas também tendo em conta o lado profissional. Enquanto equipa, nós gostamos bastante da moda feminina, digamos que é um trabalho que gostamos de desenvolver e que nos dá a possibilidade de criar mais variedade de modelos, mais bonitos e diferentes. Além disso, também pensámos no nosso público quando criámos esta coleção (a “For Her”). Tínhamos muitas mulheres que gostavam da marca, mas que não tinham comprado porque não se identificavam com os modelos. Isto acontecia porque os nossos óculos de sol não tinham um toque mais feminino, derivado ao facto de serem modelos unissexo. Assim, foi preciso criar óculos que se diferenciassem e que se identificassem com o mundo feminino.

Acha que os óculos destinados ao sexo feminino podem de facto ser um acessório de moda e mudar por completo o look de uma mulher?

Claro, totalmente. Eu creio que o melhor público é o feminino. Os óculos de sol são um excelente complemento de moda. Podemos trocá-lo e combiná-lo com diversos looks. Além disso, são um acessório durável, pois uns óculos estilo retro vão ser sempre retros e voltaram a estar na moda.

Sejam modelos unissexo ou sejam mais femininos ou mais masculinos, as lentes espelhadas e coloridas são uma opção em todos os modelos da Hawkers. Podemos ver esta aposta como uma imagem da marca ou trata-se simplesmente de uma tendência?

Nós não queremos tanto seguir a moda, mas sim criá-la. Nós reunimo-nos, falamos e pensamos: o que vamos e como vamos fazer? O mundo está cheio de notícias tristes, parece que tudo vai mal e na comunicação social só vemos desgraças. O nosso recurso à cor deve-se ao facto de ela ter poder e conseguir mudar estados de espírito. Pode não parecer, mas ajuda. Existem cores que nos deixam mais alegres e bastante felizes e é isso que pretendemos.

Para lá da moda, os óculos de sol da Hawkers também protegem os nossos olhos dos raios solares?

A proteção dos olhos é muito importante para nós e não queremos prejudicar ninguém. Por isso, embora sejam óculos sobretudo estéticos e com níveis de proteção mais baixa, eles protegem. O seu nível de proteção tem a ver com o nível de opacidade da lente, isto é, quanto mais escura for, mais protege. Mas, de facto, não são uns óculos cuja finalidade seja a proteção máxima dos olhos.

E quanto aos materiais, quais são os utilizados?

Nós trabalhamos com os melhores materiais da indústria óptica, os premium. As lentes são de nylon, as armações em aço inoxidável e as de massa em acetato. Também as plaquetas, que ajudam a suportar os óculos na cana do nariz, são hipoalergénicas e estão pensadas para serem leves e não deixarem marca. É muito importante ter atenção aos materiais usados, porque existem dois tipos de qualidade: a qualidade percebida, onde os clientes que não sabem nada de materiais acham que o material utilizado é bom, mesmo sem saberem qual, e depois há a qualidade real. Mas nem sempre elas coincidem, porque um cliente pode achar que é bom e não ser. Nós trabalhamos apenas com material de boa qualidade, independentemente do cliente perceber isso ou não. Ao longo do tempo queremos fazer com que o cliente aprenda a diferenciar os produtos bons, para que perceba quando compensa pagar mais ou não. Para isso é preciso que também quem compra tenha atenção e perceba se o material provoca determinadas reações na pele, como alergias, irritação ou transpiração.

Então a Hawkers consegue produzir óculos de boa qualidade, com garantia e a preços bastante acessíveis. Como isto é possível?

Existem grandes empresas que têm vendido óculos de sol durante anos e que se tornaram players neste mercado, sendo eles a definirem os preços. Preços altos, porque eram apenas essas marcas a vender. O cliente era assim obrigado a comprar o produto àquele preço. O que fizemos foi pensar como o consumido comum: “Duzentos euros? Tanto por uns óculos?”, e logo surgia: “O material disto não é assim tão caro, porque estão a vender a este preço?”. Eu entendo que ali há luxo e sempre vai haver, mas acredito que não é incompatível ter algo de marca a um preço mais baixo. Assim, detetámos uma falha muito grande no mercado: apenas existiam disponíveis modelos de marcas de luxo ou então modelos quase iguais e mais baratos, mas sem qualquer garantia. A nosso ver faltava uma marca forte, acessível e que desse garantias. Ter marca é importante, porque para mim a marca carrega valores e dá segurança. Significa que se tem orgulho em usar aquela peça.

A marca traz assim uma nova forma de consumir óculos de sol no mercado?

Sim, penso que mudámos a maneira como se consumem os óculos de sol. Porquê gastar 300 ou 200 euros por um par de óculos? A Hawkers permite-nos ter muitos modelos. Existem marcas com muita diversidade, mas as pessoas não podem comprar tantos óculos de sol porque são caros. Esta é também a riqueza da nossa nova coleção. Ela permite que toda a gente possa ter cinco modelos diferentes, se quiser, para combinar com vários tipos de roupa e / ou ocasiões. O que nós queremos é que este acessório chegue a toda a gente, permitindo que todos possam usar coisas distintas sem um custo alto. Vários estilos, várias cores. Queremos democratizar um pouco os óculos de sol.

Além de uma nova forma de consumo, a Hawkers distingue-se por ter nascido e crescido nas redes sociais. Foi premeditado?

O primeiro objetivo era vender através das redes sociais, para estarmos perto dos clientes. Comunicarmos e falarmos muito com eles, mas de uma forma mais amigável e não de modo intrusivo. Nascemos em dezembro de 2013, em Espanha, e rapidamente começaram a chegar pedidos de público de outros sítios. Quando vimos que os dados eram significativos, decidimos ter a web adaptada ao comércio online com países como Portugal, França, Itália e Reino Unido. A Portugal chegámos logo em 2014 e atualmente é o quinto país com mais clientes.

Visto que continuam a fazer sucesso no mundo virtual, é aí que vão continuar ou pretendem vir a ter um espaço físico?

Vamos abrir um aloja física sim. A primeira loja será em Madrid e estamos a projetar uma também para Roma. Por agora é só. Queremos começar devagar, com um espaço ligeiro, com apenas algumas coisas em loja para irmos testando e vendo como corre.

Com esses espaços físicos há possibilidade de a amizade e proximidade online, já criada através das redes sociais e tão presente no ADN da marca, se perder?

Eu creio que deve haver uma combinação entre o on e off. É essencial a proximidade com o cliente, assim como também a experiência com a marca. É importante poder ver os modelos, as imagens, os vídeos online, mas as pessoas são físicas. Tem de haver uma combinação para quando o cliente quiser ter uma experiência física poder ir a uma loja e tê-la, assim como quando quiser adquirir online também o poder fazer.

 


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