E se Portugal sair da Europa o que é que acontece?

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O resultado do referendo para a saída do Reino Unido da Europa chegou às 7h00 com 52% dos votos a favor do abandono do projeto europeu. Da noite do sim ao Brexit, resultaram quedas nas bolsa europeias com Londres a descer 6,39% e Lisboa a descer as cotações em 8,83%, aparentemente, o início da catástrofe anunciada por muitos desde o início de todo este processo.

Mas a verdade é que apesar de uma saída da Europa poder ser um processo tortuoso, tanto para os países como para União Europeia, o Reino Unido não é o primeiro a pôr esta hipótese, apenas o único a avançar para um referendo. A crise económica e as medidas europeias que foram tomadas para lhe fazer face têm sido motivo de desconforto em vários países e levando a Grécia a ponderar o ano passado a sua permanência na Europa.

Já este ano o Movimento 5 Estrelas que tem ganho grande força em Itália, tendo conquistado as câmaras municipais de Roma e Turim, fez saber que quer um referendo sobre a moeda única, pondo em causa a estabilidade da União Europeia. Também Marine Le Pen, que quase venceu as últimas eleições francesas como representante da Frente Nacional, se mostrou muito satisfeita com o Brexit, em declarações à radio RTL:

“Como muitos franceses, estou muito contente que os ingleses tenham tomado a decisão certa. O que pensávamos ser impossível ontem tornou-se possível hoje.”

O descontentamento e desilusão com o projeto europeu é visivelmente generalizado, e o resultado deste referendo pode dar força a mais países para sair da Europa. Também em Portugal por várias vezes foi defendida por alguns quadrantes políticos uma maior intolerância em relação às medidas europeias.

Catarina Martins líder do Bloco de Esquerda disse em declarações à Lusa ainda antes do resultado do Referendo na Grã-Bretanha que este era “um sintoma claro da degradação e desintegração da UE em qualquer dos cenários”. Também hoje o eurodeputado do PCP João Ferreira mostrou acreditar numa mudança drástica nas estruturas da UE durante uma conferência de imprensa “ [A saída da Grã-Bretanha da Europa] representa uma alteração de fundo no processo de integração capitalista na Europa e um novo patamar de luta daqueles que se batem há décadas contra a União Europeia do grande capital e das grandes potências, e por uma Europa dos trabalhadores e dos povos”.

Será mesmo o efeito dominó um perigo real para a UE?

A eurodeputada do PSD Cláudia Monteiro Aguiar revelou ao Delas.pt que neste momento se vivem momentos de “instabilidade e incerteza, nós podemos estar a dizer uma coisa hoje que amanha não faça sentido. Mesmo que não queira acreditar no efeito dominó claro que é uma possibilidade, há aqui uma brecha que se abre. A caixa de Pandora está aberta para as extremas direita e esquerda poderem cavalgar nas suas campanhas anti-Europa.”

Portugal recorreu a três resgates financiado pela Europa, estando por isso intimamente ligado à economia e às estruturas da União Europeia. Para além deste apoio financeiro muito controverso, a verdade é que o país desde há muito que recorre a dinheiros europeus no apoio a vários sectores importantes como o têxtil, a agricultura e o turismo. Segundo Cláudia Monteiro Aguiar este apoio que UE é para o país é reconhecido e por isso um cenário como o de Inglaterra seria difícil de imaginar num país como o nosso.

“Não acredito que pudéssemos ter um resultado próximo deste. Independentemente da situação que Portugal tem passado nos últimos anos há um sentimento de proteção à UE apesar de existirem críticas também. Mas não acredito que essa fosse uma solução que Portugal e os portugueses escolhessem. Porque nós sabemos o que já ganhámos até aqui, nós sabemos que nos fortalecemos até aqui. Acredito que tal como aconteceu no Reino Unido também em Portugal, a maioria dos jovens votariam a favor da Europa.”

Consequências nacionais em caso de Portexit

As consequências seriam numa primeira análise as mesma que o Reino Unido já está a sofrer, com a desvalorização da moeda, a queda da bolsa e da economia, tendo em conta que Portugal é uma economia muito mais débil. Seguir-se-iam os problemas com as exportações, complicações nas negociações dentro do espaço europeu e a perda dos apoios do fundo europeu, para além da questão da dívida que possivelmente teria de ser repensada.

Ainda assim neste momento está tudo em aberto, restando-nos ficar na expectativa para saber como irá a Europa reagir uma união de 27 e se essa união será possível. A única coisa certa neste momento é que a Grã -Bretanha fez História e o dia 23 de junho irá para sempre marcar a política mundial.