Preservativos: portugueses com pouco sexo?

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O que é feito do preservativo, de que tanto se falou no auge da Sida? Pois parece que está… um pouco esquecido. Mesmo com o surto do vírus Zika e a possibilidade de contágio por via sexual, a verdade é que o fim da mortalidade ligada ao HIV-Sida fez com que as gerações mais novas ficassem mais despreocupadas e deixassem de ter o hábito da camisinha. Hoje é o Dia Internacional do Preservativo, segunda, 13, e as notícias não são boas: doenças como a gonorreia e a sífilis estão a aumentar, sobretudo entre os mais novos.

Os portugueses usam menos três vezes preservativos do que os espanhóis, por exemplo. Porque têm menos relações sexuais? Não é isso que dizem os dados da sexualidade. É porque usam menos a camisinha. E isso, como já sabemos, é perigoso. “Não acredito que os portugueses tenham poucas relações sexuais, acredito é que não estejam a usar preservativos, talvez isso explique, então, o aumento de doenças sexualmente transmissíveis”, diz a educadora sexual para adultos Carmo Gê Pereira.

Ricardo Fernandes, diretor executivo Grupo de Ativistas em Tratamentos (GAT), admitiu, em entrevista à SIC Notícias, que “o uso do preservativo em Portugal continua abaixo do necessário, para lá de, globalmente, não estar a ser distribuído com a mesma frequência às populações que precisam dele”. O responsável do GAT explica que a educação sexual está a deixar muitas falhas. “A informação junto das populações de risco são importantes, não existem quase campanhas nenhumas. É necessário haver um plano nacional para a distribuição deste material para que possa chegar a populações como os jovens, para que haja distribuição nas escolas”.

Preservativos valem cerca de 13 milhões de euros em Portugal

Os valores do negócio real estão trancados a sete chaves e as principais marcas preferem não revelar dados sobre este setor do mercado que está presente em supermercados e hipermercados, farmácias e parafarmácias. De acordo com o que foi possível apurar junto de fontes do setor, terão sido comercializados cerca de 13 milhões de preservativos em 2014, rondando um volume de negócio em torno dos 13 a 15 milhões de euros. Estes dados indicam uma quebra: a Control, marca líder no mercado português, confirma que “fechou o ano de 2015 com um crescimento significativo, consolidando a posição num mercado que vinha em queda quer em valor, quer em número de unidades”. Não adianta, porém, explicações para esta flutuação no consumo.

De fora, explica quem conhece o setor, está a contabilização de todos os preservativos masculinos que são oferecidos pelas empresas em grandes eventos. Só a Direção Geral de Saúde reportou a entrega efetiva e gratuita de 3,8 milhões de unidades, em 2014. Um acréscimo de mais de 730 mil face a 2013, mas que revela ser pouco mais de metade face aos dados de 2010.

Há outros dados que podem ter alterado as contas: a emigração, a saída de muitos portugueses com a crise, em particular de jovens e adultos, parece coincidir no tempo com a quebra de procura do produto. E pode haver boas notícias: “agora a procura parece estar a recuperar ligeiramente” diz uma fonte do setor.

Os outros preservativos

De fora destas contas ficam os preservativos femininos, ainda pouco usados. “A disponibilização não é feita de forma comercial, não estão disponíveis nos principais canais de venda/acesso uma vez que as unidades consumidas são extremamente baixas. Estima-se que 99,99% do mercado corresponda a preservativos masculinos”, afirma o responsável de produto da Control. A DGS, ao abrigo do Programa de Distribuição Gratuita, entregou, em 2014, perto de 255 mil unidades de preservativos femininos. Ou seja, mais do dobro do ano anterior.


Carmo Gê Pereira diz especialista em sexualidade afirma que é muito importante alargar horizontes e dar a conhecer outras formas de proteção de barreira, menos convencionais, mas que protegem igualmente das doenças sexualmente transmissíveis. “Os preservativos com aplicador são já uma realidade quer para as grandes marcas, quer na pequena distribuição. Mas há mais novidades no mercado que pretendem apimentar a relação e aumentar a proteção. Com uma loja online de produtos que não são fáceis encontrar em Portugal (muitos deles vêm de fora da Europa), Carmo Gê Pereira fala de Dams Sheer Glyde, lenços de látex que constituem uma barreira para o uso durante o sexo oral, e de luvas de latex ou nitrilo, que diminuem o risco de infeção por sexo manual.


Vantagens e desvantagens dos vários métodos contracetivos


Para lá dos produtos disponíveis, não faltam dicas para facilitar o uso. “O uso de lubrificantes pode ser uma estratégia para combater o desconforto”, lembra Carmo Gê Pereira, sem esquecer.

Informação, distribuição e… pornografia podem mudar comportamentos

Carmo Gê Pereira crê que a mudança tem de ser feita em vários planos.”Tem que haver uma comunicação mais assertiva das marcas, mais positiva, não tanto associado ao medo, mas mais ao prazer”, afirma, lembrando que já há preservativos que recorrem “a uma tecnologia em que o material também vibra”. “Ainda há pouco tempo o GAT publicou um vídeo francês muito engraçado onde se explicava que o preservativo feminino podia ser usado no sexo anal”, acrescenta.

Mas para esta educadora sexual “é preciso falar da questão das larguras nominais. Já há no mercado preservativos com diferentes larguras, é preciso descobrir quais os mais indicados para cada um”, refere, lembrado também a questão dos materiais também já não se coloca porque já existe à venda contracetivos sem látex, mas de poliuretano.

“Temos uma geração tremenda de raparigas e mulheres que estão a tomar a pílula e que são obrigadas a viver com efeitos secundários muito pesados, muitas delas com falta de libido, quando podiam usar outro tipo de barreiras de proteção”, afirma Gê Pereira

 


Esteja atento aos novos jogos sexuais entre jovens


A educadora sexual diz que a pornografia pode desempenhar um papel importante – “o uso do preservativo devia ser generalizado neste segmento”- e pede um discurso mais natural em torno dos produtos que já existem no mercado.