Dino Alves: Uma chapada de luva branca

Sem música. Os modelos de Dino Alves surgiram vestidos com porta fatos, pararam alinhados e imóveis até que se começaram a ouvir as vozes de Ana Bola e Maria Rueff. As atrizes em pé junto da boca de cena começaram por saudar os clientes de Dino Alves e dizer que o desfile era para eles, depois agradeceram aos restantes presentes e fizeram avisos à plateia.

Alertaram os fotógrafos para o facto do desfile acontecer dentro da passerelle, cumprimentaram a imprensa de todas as cores, até a invisível que, como explicaram, são os meios de comunicação que estão sempre presentes nos desfiles mas que, por serem tão invisíveis após o evento, não se consegue encontrar nenhum artigo sobre o mesmo.

Explicaram ainda que esta coleção teria apenas 25% dos coordenados que normalmente o criador apresenta, visto terem chegado à conclusão que era essa a percentagem de venda de cada coleção. Lembraram ainda que todas as peças apresentadas estariam à venda na próxima estação, precisamente na mesma morada a que as pessoas se dirigem para pedir convites para o desfile ou para pedir roupa emprestada para todo o tipo de ocasiões.

Dados os recados, um último reparo, o mais importante de todos, esta coleção foi feita sem recurso a fechos ou botões, sendo todas as peças acabadas com atilhos e nós. Uma escolha do designer para apelar à versatilidade das peças e criatividade dos clientes. Este foi o aspeto mais impressionante da coleção por uma simples razão: todas as peças assentavam perfeitamente ainda que sem recurso ao métodos de fecho tradicionais, algo que exige uma confeção irrepreensível e uma modelagem perfeita.

O “Manual de instruções” (nome da coleção) de Dino Alves não chegou só na sátira à indústria da moda portuguesa, chegou também em irónicas t-shirts – olhando para lá das ftons fronteiras – com frases como “Love Dior” , “Prefer Chanel, “Love Gucci”, “Prefer Balmain” e “Try me”. Como explicou o criador em comunicado o que quis fazer foi : “uma espécie de panfleto “revolucionário”, um manifesto sobre o funcionamento da indústria de moda em Portugal, uma tomada de posição em relação ao panorama geral, de uma forma clara, transparente, direta, honesta e verdadeira”.

Da roupa ficaram marcadas as assimetrias, a leveza dos vestidos, as misturas de materiais, as cores vibrantes, os padrões gráficos e, claro, os atilhos, elásticos e nós que serviram de fecho às peças.

Uma coleção genial sobretudo pelo seu conceito e pela excelência da confeção, mas que manteve a assinatura Dino Alves não só pela irreverência, mas também pelas peças marcantes