Hologramas para vestuário e Gucci à distância de hora e meia

Jose Neves Fundador e CEO da Farfetch
José Neves, fundador e CEO da Farfetch [Fotografia: DR]

A plataforma de comércio de moda de luxo quer encurtar distâncias. Como? Fazendo com que as encomendas feitas pela Internet cheguem ainda mais depressa a casa do cliente. Por isso, a empresa luso-britânica Farfetch, liderada por José Neves, celebrou um acordo com a Gucci que passa por permitir que os produtos da marca de luxo italiana, encomendados por via da aplicação de smartphone ou no site, sejam entregues aos clientes 90 minutos depois de terem feito a aquisição.

Para já, esta parceria – intitulada “Store to Door in 90 minutes” – apenas vai ser possível em cidades em que a distribuição consiga ser mais célere e, ao mesmo tempo, consistente. Londres, Nova Iorque, Dubai, Los Angeles, Madrid, Milão, Miami, Paris, São Paulo e Tóquio vão poder beneficiar deste novo modelo de compra e venda mais imediata, segundo avança a Blomberg.

Este encurtamento do período de tempo entre a aquisição e a receção do produto vem responder às compras que tendencialmente são feitas por impulso ou capricho – já classificada nos media da especialidade como “emergência de luxo” -, mas também traz consigo um maior conforto para quem compra bens de luxo sem querer sair de casa.

Mas a plataforma online quer trazer mais mudanças, recorrendo à tecnologia virtual, na forma como são feitas as compras pela internet, criando para tal a “Loja do Futuro Farfetch”, de acordo com a expressão cunhada pelo fundador e CEO da marca, José Neves.

Revelações que chegam dias depois de a companhia, fundada em 2008, ter integrado a lista das mil empresas cujas receitas mais cresceram na Europa, da autoria do jornal Financial Times, ocupando a 224 posição. A tabela FT1000 analisa os números obtidos entre 2012 e 2015.

Com 10 milhões de visitas por mês no site e com 1500 colaboradores, a plataforma reportou um crescimento de 70% no último ano, com vendas brutas de 753 milhões de euros (800 milhões de dólares). Contas feitas, a empresa estima que os clientes gastem uma média de 650 euros (700 dólares) por pedido. Neste momento, a Farfetch comercializa para 190 países, conta com mais de 750 designers e lojas de moda de luxo agregados na sua plataforma.

Os hologramas e o perfil real de clientes online

Melhor do que a encomenda, é mesmo poder criar sapatos personalizados e experimentá-los. Uma realidade possível através de uma tela holográfica que permitirá aos clientes experimentar matérias e cores. Uma parceria que nasce a meias com a marca de luxo Nicholas Kirkwood.

Mas as ligações entre os mundos online e offline estão também a ganhar outras formas. É pela realidade virtual, pelo software de busca de emoções e pela implementação de métodos de pagamento mais inovadores que a transformação pode vir a ter lugar e a implementar-se como hábito de consumo.

“A próxima etapa na evolução da indústria da moda é a loja que está ligada, que recorre a tecnologia para aprimorar a experiência do retalho de luxo para se tornar ainda mais centrada no cliente”, afirmou o CEO e fundador da plataforma na Conferência Internacional de Luxo do Condé Nast, que decorreu na semana passada. “Oferecer uma solução à medida”, reivindica Neves.

Sim, porque se a roupa é à medida, também as lojas devem ser. É seguindo este caminho que o fundador da marca crê que deve ser o futuro da loja online e multi-marca que lidera, defendendo que, cada vez mais, as tecnologias devem permitir criar experiências únicas para cada marca, para cada loja física e para cada cidade.

Para já, a ideia passa por criar um utilizador para cada telemóvel que possa ser lido por um scanner numa loja real. Tal vai permitir a uma assistente de loja conhecer o perfil do cliente, desde o que comprou anteriormente como o que sinalizou como desejos. Também pode acontecer o contrário, ver algo em loja e adicionar ao carrinho virtual.

“Independentemente das ferramentas digitais, tecnologia ou serviços que cada marca ou loja utiliza na loja, o valor-chave está nos dados que impulsionarão experiências personalizadas e significativas para os clientes e, do lado dos negócios, uma vantagem competitiva significativa”.

As pioneiras desta experiência já estão escolhidas e o modelo deve ser implementado até ao final do ano: Em Londres, na Browns, adquirida pela companhia luso-britânica em 2015, e na Thom Browne, de Nova Iorque.

“Atualmente, o comércio em loja física representa 93% do volume global de vendas. Mesmo com o comércio online em grande expansão, aquela parcela vai valer 80% em 2025”, afirmou o empresário portuense.

Portanto, neste setor, as mudanças têm de ser pensadas não só para o mundo virtual como também para o mundo real, que detém e vai deter por muito tempo a fatia de leão de vendas.

Por isso, José Neves considera que “os retalhistas precisam de uma forma que lhes permita recolher informação sobre os seus clientes enquanto eles ‘navegam’ pela loja online, assim como recolhem dados das pesquisas feitas na internet. A Loja do Futuro pretende melhorar a experiência, dando visibilidade aos retalhistas sobre o que está a acontecer na loja.”

Imagem de destaque: Farfetch