#OMG! É agora ou nunca que encontra o Ponto G?

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Podemos respirar fundo e parar a busca pelo El Dourado sexual. O mito mais incrustado da sexualidade feminina foi derrubado. Afinal, o Ponto G não existe. O famoso “botão mágico” que realça o prazer e potencia o orgasmo não é mais do que uma zona mais sensível na parede vaginal, mas cuja existência ainda está por provar. Ou seja, o relationship status (como no Facebook): é complicado.

O conceito Ponto G nasceu na década de 50, quando o ginecologista austríaco Ernst Grafenberg afirmou ter descoberto o ovo de Colombo sexual: uma área na parede superior da vagina que, quando estimulada corretamente, cresce e leva a um orgasmo mais intenso e, por vezes, à ejaculação. Anos mais tarde, em 1975, Beverly Whipple, sexóloga americana, num estudo sobre o modo como os genitais, nervos e cérebro interagem, descobriu essa mesma zona erótica e erógena, algures entre o osso público e o cérvix. De volta à pesquisa, percebeu que Grafenberg já tinha descoberto o mesmo e daí até à publicação do estudo em livro foi um pequeno passo temporal mas um gigante avanço na discussão da sexualidade feminina. Seguiram-se mais livros, inúmeros artigos escritos sobre o tema, e, claro, uma gama enorme de brinquedos, jogos e teorias sexuais assentes em cima de uma premissa que está para ser provada. Ou testada com parâmetros similares.

Está demonstrado, de facto, que as mulheres têm uma sensibilidade maior quando estimuladas nessa zona. Nesse ponto, Whipple e Grafenberg estão certos. Mas o que a ciência nos diz é que o prazer feminino nasce de uma combinação de estímulos, não apenas do famoso Ponto G mas de uma combinação de sensações que envolvem a vagina, o clítoris e a uretra. Por ciência, entenda-se o último estudo sobre o tema, de 2014, pertencente ao italiano Emmanuele Jannini, professor na Universidade de Roma.

Orgasmo como resultado de um trabalho de equipa
Posto isto, e a fazer fé nestes e noutros estudos do género, o Ponto G não é mais que um mito com uma boa campanha de marketing. Apesar dos benefícios que o seu estudo trouxe ao conhecimento da resposta sexual feminina, o certo é que o termo tem sido abusivamente utilizado. Quem o diz é também a própria Whipple. Porque se o seu trabalho serviu para libertar muitas mulheres do medo, insegurança e desconhecimento a respeito do seu próprio corpo, hoje em dia, de cada vez que o Ponto G é falado, há tantas outras que se sentem pressionadas a encontrá-lo em si ou em ejacular. Fazê-lo passou a ser um objetivo em si em vez de uma forma de mapear o prazer.

Esta é a razão principal pela qual o G não tem muitos amigos. Não só a crença na sua existência é muito baixa, como o facto de este mito continuar a perpetuar-se na cultura de massas leva a que cada vez mais homens e mulheres se sintam desadequados por não terem aquilo que, à partida, nem existe. Quem não quer sentir-se sexualmente enquadrado, dentro dos parâmetros que o mundo à nossa volta nos diz serem os mais atraentes?

Como em tanta coisa na sexualidade, sobretudo feminina, as dúvidas existem e devem ser consideradas. Mas o facto de os estudos feitos não contemplarem mulheres até bastante tarde faz com que muito pouco se saiba sobre o modo como as mulheres respondem aos vários estímulos. Naturalmente, não ajuda que, como sociedade, tenhamos uma quase obsessão pouco saudável pelo lado performativo do sexo, esquecendo o desejo, o erotismo e tantas outras razões que o tornam rico e colorido.

Tudo isto faz com que o Ponto G seja mais um produto de massas e menos uma área de estudo. Basta olhar para a quantidade imensa do que já foi dito e escrito sem que exista um módico de consenso científico. Não esquecer nunca que enquanto se identifica um ponto como raiz de prazeres vários, há mulheres que se libertam, outras que se agrilhoam. E isso não é de somenos.

É por isso que a conclusão de Janinni agrada a tantos académicos e autores, público em geral. É por retirar pressão de um ato que deve ser tudo menos condicionado por algum tipo de Graal. Podemos, finalmente, guardar os óculos e os binóculos, ignorar os ensinamentos fáceis e concentrarmo-nos na exploração pura e simples do corpo. Para muitos, há qualquer coisa de libertador no facto de o prazer ser menos um trabalho de um mecanismo só (como advogam os defensores do Ponto G) e mais um esforço de equipa, onde convergem vários caminhos (vagina, clítoris e uretra).