Grandes malhas

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Chanel, O/I 2015.

A Chanel levou as malhas para o supermercado em leggings e camisolas coloridas combinadas com extravagantes ténis. No desfile da Céline surgiram em calças e camisolas de cores suaves. Pela mão de Stella McCartney tornaram-se desportivas e na primeira coleção de Nicolas Ghesquière para a Louis Vuitton revelaram-se fundamentais. As malhas estão definitivamente na moda. Em lãs grossas ou finas, naturais ou sintéticas, o que é facto é que esta técnica ancestral está mais atual do que nunca.
Hoje não é só a malha que está na moda, mas também o ato de tricotar transformou-se num verdadeiro manifesto. São muitos os grupos e blogues dedicados ao tema, os encontros para tricotar em comunidade são vários e bastante concorridos, e as marcações para workshops multiplicam-se pela internet, bem como a partilha de ideias.

Na realidade, a febre não é nova. Já dura há alguns anos, provavelmente tantos quanto os da crise. Apesar de não ser nenhum dado científico, é difícil contrariar o facto de que, quando a economia regride, nos aproximamos das origens, seja para poupar ou simplesmente para nos distrairmos. A onda de nostalgia reflete-se um pouco por todo o lado, na publicidade com os rótulos vintage e na moda, com uso de matérias naturais como as lãs, a madeira e a cortiça. A arte de tricotar, que geralmente nos é ensinada pelas mais velhas da família e de que nos afastamos até que apareça um bebé, é hoje um hobby transversal a todas as idades, surpreendentemente cosmopolita, tendo em conta a quantidade de grupos de tricô desenvolvidos nas grandes cidades e até comum aos dois géneros. O fenómeno serviu de inspiração para ‘O Clube de Tricô de Sexta à Noite’ (ed. Asa), o livro de Kate Jacobs lançado em 2010, que se desenvolve justamente em torno de um grupo de mulheres nova-iorquinas que se juntam às sextas-feiras para tricotar. E não
é a primeira vez que lã e agulhas são protagonistas em paisagens nova-iorquinas. ‘Breakfast at Tiffany’s’ (‘Boneca de Luxo’, em português), um dos filmes mais icónicos de todos os tempos, tem uma cena em que Audrey Hepburn tricota com lã vermelha.

O tricô é parte importante da história do vestuário, merecendo por isso uma exposição exclusivamente dedicada à malha e ao seu percurso ao longo dos tempos. Knitwear, Chanel to Westwood pode ser visitada no Museu da Moda e do Têxtil em Londres até dia 18 de janeiro. Marcas como O’Neill e Tommy aderiram também à tendência e ambas colaboraram com nomes de peso na indústria dos lanifícios para a criação de linhas especiais. A primeira uniu-se à gigante Pendleton Woolen Mills – famosa pelos xadrezes que conquistaram os surfistas californianos nos anos 1960 – e criou uma linha exclusiva que junta o melhor das duas marcas. Já a Tommy aliou-se à inglesa Abraham Moon dando origem à linha Tech Tradition, que se inspirou no montanhismo dando um toque original a peças clássicas. Sejam feitas em casa ou pela mão dos designers que marcam o momento, o que é certo é que as malhas são para usar e abusar nesta estação que está a pedir golas altas e lareiras acesas.