Figuras do cinema português em noite de prémios no CCB

‘Cartas da Guerra’ foi o grande vencedor dos Prémios Sophia 2017. O filme realizado por Ivo M. Ferreira arrecadou nove das 21 estatuetas atribuídas pela Academia Portuguesa de Cinema, esta quarta-feira à noite, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. A cerimónia, apresentada por Ana Bola, contou com a presença de cerca de mil convidados, entre eles figuras de relevo da sétima arte e da televisão nacionais.

Manuela Maria, atriz galardoada como Melhor Atriz Secundária por ‘A Mãe é que Sabe’, de Nuno Rocha, saiu da gala “satisfeita e agradada, especialmente por o prémio ser de cinema”. “É uma coisa que faço muito menos do que teatro e televisão”, explicou. A intérprete, de 82 anos, diz já nem se recordar do filme que “fez antes deste”. “Acho que foi ‘O Cerco’ [de António da Cunha Telles, em 1970], há 47 anos”.

Sobre a arte cinematográfica em Portugal, acredita que esta “continua a ser mal tratada”, embora sinta melhorias. “Já se deram provas que se fazem filmes muitos interessantes e o público gosta. Mas os artistas, de um modo geral, são tratados como enteados”, frisa. “Claro que nós sabemos que é assim e gostamos de fazer o que fazemos”.

Fernanda Serrano, Sofia Cerveira e Gonçalo Diniz, Vitor e Sara Norte, Sara Matos, Vera Kolodzig, José Fidalgo, Diogo Amaral, Inês Castel-Branco, Lúcia Moniz, César Mourão, Afonso Pimentel, Ricardo Carriço, Júlio Isidro, Margarida Marinho, António Pedro Cerdeira, Isabel Figueira, Eunice Muñoz, Sandra Celas, Victória Guerra e Ana Brito e Cunha, entre muitas outras personalidades, também compareceram nesta quinta edição dos Prémios Sophia, na qual um dos momentos altos foi a homenagem ao ator Ruy de Carvalho, a quem foi atribuído o Prémio Mérito e Excelência pelos seus 75 anos de carreira, entregue no palco do grande auditório do CCB pelo neto, o também ator Henrique de Carvalho. “Sinto-me muito orgulhoso por ter servido o povo português com o melhor que eu podia e sabia fazer. É um grande orgulho ser escolhido e honrarem-me desta maneira”, disse o ator. “O meu maior agradecimento será sempre para o público”.

Ruy de Carvalho aproveitou a ocasião para deixar um recado “ao grande povo” português, que está convencido que não o é: “Temos que nos convencer que somos um grande povo. Precisamos de um bocadinho de vaidade. Descobrimos o mundo… é uma coisa muito importante e de vez em quando esquecemo-nos disso”, recordou.

“Há gente no mundo que fala mal de nós, como por exemplo um senhor que disse agora que nós somos todos bêbedos e que gostamos de mulheres”, prosseguiu o ator, de 90 anos, lembrando que o presidente do Eurogrupo e ministro das Finanças holandês, Jeroen Dijsselbloem, disse a um jornal alemão que os europeus do sul gastam “todo o dinheiro em copos e mulheres” e depois pedem ajuda. “Nós gostamos. Ele, se calhar, não gosta”, rematou Ruy de Carvalho.

Sobre a iniciativa, o presidente da Academia Portuguesa de Cinema, Paulo Trancoso, afirmou ter sido “mais uma prova de resistência do cinema português e do seu papel inequívoco na divulgação da nossa cultura”.

Estes foram os vencedores nos Prémios Sophia 2017

Melhor Curta-Metragem de Ficção: Menina De Simão Cayatte

Melhor Curta-Metragem de Animação: Estilhaços, José Miguel Ribeiro

Melhor Curta-Metragem de Documentário: Balada de um Batráquio, Leonor Teles

Melhor Atriz Secundária: Manuela Maria – A Mãe é que Sabe

Prémio Sophia Estudante: A Instalação do Medo de Ricardo Leite

Melhor Ator Secundário: Adriano Carvalho – A Mãe é que Sabe

Melhor Guarda Roupa: Lucha d’Orey – Cartas da Guerra

Melhor Direção Artística: Nuno G. Mello – Cartas da Guerra

Melhor Maquilhagem e Cabelos: Nuno Esteves “Blue” – Cartas da Guerra

Melhor Documentário em Longa-Metragem: Mudar de Vida, José Mário Branco, vida e obra de Nelson Guerreiro, Pedro Fidalgo

Prémio Mérito e Excelência: Ruy de Carvalho

Melhor Ator Principal: Miguel Borges – Cinzento e Negro

Melhor Som: Ricardo Leal – Cartas da Guerra

Melhor Banda Sonora Original: Mário Laginha – Cinzento e Negro

Melhor Direção de Fotografia: João Ribeiro – Cartas da Guerra

Melhor Argumento Original: Luís Filipe Rocha – Cinzento e Negro

Melhor Argumento Adaptado: Ivo M. Ferreira, Edgar Medina – Cartas da Guerra

Melhor Montagem: Sandro Aguilar – Cartas da Guerra

Melhor Canção Original: Sobe o Calor – letra de Sérgio Godinho e música Filipe Raposo – Refrigerantes e Canções de Amor

Melhor Atriz Principal: Ana Padrão – Jogo de Damas

Melhor Realizador: Ivo M. Ferreira – Cartas da Guerra

Melhor Filme: Cartas da Guerra, O Som e a Fúria