A história com 108 anos que inspirou ‘Twin Peaks’

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Foi vista pela última vez a apanhar framboesas ao final da tarde de 7 de julho de 1908 junto a uma estrada em Sand Lake. O seu corpo só voltaria a ser visto quatro dias mais tarde a boiar no lago Teal Pond. Chama-se Hazel I. Drew, tinha acabado de fazer 20 anos, e a sua morte por traumatismo craniano, catalogada como crime após a autópsia, está ainda hoje por resolver.

O caso foi – ou é – ainda mais misterioso quando se descobriu que, um dia antes da sua morte, Hazel tinha-se despedido do seu trabalho como babysitter dos filhos e empregada doméstica de um professor que vivia em Troy, a pouco menos de 20 quilómetros de distância da sua cidade, sem dar qualquer justificação. É esta rapariga, uma de sete filhos do casal John e Julia A. Drew, que inspirou ‘Twin Peaks’.

Laura Palmer à esquerda e Hanzel Drew à direita
Laura Palmer à esquerda e Hanzel Drew à direita

Apesar de Lynch e do coautor Mark Frost identificarem a ação da série dos anos 1990 numa localidade no estado de Washington, perto da fronteira com o Canadá, Frost inspirou-se na aldeia de Sand Lake, a nove minutos de carro de localidade onde passou os verões da sua infância, para dar forma à trama. Laura Palmer, a personagem que na série surge sem roupa a boiar num lago e cujo assassinato nunca foi (bem) resolvido, não é mais do que Hazel I. Drew.

“A família do Mark Frost vivia em Taborton, perto de Sand Lake, e ele ouviu da avó as histórias em torno do assassinato de Drew. Eu fui a Taborton e acabei por falar com um homem – era Scott, o irmão de Mark, que ajudou a escrever Twin Peaks e que ainda tem uma casa na localidade”, contou o responsável pelo departamento de História de Sand Lake, Bob Moore, ao ‘Daily Mail’. “Depois também conheci o John Walsh, que ajudou o Mark Frost com detalhes históricos”, prosseguiu.

A localidade fictícia de Twin Peaks e a verdadeira de Sand Lake
A localidade fictícia de Twin Peaks (à esquerda) e a verdadeira de Sand Lake (à direita)

Agora que o mistério em torno da morte fictícia de Laura Palmer se prepara para regressar ao pequeno ecrã a 21 de maio, 25 anos depois da série original, com uma temporada única, Bob Moore diz que a sua cidade já se está a preparar para a enchente de turistas dispostos a resolver o crime (o verdadeiro) ocorrido no início do século XX.

“Desde que escrevi esta história num jornal local que o telefone não para de tocar com todo o tipo de pessoas a oferecerem-me pistas. Quem sabe se alguma vez este crime será resolvido? Já não há ninguém vivo de 1908, por isso tudo o que se diz é boato ou hipotético. As pessoas estão obcecadas. Os habitantes locais recordam as histórias que os seus avós lhes contaram”, explica.

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Um dos posters da série que se estreia em maio

O próprio Frost já tinha confessado que utilizou em Twin Peaks algumas das coisas que a avó lhe dissera sobre o fantasma de uma rapariga que tinha sido assassinada e que habitava a floresta em torno de Taborton.

E suspeitos? Houve cerca de meia dúzia. Desde um tio que tinha acabado de ficar viúvo até a um jovem agricultor de 17 anos e o seu amigo vendedor de carvão, passando por dois desconhecidos vistos perto do local onde o corpo foi encontrado, um médico dentista que lhe terá pedido a mão (apesar de ser casado) até ao próprio professor que a empregou.

A falta de provas levou a que os responsáveis pela investigação abandonassem o caso. Ninguém, até hoje, pagou pela sua morte. Tal como em ‘Twin Peaks’.