Emmanuel Macron venceu Marine Le Pen por menos de um milhão de votos, isto numa noite em que a líder da extrema-direita chegou a estar, temporariamente, a ganhar a primeira volta da corrida presidencial francesa. Os dados que refletem a recolha de votos, e que podem ser acompanhados aqui, não estão especificados por género.
Neste momento, os contrarrelógios acertam-se para o dia 7 de maio e os olhos estão postos na segunda volta. O derradeiro embate que vai colocar um destes dois rostos no Eliseu, nenhum deles vindo dos partidos tradicionais do regime francês:
Ou o centrista independente que trabalhou na banca e como conselheiro do atual presidente francês François Hollande, ou a líder de extrema-direita, xenófoba e nacionalista.
Ele parte para o confronto com o apoio declarado de praticamente todos os candidatos derrotados – apenas o líder do partido da Esquerda Jean-Luc Mélenchon não quis dizer para quem redirecionaria o seu voto na segunda volta -, ela começa isolada, mas com o argumento de que é preciso lutar contra “o herdeiro de Hollande”, presidente que deixou a França na situação em que se encontra.
Saiba quem é Emmanuel Macron e quem é Marine Le Pen
E as mulheres eleitoras: para quem lhes pende o coração? Para o jovem cavalheiro que quer a França na Europa e que, além de bonito, elegante e bem-parecido, escolheu casar com uma mulher bem mais velha? E esta questão não teria qualquer relevância política se na campanha eleitoral não tivessem aparecido rumores sobre a fachada deste casamento para encobrir a homossexualidade do candidato.
Ou a preferência das mulheres francesas recai antes sobre aquela que, sendo eleita presidente da república francesa, seria a primeira mulher a chegar ao mais alto cargo do país, tendo sempre conciliado o lado profissional com o familiar, apesar das contradições entre a sua vida pessoal e o que defende politicamente, e que quer proteger as cosmopolitas francesas do conservadorismo do Islão?
O que apontaram as sondagens para a primeira volta
Se não é possível saber em quem as francesas votaram, as sondagens ganham relevância por poderem trazer alguma luz sobre esta realidade. Para já, as mulheres portuguesas emigradas em França e lusodescendentes deitam por terra a possibilidade de Le Pen chegar ao Eliseu apenas porque é mulher.
O discurso, as ideias e as propostas junto de uma sociedade que está a ficar mais fechada é que poderão a estar a fazer mais eco na cabeça das eleitoras, explicam ao Delas.pt.
“O progresso e a igualdade não estão nas prioridades das francesas”
No início de fevereiro e em vésperas de arranque da campanha, Marine Le Pen prosseguia a sua caminhada de liderança no topo da tabela, obtendo, de acordo com o Instituto Francês de Opinião Pública (IFOP), uns confortáveis 24%.
Olhando em detalhe e para a primeira volta das eleições, 25% das mulheres inquiridas dizia que iria colocar a cruz na Frente Nacional, o que constituía a maior percentagem de sempre. A 21 de abril, a mesma empresa de sondagens apontava para 22%, denotando um decréscimo.
Nessa ocasião, estava Macron a começar a fazer o seu percurso: com 20,0% das intenções de voto globais. À data, o independente do centro piscava o olho a 21% do eleitorado feminino, a 21 de abril as sondagens apontavam para 24%.
Número de mulheres ao lado Marine para segunda volta aumenta entre fevereiro e abril
Mas estas eram as respostas para a primeira volta porque, mediante um embate a dois na segunda volta – como se vem agora a verificar – as mulheres transitariam em massa para Macron (67%), embora a percentagem de eleitoras de Le Pen também aumentasse, para os 33%. Dados – é bom vincar – que se reportam a fevereiro.
Porém, as respostas que foram recolhidas nas vésperas do sufrágio de 23 de abril mostram que elas podem estar a mudar de opinião, ainda que não sejam depois em número suficiente para significar uma viragem rumo à vitória.
Se não vejamos: a 21 de abril, 61 % das mulheres inquiridas afirmava votar em Macron na segunda volta (menos seis pontos que em fevereiro), 39% olharia para Le Pen, o que significa um aumento de, precisamente, 6%.
Brancas recusaram Hillary Clinton
A democrata Hillary Clinton bem apelou ao voto feminino e a candidata até venceu as presidenciais de novembro de 2016, com quase três milhões de votos de diferença de Trump. Foi, no entanto, o magnata escolhido pelo partido conservador a conseguir o passaporte para a Sala Oval e para o mais alto cargo da nação norte-americana, por via da eleição do maior número de delegados.Se se esperava que as mulheres se revissem em Hillary e, como sonho, a ideia de ter uma mulher na Casa Branca, depositassem nela o seu voto, ora também aqui, neste capítulo, a democrata recolheu mais votos.
De acordo com os dados oficiais divulgados pelos Estados Unidos da América, Clinton conquistou 54% dos votos femininos, bem mais do que os 42% recebidos pelo milionário.De acordo com o estudo de opinião Edison National Election, com 24 mil e 500 respostas validadas após o ato eleitoral, foram as mulheres brancas que preferiram Trump – que nunca se coibiu de mostrar a sua misoginia -, sobretudo as de baixos níveis de escolaridade.
Também não faltaram celebridades que se opuseram ao voto a Hillary apenas e só porque era uma mulher. Na base das suas críticas estava o facto de a democrata incarnar todos os vícios do sistema político.
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