Rosa Clará: “Sou casada e sinto-me absolutamente livre”

Rosa Clará, a empresária de uma das marcas de vestidos de noiva e de cocktail mais famosas internacionalmente, esteve no Porto para a inauguração da segunda loja da marca em Portugal, na semana passada. Falámos com a fundadora da marca que continua a acreditar no amor e no casamento. Fique a saber tudo o que sempre quis perguntar a Rosa Clará.

Cria vestidos ou sonhos?

Acredito que crio as duas coisas. Quando uma noiva sai da loja e leva o seu vestido de noiva, começa outra faceta da sua vida que é um sonho representado por aquele vestido. Criamos vestidos evidentemente, mas têm um sonho associado.

Porque é que os casamentos estão tão na moda novamente?

Graças a Deus está na moda… A forma como nos casamos mudou. Mas no fundo é o mesmo, com mais idade ou menos idade, acredito que as pessoas se estão a voltar a casar porque… Muitas vezes acontece que já vivem juntos, coisa que anteriormente quase não acontecia, mas agora ocorre com frequência. No momento em que surge uma criança e vão ser pais, quase todos se decidem casar, ainda que digam que não, acabam por fazê-lo.

Quais são as principais diferenças entre os casamentos de antigamente e os de agora?

Antes as noivas eram muito mais novas do que agora, hoje casam-se com trinta e antes casavam com vinte. Esta é a principal diferença. O conhecimento da moda é outra grande diferença, as noivas hoje chegam às lojas para escolher o seu vestido e já sabem muito, porque se informaram, navegaram na internet, viram em revistas. As diferenças são muito grandes, em 20 anos a evolução da mulher é tremenda.

Podia ter escolhido fundar uma marca de qualquer sector, porquê noivas?

Porque no momento em que entrei no mercado, faltava algo novo nesta área, o que se fazia era tudo igual. Não se fazia moda com qualidade para noivas. Vi que aí estava uma oportunidade. Foi com esse objetivo que tudo começou.

O que é para si o casamento?

É a situação perfeita e ideal de um casal. Não é nada fácil que corra bem, mas com vontade e acreditando que vai correr bem, dá sempre certo. Estou a falar da minha experiência, casei-me há dois anos pela segunda vez. E posso dizer que a oportunidade que tive de na minha idade recomeçar, é algo fantástico e maravilhoso.

Muitas vezes a emancipação da mulher nega o casamento, como expressão de liberdade e afirmação feminina, como vê esta opção?

Para mim, liberdade é outra coisa. Querer dividir a vida com alguém e dar-lhe a mão, não significa deixar de ter a nossa própria vida e independência. Acredito que são duas coisas que se podem conjugar perfeitamente. Eu sou casada e sinto-me absolutamente livre.

Muitas mulheres sonham casar desde crianças, como explica esta relação tão especial entre a mulher e o casamento?

É verdade, é muito engraçado isso. Há uns tempos estava numa consulta com a minha dentista, e em conversa ela disse-me que não tinha namorado, já tinha 40 anos, mas que sabia exatamente como seria o seu vestido de noiva. Então começou a explicar-me cada detalhe do seu vestido, nesse momento pensei que realmente não importa como crescemos e como evoluímos, a verdade é que todas pensamos no momento do nosso casamento. E esse momento é sem dúvida algo muito importante. É um momento bonito, em que nos sentimos feliz. Se nos casamos apaixonadas como eu me casei sentimo-nos a pessoa mais feliz do mundo.

E porque é que o casamento tem esta importância na vida das mulheres?

Eu acredito que a tradição tem a sua importância. Claro que em cada caso pode haver razões diferentes mas acho que as principais são: a tradição, a segurança e o amor, porque sem amor nada faria sentido, e no final das contas o que move o mundo é o amor.

Para si o que é ser mulher?

Acredito que o assunto homem/mulher na minha geração tinha diferenças, agora tem menos. Nunca olhei muito a se quem se deparava comigo era homem ou mulher, eu tinha que trabalhar, tinha uma família, e era-me indiferente se quem se cruzava comigo era homem ou mulher. E acho que no futuro as novas gerações se vão esquecer-se deste assunto de homem e mulher, há pessoas e pronto! O grande presente que a vida nos dá por sermos mulheres é puder ser mães. Aos outros níveis somos iguais aos homens, temos as mesmas possibilidades.

Quando estou à procura de trabalhadores não faço descriminação de género, a mim o que me interessa é se a pessoa trabalha bem. Se for um homem e fizer tudo bem, perfeito, se for mulher perfeito também. Em minha casa tenho um rapaz a ajudar-me, funciona muito bem e está há vinte anos comigo. E é-me indiferente que seja um homem.

Para si como um casamento pode ser moderno ou um casamento não se quer moderno?

Acho que depende muito da noiva, depende do sonho da noiva. O que sonhas para o teu casamento é que te deve dizer que caminho seguir.

Gosta mais de noivas de verão ou de inverno?

Gosto das noivas de verão, mas as noivas de inverno bastante tapadas também gosto.

Que conselhos pode dar a quem vai este ano escolher o seu vestido de noiva?

O meu conselho é que venham a uma loja Rosa Clará, porque temos uma coleção com vestidos muito variados em estilo e preços. E aconselho que sejam elas mesmas, que não tentem disfarçar-se, não usem vestido em que não se sintam confortáveis. Quanto à maquilhagem e penteados devem ir o mais natural possível. Um mau penteado pode realmente estragar um bom vestido.

Que peso comercial tem Portugal para Rosa Clará?

Os meus primeiros clientes internacionais foram portugueses. Foi em 1995, numa altura em que Portugal estava muito bem economicamente. Passado uns anos abrimos a loja em Lisboa e no aeroporto. É um país católico todos os países católicos têm muita importância, são muito mais fáceis de trabalhar para nós, pela tradição e cultura, porque valorizam os tecidos, valorizam os acabamentos simples.

O mercado das noivas está a crescer?

Depende, posso dizer-lhe que em Espanha desde 2007 houve uma baixa no número de casamentos de 200 000 passámos para 160 000. Para muitas empresas em Espanha isto foi uma derrapagem absoluta. Nós começámos a internacionalizar a marca muito cedo, começando a conquistar muitos novos mercados. Superámos a crise que se instalou em Espanha devido a todos os pontos de venda que tínhamos no mundo.

Qual é o melhor mercado da marca?

É Espanha e depois Itália.

Quantas lojas têm em Itália?

Nenhuma. Em Itália só vendemos através de lojas multimarca. Os clientes italianos preferem esse formato de loja.

Quais são as principais diferenças entre as noivas portuguesas, italianas e espanholas?

Entre estes três países a diferenças são muito poucas, são mercados praticamente iguais. Isto porque são países católicos, com costumes muito parecidos, o casamento é um momento muito especial como em qualquer país católico. Por exemplo entre Inglaterra e Irlanda, para nós é mais fácil vender na Irlanda, porque é sempre mais fácil vender nos países católicos. Na Alemanha investe-se menos nos casamentos, porque é um país anglo-saxónico. As principais diferenças encontram-se entre os países católicos e os que não o são.