Nesta casa os problemas são à meia-dúzia

Danielle tem 33 anos e Adam Busby, o marido, 35. O casal, que vive em Houston, Texas, tem seis filhas e cinco delas são gémeas. A mais velha, Blayke, tem seis anos, já o quinteto de raparigas (Olivia Marie, Ava Lane, Parker Kate, Hazel Grace e Riley Paige) nasceu em abril de 2015 e foram prematuras, obrigando a uma vida partilhada entre a casa e o hospital durante três meses.

A mãe viajava pelo mundo, mas deixou de trabalhar fora de casa para conseguir criar as gémeas, contando com a ajuda do marido, mas também da família, dos amigos e da comunidade espiritual, que diz ter em Jesus Cristo a inspiração, Clear Creek Community Church.

Este agregado numeroso e, agora, célebre está de regresso à televisão portuguesa. A 6 de setembro, às 20:00 horas, o canal do cabo TLC estreia a segunda temporada de Surrounded by Daughters [Rodeados de Filhas, em tradução literal].

Ao Delas.pt, este casal conta como é vivido e gerido o quotidiano da família, que estratégias usam para manter vivo o casamento e que espaço guardam para cada um. Danielle Busby revela que a organização, não sendo a chave de tudo, é o segredo para quase tudo e até admite que tem algumas saudades da vida que tinha antes, como profissional a tempo inteiro. No entanto, as filhas – nascidas com recurso a processos de fertilidade – são hoje a sua “maior benção”. O pai, que faz o que pode quando está em casa, surge nesta temporada a admitir que precisa de ajuda médica para enfrentar este dia-a-dia tão exigente.

Nesta segunda temporada do programa, Adam reconhece que está cansado e que precisa de ajuda. O que se passa com ele e como vai ser acompanhado, ao mesmo tempo que se cuida de seis crianças?

Danielle Busby (DB): É preciso encontrar o equilíbrio nas nossas lutas, na nossa história e trabalhar o dia-a-dia. Tento motivá-lo e mantê-lo focado. É definitivamente desafiante. Cuidar das meninas e gerir os problemas que o Adam está a atravessar. Quero que ele saiba que é a minha prioridade no nosso casamento, focando nos sentimentos que tenho por ele e na sua recuperação. É duro, mas somos fortes, estamos fortes no nosso casamento, na nossa família e vamos ultrapassar isto.

Adam Busby (AB): Nesta nova temporada, escolhemos contar a história de todo o processo e de como estamos a tentar encontrar soluções. Sempre fomos francos sobre as coisas boas e as más na nossa história. Esta é mais uma das fases. No início desta temporada, nem sabia que íamos caminhar por aí ou contar esta história, comigo a partilhar que preciso de ajuda para enfrentar isto. Mas aconteceu, e se vou passar por isto, também há muitos pais que estão a viver o mesmo pelo mundo fora. Decidimos que deveríamos partilhar esta dificuldade, é uma caminhada que estou a percorrer a na qual ainda estou a descobrir aspetos que desconhecia. Tudo o que sabia era que não me sentia bem, nem que era eu próprio. E nesta temporada, vamos tentando perceber, a cada pequeno passo, como cheguei a este ponto e como posso pedir ajuda e resolver. Acho que é uma prova a nossa fé e da nossa relação. Não vamos tomar a decisão fácil de fugir e desistir e é isso que estamos a querer transmitir.

Manter um casamento já é difícil quando chega um filho ou já há dois. Mas como conseguem fazer isso com seis. Quais são as vossas estratégias enquanto casal?

DB: Todas as semanas agendamos um dia em que temos tempo para o casamento, porque precisamos de ter tempo para os adultos, para a nossa relação. Nesse dia, vamos para fora de casa. E isso mudou um bocadinho quando tivemos as gémeas. Quando nasceu a Blayke (hoje com seis anos) saíamos uma noite inteira, mas agora combinamos apenas que temos de sair de casa. Todas as semanas temos um dia para “fugir” de casa.

Quem vos ajuda quando precisam de sair? Têm de pagar a uma babysitter ou têm rede familiar?

DB: Temos um grande sistema de apoio, a minha mãe vive por perto. Temos também os amigos e também pessoal da nossa igreja.

Como mulher, trabalhava antes de ser mãe. Tem saudades?

DB: Sim, tinha um trabalho a tempo inteiro. Viajava pelo mundo, tinha uma vida muito diferente da que tenho hoje (risos). Tenho saudades de poder sair de casa, de ver novas cidades e de viajar, sinto mesmo falta e isso fazia parte da minha carreira profissional. Talvez um pouco de tempo mais egoísta, acho. Mas agora também é, apesar de muito diferente, recompensador ter seis filhas, das quais cinco são gémeas. Claro que é duro e que é stressante viver isto todos os dias, há momentos altos e baixos, mas, repito, esta realidade acaba por ser engraçada e até consigo ter algum tempo para mim própria.

Quando?

DB: Por vezes, quando as meninas estão a dormir a sesta tenho algum tempo para mim. Dá para fazer as unhas (riso). Tudo se consegue com organização. Pratico exercício físico, o que me ajuda a lidar com o stresse.

Tem energia?

DB: (Risos) Sim, incrível. Durante anos, e antes de ter as meninas, fiz exercício, corria, fazia indoor cycling. O exercício faz-me sentir outra vez eu e ajuda-me a afastar o stresse. Por vezes, vou às compras, estou com as amigas. É importante sentir-me também mulher.

 

Quando se tem tantos filhos, como se processa a organização em casa e como são articuladas todas as tarefas?

DB: Pergunta-me sobre como é lavar milhares de peças de roupa por dia, por exemplo (risos)? O que quero dizer é que tudo tem de estar organizado. No dia em que tenho de tratar de aspetos determinados das crianças, não lavo, por exemplo, a roupa. Num determinado dia lavo a roupa das crianças, no outro lavo a do Adam, tenho de limpar e lavar o chão, pelo menos, cinco vezes por semana. Mas como adoro ser organizada e ter um plano, isto ajuda a gerir tudo. A casa está sempre caótica. Temos sempre alguém que passa ou alguém que traz jantar, temos a família, as ajudas da igreja a que pertencemos – que ajudam na lavagem da roupa ou a mudar lençóis. Temos tido muito apoio e amor de pessoas que querem ajudar e isso tem representado uma grande fatia na forma como temos bem-sucedidos a criar as nossas filhas.

Mas é fácil convocar Adam para integrar este sistema superorganizado de tarefas domésticas?

DB: Sim, Adam tem a lista de tarefas pela qual é responsável: deitar o lixo e lavar a loiça. Antes, quando nasceu a Blayke, já tínhamos definido tarefas. Ele definitivamente ajuda, mas também trabalha a tempo inteiro fora de casa.

AB: Devo dizer que não sou minimamente organizado, nada que se compare à Danielle. Confio muito nela e, como estou fora de casa durante o dia a trabalhar, sei que ela faz um muito melhor trabalho que eu neste campo. Mas tenho a minha lista pessoal de responsabilidades, que nem sempre é fácil cumprir quando temos seis crianças a andar pela casa (risos).

Adam, como é viver só com mulheres em casa?

AB: Quando descobrimos que havia cinco bebés e – conseguimos saber o sexo dos bebés mais cedo do que é comum – foi-nos dito que havia quatro raparigas e um rapaz. Achei que havia esperança para mim e sonhei com a possibilidade de ter mais um homem em casa. Foi engraçado. Mas, na semana seguinte, numa nova ecografia, foi-nos dito que afinal eram todas meninas.

E como é a vida com tantas meninas em seu redor?

AB: Ser pai de seis raparigas não poderia ser uma tarefa com maior responsabilidade. Todos os pais deveriam ter uma filha (sorriso). E agora, se houvesse um rapaz no meio de tantas raparigas talvez tal complicasse severamente a logística em casa. Ter seis raparigas é, na verdade, muito mais fácil. Não é preciso dividir as crianças pelos quartos por forma a ter um quarto só para o rapaz. As roupas também servem a todas as meninas. Se tivesse vindo um rapaz, tal teria complicado bastante as coisas. Mas estou muito feliz por serem meninas, não há melhor sensação.

Porque é que decidiram mostrar a vossa vida, o vosso quotidiano ao mundo?

DB: Porque tivemos esta vida, tivemos estes filhos, mas nunca pensámos que seria este o nosso caminho. Não o planeámos desta forma, mas aconteceu assim e acreditamos que foi a caminhada que Deus nos deu. E, apesar de tudo, fomos nós que fizemos a escolha. Viver isto é um grande privilégio, embora o mundo nos diga que não o devemos fazer. Mas nós achamos que devemos e podemos. Somos fortes e, por isso, decidimos fazer esta série porque queremos mostrar que é possível ter filhos e ter uma relação entre marido e mulher, que é possível manter os laços e os sentimentos. Sim, estamos a tentar dizer a todas as famílias que há sempre uma possibilidade.

 

O processo de ter filhos e ter cinco gémeos de uma vez. Como é que isso aconteceu e como foram lidando com a notícia?

DB: Lutámos muito para ter filhos e esperámos dois anos para conseguir ter a Blayke. Fizemos todo o tratamento e o processo de fertilização intrauterino. Fomos bem-sucedidos e tivemos a nossa primeira filha. Dois anos depois, pensamos em dar-lhe um irmão ou uma irmã e voltamos a fazer essa caminhada e, em dois meses, já estava grávida. Não houve qualquer alteração no procedimento, nem nos medicamentos. Nada foi diferente do que quando fizemos o tratamento da Blayke. Fomos descobrindo que tínhamos cinco gémeos ao longo de várias semanas. Primeiro, descobrimos que estava grávida de uma criança. Na vez seguinte, voltamos ao médico e descobrimos três bebés. Depois, quatro bebés. E quando achámos que tínhamos quatro e já se tratava de uma gravidez de risco… descobrimos que um dos ovos se tinha dividido, havia agora duas gémeas verdadeiras, e assim chegou a quinta bebé. Eu comecei a rir. Afinal, era tudo tão irreal, tão surreal talvez, não estava a conseguir acreditar. O Adam saiu da consulta e foi beber um café enquanto caminhava pelo corredor. Foi assustador, foi desafiante e perguntámo-nos muitas vezes o que iríamos fazer.

Falaram de quê: de alegria e de angústia ao mesmo tempo?

AB: Tal como a Danielle disse, de certa forma, estávamos alegres com o que nos estava a acontecer, mas, ao mesmo tempo, sentíamos alguma angústia porque eram muitos bebés – e ainda se falava em quatro – e estavam a competir pela sobrevivência no útero. Por isso, poderiam não conseguir resistir e era frequentemente os médicos prepararem-nos para o pior. Mas, entretanto, assim que o médico começou a fazer a ecografia, apercebemo-nos que um dos ovos se tinha subdividido. E, sim, nessa altura ficámos em choque.

As cinco bebés foram prematuras, nasceram com pesos entre os 900 gramas e um quilo e 200. Como casal e tendo já uma filha, como lidaram e como se organizaram face às idas diárias ao hospital para visitar as recém-nascidas? Como faziam em casa com a Blayke?

AB: A resposta fácil a essa questão é: Não tínhamos alternativa, fizemos o melhor que sabíamos e podíamos. A Danielle tinha a sua rotina enquanto eu continuava a trabalhar. Ela deixava a Blayke na escola e ia para o hospital todo o dia, ficava lá com os bebés. Tudo isto durante três meses. E quando eu saía do trabalho, ia para o hospital, encontrávamo-nos no parque do hospital, fazíamos ‘hi5’ e ela ia buscar a Blayke e ia para casa cuidar dela.

DB: Durante os meses em que os bebés estiveram nas incubadoras, nós vivíamos quase permanentemente no hospital. Estar em casa sem os bebés era como se faltasse algo muito importante. Não havia tempo para nada, não pensávamos em fazer mais nada porque os nossos bebés estavam a lutar pela vida. Com o Adam a trabalhar, tínhamos de fazer turnos, foi muito difícil.


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Não é comum ver famílias com seis filhos, cinco deles gémeos. Que tipo de respostas conseguem encontrar na sociedade e na estrutura da mesma que ajude famílias como a vossa? E que tipo de respostas gostavam de encontrar e vê que não existem?

DB: Não há respostas. O que fizemos foi criar as nossas próprias formas de fazer isto, de construir a família com o que conhecíamos e recorrendo a grupos de outras famílias – via Facebook e outras redes sociais – e temos estado em contacto com outras mães e pais que atravessam ou atravessaram situações semelhantes. Não há respostas e tivemos de criar as nossas próprias soluções.

AB: Nós não dependemos de estruturas da nossa sociedade ou do governo para nos ajudar. Tentamos apenas fazer o melhor que sabemos para conseguir levar esta missão a cabo. Apoiamo-nos no amor e no apoio da nossa comunidade, amigos, na nossa família espiritual. E quando precisamos de algo, fazemos todo o processo com a ajuda de quem está ao nosso lado, de quem nos ama. Sempre que tivemos uma necessidade, Deus ajudou-nos e alguém nos levou a descobrir como o fazer. Temos sido muito abençoados por Deus por Ele nos ter posto todas estas pessoas na nossa vida e na nossa caminhada. Nunca tivemos qualquer ajuda extra da sociedade ou mesmo do Governo.

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