“O ponto de vista masculino sobre as mulheres é importante na moda”

Fantasia e feminilidade são dois pilares da Intropia, uma marca que já conquistou as portuguesas. Rica nos detalhes e nos materiais, esta marca mantém-se fiel ao ADN que sobrevive mesmo depois de mudar duas vezes de nome (já foi Homeless e Hoss Intropia). O segredo para o sucesso é fidelidade à sua essência desde o início, como nos contou nesta entrevista ao espanhol Constan Hernández Durán, o seu fundador.

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Sabemos que é apaixonado pelo desporto. Porque é que decidiu criar uma marca como a Intropia e não uma marca desportiva?
Nunca foi uma coisa que me tenha ocorrido, sempre soube que queria criar uma marca de moda para mulher, sempre foi o que quis e soube fazer.

Há espaço para uma linha de fitness na Intopia?
Não, de momento não é algo que esteja nos nossos planos.

Qual é o segredo para que uma marca que já teve três nomes continue a ser um sucesso?
A marca mudou duas vezes de nome, de Homeless para Hoss Intropia e depois para Intropia, a segunda mudança na verdade foi uma evolução e não uma mudança. Homeless foi o nome com que a marca se iniciou. Com a expansão internacional pensámos numa mudança, e foi nessa altura que criámos o conceito Intropia, a base de toda a filosofia da marca. Intropia significa interior e utopia, o mundo interior da mulher, o que faz cada uma delas especial, um conceito criado por nós, em torno do qual se gerou todo o ADN da marca até hoje. Intropia é o nosso conceito e por isso há um ano decidimos dar-lhe a importância que tem para a marca. Para tal, foi necessário tirar a palavra Hoss do nome da marca.

O segredo para o sucesso acho que está no produto e na nossa filosofia. O produto é a base fundamental da marca, criamos peças originais e com detalhes que as tornam especiais. Somos uma marca com alma, para mulheres com personalidade, que sabem o que querem.

Em 2006, numa entrevista ao jornal espanhol ‘El Economista’, disse que não queria modelos de 25 anos e tamanho 38 nos seus catálogos, mas sim mulheres reais. Só que hoje vemos no lookbook desta coleção uma mulher jovem e com um corpo que a maioria das mulheres não tem, mudou a sua opinião? Para quem são as suas criações neste momento?
Teria de analisar a entrevista, não me lembro de ter dito isso. o tamanho 38 sempre foi o tamanho principal para nós, as nossas modelos tanto no catálogo como no fitting são sempre tamanho 38, e as nossas peças de mostruário também. Intropia é para muitos tipos de mulher, não quero por limites no tipo de mulheres para que desenho as nossas clientes são muito diferentes entre elas. Desenhamos para mulheres com personalidade, que interpretam as tendências e que gostam de moda. Temos feito desenhos mais contemporâneos para novas clientes, mas isso não significa que as nossas clientes antigas não gostem também dessas peças.

A Intropia tem mais de 20 anos. O que é que mudou desde o seu começo até hoje?
Não mudámos, evoluímos. Desde o início que mantemos o espírito da marca, o ADN das suas peças e o mesmo conceito.

Numa entrevista ao jornal espanhol “Cinco Dias” disse que gostava muito de visitar as fábricas, porquê?
É verdade, estou muito em cima do produto e de todo o seu processo, desde o desenho à fabricação. É importante ter uma relação direta com o fabricante e seguir todo o processo, é a única maneira de garantir que cada peça é fabricada corretamente e nos tempos certos. Temos fornecedores muito bons, mas também é verdade que há uns que exigem mais atenção. Um bom fabricante ajuda a fazer uma boa marca, é fundamental ter uma boa rede de fornecedores.

Teve de lidar com o preconceito por ser um homem a trabalhar em moda?
Não, na verdade não. Há muitos homens a trabalhar em moda e inclusivamente podemos dizer que o ponto de vista masculino sobre as mulheres é importante neste setor. Acredito que sou capaz de ver a feminilidade de uma mulher e saber para que tipo de mulher se pode criar cada peça de roupa de um ponto de vista masculino. Por isso, acho que a visão de um homem tem características fundamentais dentro deste setor.

Hoje é mais fácil criar? Atualmente, o que é feminino e masculino tem limites menos restritivos?
A evolução do homem na moda tem sido mais notória, a meu ver, do que a da mulher, que sempre foi mais interessante e em constante evolução. Os homens hoje atrevem-se muito mais na forma de vestir do que antes. Acredito que abrimos a nossa mentalidade no que diz respeito à moda e isso é muito bom.

Tem três filhos e por causa deles abrandou o seu ritmo de trabalho. Qual é o papel que atribui à família? Acha que existe um maior equilíbrio quando não se vive só para a profissão?
Para mim a família está em primeiro lugar. Tento conciliar as coisas o melhor que posso e atribuir-lhes o máximo tempo possível. Muitas vezes estou menos presente do que gostaria, mas tento sempre organizar-me de forma a passar mais tempo com eles. Sobretudo devemos ter consciência de que os primeiros 15 anos dos nossos filhos são muito importantes, e temos de estar presentes. É uma questão de organização. Creio que graças à minha postura perante a família, sou capaz de entender muito melhor as mulheres no ambiente profissional, e a sua situação quando tem de conciliar o trabalho e a família. Entendo e respeito em absoluto o papel da mulher como mãe, na realidade quase todos os funcionários da Intropia são mulheres e mães de família.


Veja na nossa galeria algumas imagens exclusivas da coleção outono-inverno 2017 da Intropia.