Estar com ”a Chica”, a “Coisa”, o “Período” ou o “Incómodo”

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Catarina de Albuquerque, diretora executiva da iniciativa das Nações Unidas, Parceria Água e Saneamento para Todos. (Gerardo Santos / Global Imagens)

A 28 de maio celebra-se o Dia da Higiene Menstrual. “Mais outro dia mundial sobre temas irrelevantes e ridículos” – dirão muitos. Eu digo o contrário!

A menstruação é um processo biológico normal vivido por metade da população do mundo durante uma parte significativa das suas vidas. 300 milhões de mulheres e raparigas menstruam, todos os dias, mas a menstruação ainda está envolta em mitos, conceitos erróneos e estigma. Muitas raparigas têm pouco ou nenhum conhecimento sobre a menstruação – e isso tem um impacto sério nas suas vidas. Noutros casos, incluindo em países ditos “ricos”, há camadas da população vivendo em pobreza que, pura e simplesmente, não tem recursos financeiros suficientes para se poder dar “ao luxo” de comprar produtos de higiene menstrual – pensos, tampões, etc.


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Com todas as mudanças físicas e emocionais, a adolescência é um tempo tumultuoso na vida de uma rapariga, mesmo nas melhores circunstâncias. Para muitas, ter o seu primeiro período não é uma experiência agradável, mas para outras pode mesmo ser uma etapa francamente aterrorizante – por desconhecerem o fenómeno e o processo. Para além de poupar as raparigas a uma entrada traumática na sua condição de mulher, a educação sobre a menstruação é fundamental para que possam gerir a sua menstruação de forma higiénica, com confiança e dignidade.

Para poderem tomar decisões informadas para lidar com a sua menstruação, as raparigas devem ter, pelo menos, uma compreensão básica dos processos físicos por trás do seu período, bem como os prós e contras dos diferentes produtos de higiene menstrual disponíveis no mercado. Sem isso, as mulheres e as raparigas podem usar produtos anti-higiénicos (incluindo trapos velhos, folhas secas, erva, cinzas, areia ou jornais) que podem levar a infeções do trato reprodutivo e outras condições de saúde, incluindo infertilidade.

As práticas não seguras durante a menstruação são responsáveis por até 70% dos problemas de saúde reprodutiva a nível mundial. Mas quando falamos de educação sobre higiene menstrual, não me refiro a “Clubes do Bolinha” ao contrário, onde “menino não entra”. Muito pelo contrário. Os rapazes e os homens também precisam entender como os períodos funcionam. Só assim seremos capazes de romper tabus e expor mitos. A educação de todos os alunos – rapazes e raparigas – é vital para garantir que as raparigas são capazes de navegar pela sua puberdade e permanecer saudáveis e confiantes.

Além da educação sobre a menstruação, as raparigas devem poder praticar uma boa higiene menstrual. Isto é particularmente válido na instituição que tem mais poder para transformar a trajetória das suas vidas: a escola. As escolas devem fornecer produtos de higiene menstrual acessíveis, ter casas de banho privativas com água e sabão, bem como opções para a eliminação segura dos produtos menstruais usados. Ainda existem países em que metade das raparigas em idade menstrual falta à escola uma semana por mês. A menstruação torna-se assim uma desvantagem adicional para as raparigas, que, mesmo sem este desafio, têm menos probabilidades de frequentarem a escola do que os rapazes. Em casos extremos, muitas acabam por sair da escola quando começam a menstruar.

Assegurar que as raparigas recebem a educação que merecem, desencadeia uma miríade de benefícios sociais e económicos para toda a vida, mas também para as sociedades e os países em geral. As raparigas que ficam na escola ganharão mais, casarão mais tarde e terão menos filhos, mais saudáveis e com melhor educação.

É hora de começar a trabalhar e ajudar a libertar o poder transformador dentro das mulheres e raparigas através da educação sobre a menstruação.