Ensinamentos empresariais e futebolísticos para aplicar na vida doméstica

Carla Macedo
Carla Macedo

Continuamos nisto. No início semana oiço uma mulher dizer que não deixa o filho com o marido quando viaja. A criança fica nessa altura entregue aos cuidados dos avós. No mesmo dia, enquanto regresso a casa oiço na rádio várias mulheres a queixarem-se do costume: os homens que não fazem tarefas domésticas, o peso que o duplo trabalho representa para nós – chegamos a casa cansadas do emprego e ainda temos todos os afazeres domésticos: o jantar, os banhos das crianças, passar a roupa, dobrá-la… Uma grande parte das famílias não tem orçamento para empregadas, mulheres a dias ou serviços de lavandaria pelo que estes aspetos da vida doméstica recaem sobre nós, invariavelmente.

Não contestando a verdade destas afirmações nem a que há em estatísticas que mostram que as mulheres gastam mais 2 horas por dia do que os homens a cuidar da casa e dos filhos, tenho de confessar o meu desgaste com estas reclamações. Elas valem de pouco. Valem de pouco porque à constatação de que somos escravas do lar devia seguir-se um plano de ação para deixarmos de o ser. Não faz sentido ter um companheiro de vida a quem não podemos deixar a responsabilidade de cuidar de um filho que é dele também, assim como não faz sentido fazer todos os dias o jantar ou lavar todos os dias a loiça, quando os dois comemos à mesma mesa. Estamos em 2017 e é preciso fazer preleções sobre a divisão de tarefas? É. Mas para os dois lados.

No último programa Conversas Delas, as convidadas que levámos à TSF vieram falar de mulheres na liderança das empresa. O que disseram serve, em muitos aspetos, lindamente para as questões domésticas da vida e para reduzir as nossas queixas. “Dá muito mais trabalho tomar o nosso destino em mãos” disse Inês Caldeira, CEO da L’Óreal Portugal e acrescentou mais tarde “no limite temos de estar bem com as escolhas que fazemos e com os sapatos que calçamos”. Se não estamos, se nos queixamos, porque que é que não avançamos para soluções?

Primeiro passo: libertarmo-nos da ideia que a casa e os filhos são os nossos lugares de exercício de poder e que são ambos os nossos reflexos perfeitos. A casa não precisa de estar sempre impecável, nem a roupa toda passada. Os espaços demasiado limpos são contraproducentes para o desenvolvimento das crianças, sabia? Ninguém nos vai fazer sentir mal por não termos tudo nos píncaros, desde que saibamos que a razão daquele pedaço de cotão é um belo passeio na praia ou uma saída com amigos. Porque estamos “bem com as escolhas que fazemos.”

Repitamos depois como um mantra: o meu marido não é o meu filho, o meu marido não é o meu filho. Provavelmente, o marido já é maior de idade há muito tempo e capaz de fazer muitíssimas coisas em casa. Depois repitamos com os maridos: uma família é uma equipa, uma família é uma equipa. É como no futebol: uns são trincos outros ponta de lança mas todos fazem falta para conseguir marcar golos. Depois disto, cada um descobrirá o seu talento e as coisas de casa que são menos sacrificiais para um e para outro. Se o arroz queimar ou o rabo do bebé assar, há de ser só uma vez, ninguém morre, e para a próxima tudo sairá melhor, inclusivamente quando formos viajar e deixarmos as crianças com o pai.