Governo pede à Porto Editora que retire do mercados livros de fichas discriminatórios

Depois das queixas sobre a discriminação de género dos livros de fichas da Porto Editora, para crianças entre os 4 e os 6 anos, a CIG – Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género recomenda a retirada dos referidos livros do mercado.

“A CIG, por orientação do Ministro Adjunto, recomendou à Porto Editora – tendo em conta o seu relevante papel educativo – que retire estas duas publicações dos pontos de venda, disponibilizando-se para colaborar na revisão dos conteúdos das mesmas, no sentido de eliminar as mensagens que possam ser promotoras de uma diferenciação e desvalorização do papel das raparigas no espaço público e dos rapazes no espaço privado”, refere a nota enviada à comunicação social.

Em causa está a opção da editora em lançar duas publicações com atividades que são diferentes em cores, temas e grau de dificuldade para rapazes e raparigas. Os livros foram publicados pela primeira vez em julho de 2016, mas só agora deram que falar, motivando um coro de críticas, que encheu a página de Facebook da editora com comentários negativos.


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A editora usou a mesma página para responder às acusações de discriminação, referindo que os blocos diferenciados de atividades para raparigas e rapazes, “têm como objetivo desenvolver determinadas competências essenciais em idade pré-escolar, nomeadamente a atenção e a concentração” e que “foram concebidas com cuidado editorial e pedagógico, apresentando um trabalho gráfico apelativo que procura envolver e motivar os mais novos a adquirir e consolidar as aprendizagens”.

A editora justifica que as diferenças estão na abordagem artística e nas ilustrações, e não nas capacidades atribuídas a um sexo em detrimento do outro. “Em ambas as edições são trabalhadas as mesmas competências, na mesma sequência e com exercícios semelhantes”, diz a Porto Editora na sua página do Facebook.

Mas a CIG não entende assim e dá razão àqueles que se queixam de que os livros de fichas, ao estabelecerem diferenças também ao nível dos temas e do grau de dificuldade, acentuam estereótipos de género e desigualdades nos papéis sociais esperados para mulheres e homens. Para isso, o organismo governamental compara alguns exercícios contidos nos livros.

“Destaca-se, a título de exemplo, numa atividade dirigida aos rapazes, a promoção do contacto com o exterior (campo, árvore, ancinho, águia, etc.), enquanto para as raparigas a atividade apresenta cinco objetos, todos eles ligados a atividades domésticas (leite, manteiga, iogurte, alface e maçã). Ainda num outro exemplo, a proposta para os rapazes é a de um cientista construir um robô, enquanto para as raparigas é a de ajudar a mãe a preparar o lanche”, aponta a CIG.

A Porto Editora decidiu suspender as vendas dos livros e aceitar a colaboração da CIG para rever exercícios que possam ser discriminiatórios.

No entanto, a Porto Editora demarca-se de qualquer “visão discriminatória e preconceituosa”, reiterando que as publicações não a refletem.

 

Imagem de destaque: DR