Dilma lembra políticas a favor da mulher e fala de “golpe social” no Brasil

Dilma Rousseff em Lisboa
Lisboa, 14/3/2017 - Dilma Rousseff, ex-Presidente do Brasil em conferência de imprensa na Fundação Saramago. Vem a Portugal a convite do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, da Fundação José Saramago e da Casa do Brasil de Lisboa para inaugurar o Ciclo de Conferências do Trindade com uma conferência intitulada «Neoliberalismo, desigualdade, democracia sob ataque». (Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)

A misoginia não foi a razão da destituição de Dilma Rousseff do cargo de Presidente do Brasil, mas foi “um dos ingredientes” no processo do seu afastamento do cargo.

A análise é feita pela própria ex-governante, que partilhou a ideia num encontro com jornalistas portugueses, realizado esta terça-feira, 14 de março, na Fundação José Saramago, em Lisboa. A sessão antecede a conferência que dá na quarta-feira, às 18h30, no Teatro da Trindade, sobre “Neoliberalismo, Desigualdade, Democracia sob Ataque”.

(Clique nas imagens, em baixo, para ouvir as declarações de Dilma Rousseff)

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Dilma Rousseff acusou aqueles que promoveram o processo de impeachment de construírem uma crise política sobre a crise económica que atingiu o país e de utilizarem a desqualificação da primeira presidente mulher do país como um instrumento para alcançar esse objetivo, construindo uma linguagem de preconceito em relação à sua condição feminina.

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A antiga presidente brasileira voltou a insistir que a sua destituição foi um “golpe parlamentar”, na sequência de quatro vitórias eleitorais do PT e com o objetivo de criar um “golpe social” e de introduzir um “programa de cortes eminentemente neoliberal”. A ex-governante dá como exemplo o congelamento, por 20 anos, na despesa em áreas como a Saúde ou a Educação, uma medida que, diz, constitui “um crime contra os direitos sociais e económicos dos brasileiros, sob a aparência de uma política fiscal austera” e é antidemocrática, por abranger cinco futuros mandatos presidenciais.

Em relação às políticas sociais levadas a cabo pelo seu governo e pelo do seu antecessor, Lula da Silva, salienta que muitas tiveram como alvo as mulheres. Entre elas, destaca as que visaram as famílias de baixos rendimentos, e nas quais a mulher é muitas vezes a cabeça de casal e o principal sustento do agregado.

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Outras das medidas criadas nos últimos anos que a antiga chefe de Estado considera terem sido importantes para as brasileiras foram as leis de combate à violência contra as mulheres e a tipificação, no código penal, do crime de feminicídio.

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Dilma Rousseff sublinha ainda que, através das mulheres, foi possível fazer chegar políticas sociais a grupos vulneráveis, como as crianças e os jovens.

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Questionada sobre o seu futuro político, a ex-presidente do Brasil disse estar focada em apoiar uma possível candidatura de Lula da Silva à presidência, em 2018, e justifica a decisão de não se recandidatar ela própria com o apoio popular revelado em sondagens recentes. “Lula da Silva tem 38% de aprovação e eu não”, ilustra.

Dilma Rousseff garante que caso Lula volte a ser presidente, não pretende ocupar nenhum cargo no seu governo, mas refere que isso não significa o seu afastamento da política.

“Eu para fazer política não preciso de um cargo. Sempre fiz política”, afirma, acrescentando que pretende falar por “mais 15 anos”.

Defendendo que o Brasil “não é um país esquerdista, mas não é um país de Direita”, Dilma Rousseff comentou ainda a atual solução governativa em Portugal, considerando o governo do PS, com o apoio parlamentar do BE e do PCP, “uma referência e um exemplo”, em que o país, “de uma forma clara, mostra um caminho”. Na sua perspetiva, o de uma “coligação progressista” que contraria a “onda conservadora” visível noutros países do mundo e que “tem levado ao poder grupos de extrema-direita” e ao “corte de valores civilizacionais avançados”.

 

Imagem de destaque: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens