Fast fashion e slow fashion: conceitos para o futuro

fast fashion

A forma de comprar roupa nos dias de hoje levou maracas e criadores a assumir duas abordagens opostas: de um lado ‘fast fashion’ e do outro ‘slow fashion’. Estes conceitos inspiram-se na comida rápida (‘fast food’) em oposição à comida caseira/‘gourmet’ (‘slow fashion’). Surgem cada vez mais criadores de moda que optam por deixar a produção de coleções de pronto a vestir, para se focarem nas linhas de autoria ou alta costura, enquanto marcas de grande consumo continuam a investir nas propostas rápidas

Diariamente o consumidor é seduzido a comprar mais roupa do que a que realmente necessita. A moda do século XXI, produzida por marcas de grande consumo, feita para durar muito pouco tempo, exige gastos astronómicos de matéria-prima – algodão, lã, sedas, água -, recorrendo ao excesso de agentes poluentes para obter resultados atrativos, como é o caso das tintas.

O frenesim da produção em massa da indústria têxtil provoca danos graves no meio ambiente, assim como a exploração de mão de obra barata, ignorando os direitos humanos em países como Índia ou China, com o claro intuito de fazer roupa a preços baixos tornando-a acessível ao maior número de pessoas.

Segundo a autora do livro ‘Overdressed’ (‘vestidos demais’, numa tradução livre), Elizabeth Cline, só nos Estados Unidos a população consome mais de 13 milhōes de toneladas de tecidos anualmente, representando um gasto de mais de dois bilhōes de água. Uma simples ’T-shirt’ para ser feita requer cerca de 2700 litros de água. “Quando os trabalhadores não têm a possibilidade de fazer intervalos dignos para descansar, acaba por provocar acidentes. As rápidas alterações nas coleçōes, exigindo ritmos rápidos de produção, acabam por provocar pressão junto das fábricas”, explica Richard Locke, professor do Massachusetts Institute of Technology Sloan School of Management.

Em 2015, uma importante investigadora e ‘trendhunter’ holandesa de moda, Li Edelkoort, considerada pela revista ‘Time’ uma das mais influentes pessoas do setor, publicou o ‘Manifesto anti-fashion’, onde apresenta as razōes que a levam a acreditar porque é que a moda como a conhecemos hoje está obsoleta.“Os consumidores de hoje e os de amanhã vão escolher sozinhos, começar a desenhar e a criar o que vestem. Não esqueçamos que a nova geração de famílias endinheiradas de Silicon Valley (EUA) já não têm a mesma relação de grande consumo face à moda”, afirma Edelkoort que salienta o facto de cada vez mais pessoas, de distintas geraçōes, mostrarem um interesse mais realista sobre a moda, a sua contextualização social/económica/política, na procura da diferenciação e não da massificação.

A reforçar esta ideia estão alguns conceituados designers de moda, como o caso de Jean-Paul Gaultier que em 2014 anunciou o fim da sua linha de pronto a vestir, alegando que “o ritmo desenfreado de criação” lhe limitava a liberdade para inovar, além de ter de enfrentar recorrentemente os concorrentes de marcas mais rápidas e baratas, os chamados ‘fast-fashions’, que copiavam as suas coleçōes.

Li Edelkoort adianta também que a Alta-Costura é um dos setores que vai voltar a conquistar o seu território, obtendo o protagonismo que lhe é merecido, porque, “é no ‘atelier’ de Alta-Costura que se encontra o lado laboratorial. A profissão de ‘couturier’ (costureiro) irá ganhar protagonismo pela sua técnica de exclusividade, inspirando muitas outras”.

Basicamente, o ‘slow fashion’ visa promover a criação de autor, linha seguida por grande parte dos designers de moda portugueses, respeitar os seus ritmos, enaltecer a tradição produtiva e criativa, respeitar o meio ambiente e as condiçōes de trabalho das populações.

Estas análises sobre o futuro do setor da moda e do seu rápido consumo foram, em 2009, publicadas pelo jornalista e ativista norte-americano Michael Pollan, no seu livro ‘The Omnivore’s Dilema’, em que o autor escreve sobre os comportamentos alimentares frisando que “o crescimento de movimentos favoráveis ao ‘slow food’ demonstram a recetividade e necessidade por uma melhor alimentação. O mesmo acontece com o ‘slow fashion’ cujos benefícios são mais lentos de absorver, mas progressivamente o consumidor acaba por desejar alterar os seus comportamentos face ao que compra para vestir”.