Google dedica doodle à lendária fadista Severa

Severa

O Google dedica, hoje, o seu doodle (a imagem da página de pesquisa) a Severa, a figura lendária do fado. Considerada a primeira fadista, Maria Severa Onofriana nasceu a 26 de julho de 1820, na Rua da Madragoa, onde a sua mãe tinha uma taberna.

O seu nome tem sido sempre uma referência no género, embora seja difícil distinguir o que é realidade e o que é mito, na história da cantora. Filha de Severo Manuel de Sousa, natural de Santarém, e de Ana Gertrudes, nascida em Portalegre, Severa morreu cedo. Segundo registos oficiais citados pelo Museu do Fado, faleceu a 30 de novembro de 1846 na Rua do Capelão, com 26 anos e “solteira”.

O que se passou durante a sua curta vida é difícil de comprovar, já que a maioria das informações têm origem nos poucos relatos orais de contemporâneos seus, como Luís Augusto Palmeirim, Miguel Queriol e Raimundo António de Bulhão Pato.

É através da suas descrições que vamos sabendo que Severa era uma mulher bela, morena e de porte altivo, apesar da sua condição social modesta. “Tinha lume nos olhos, uma voz plangente e sonora, e, apesar destas aparentes seduções, uns modos bruscos e sacudidos, que avisavam os seus interlocutores a porem-se fora do alcance”, como assinalou Luís Augusto Palmeirim. No seu livro “Os excêntricos do meu tempo”, durante uma visita que fez à casa da fadista, no Bairro Alto, deu conta de alguns pormenores que permitem construir a imagem que temos de Severa, uma fadista que cantava e também tocava, como, de resto, mostra o doodle do motor de busca. “Em cima de uma mesa de jogo estava pousada uma guitarra, a companheira inseparável dos seus triunfos”, registou Palmeirim.

Bulhão Pato, por sua vez, quase que antecipa o mito, quando refere, nota o site do Museu do Fado, que “a pobre rapariga foi uma fadista interessantíssima como nunca a Mouraria tornará a ter!… Não será fácil aparecer outra Severa altiva e impetuosa, tão generosa como pronta a partir a cara a qualquer que lhe fizesse uma tratantada!”

Maria Severa Onofriana, celebrizou-se como pelos fados que cantava, tocava e dançava, no bairro da Mouraria. Apesar de os seus locais de atuação não estarem identificados, crê-se que estarão relacionados com os circuitos de prostituição, em particular do Bairro Alto e da Mouraria – meios a que o Fado estava associado no início.

Mas, Severa fez também apresentações em festas aristocráticas, graças ao Conde de Vimioso, D. Francisco de Paula Portugal e Castro, com quem terá mantido uma relação amorosa. Através dessa ligação alcançou maior prestígio e popularidade, atuando também para a elite social e intelectual portuguesa.

Depois de morrer, a sua fama cresceu ainda mais, convertendo-a numa lenda nos círculos populares. Passou a ser cantada em letras de fados, como reflete o ‘Fado da Severa’, catalogado por Teófilo Braga no “Cancioneiro Popular” de 1867, e o seu nome apareceu em livros e filmes.

Em 1901, Júlio Dantas, baseou-se na sua vida para escrever o romance A Severa, alterando vários aspetos da sua histórica. Transformou o Conde de Vimioso em Conde de Marialva, e atribuiu uma origem cigana à fadista, construindo um enredo dramático ao jeito de A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas.

Na cidade de Lisboa, mais concretamente na Mouraria, podem encontrar-se algumas referências à fadista. Na Rua do Capelão, existe o Largo da Severa, onde está a “Casa da Severa” e onde no chão de calçada portuguesa se pode ver o desenho de uma guitarra. Na fachada foi ainda colocada uma placa com a inscrição, “nesta casa viveu Maria Severa Onofriana considerada na época a expressão sublime do Fado.”