Quem monta o puzzle no Portugal Fashion?

A temporada de apresentação das coleções de outono-inverno 2017/18 está fechada. Isabel Branco esteve presente em Londres, Paris, Milão, Roma e Nova Iorque onde fez castings e coreografias dos desfiles de diversos criadores de moda portugueses. No Portugal Fashion da última semana, trabalhou em todos os desfiles definindo o percurso dos manequins em cada apresentação, dando indicações ao minuto com headphones e microfone sempre ligados a vários membros da equipa. Uma mulher que é uma referência no mundo da moda portuguesa, que detesta holofotes e atenções viradas sobre si própria, mas sem a qual a forma como vemos a moda portuguesa por cá e lá fora seria muito diferente.

A Isabel Branco é responsável pelos desfiles do Portugal Fashion. O que é que é o seu trabalho exatamente?

Internacionalmente é uma coisa, nacionalmente é outra. Internacionalmente há um produtor em cada país, que trabalha connosco. Com essa pessoa definimos o dia do desfile, a hora, o local. Depois desses dados estabelecidos, o meu trabalho começa com a escolha dos manequins, com o casting. Por exemplo, em Nova Iorque preciso de 20 mulheres para a Katty Xiomara, ou 13 mulheres e 7 homens do caso do Miguel Vieira.

Como é que é feita a seleção dos manequins?

De acordo com indicações dos designers. Os designers sabem exatamente o que é que querem e o que eu faço está algures entre a consultoria e a análise. Aconselho. Digo se as manequins me parecem adequadas para o conceito que o desfile pretende ter. Os designers têm muitas coisas em cima deles nestas alturas e eu dou esse tipo de ajuda. Quando precisamos de 20 mulheres, vemos cerca de 40, que vêm, vamos vestindo, vamos pondo de parte, vamos fazendo um puzzle.

Essa seleção de manequins é feita quando?

A partir de três dias antes. E não se chega sempre a uma formação ideal. Às vezes temos que pedir para ver mais mulheres porque uma coisa é vê-las e gostar, outra coisa é o fitting. Elas podem ser lindas e as peças não lhes ficarem bem. Nessa altura trocamos. E podemos trocar também os coordenados que tínhamos pensado para uma manequim, até encontrar a melhor solução. Essa é uma gestão difícil.

Qual é a diferença do seu trabalho internacional e daquilo que faz em Portugal?

A responsabilidade é igual. As coisas têm sempre que ser muito bem-feitas. Internacionalmente, faz mais medo. Mas vence-se esse medo.

Há quantos anos faz este trabalho?

Desde 1998. São quase 20 anos.

E ainda sente nervoso miudinho?

Eu adoro fazer isto. Mas já não sinto, já não fico nervosa. Acho que as coisas me correm muito bem. E este trabalho dá um know how, que até acho que transmito ao novos, aos designers que vêm fazer os desfiles que acaba por funcionar muito bem. É tudo muito calmo.

Como é a sua relação com os designers de moda?

Eu respeito muito o trabalho criativo. O styling fica normalmente a cargo dos designers, a maquilhagem é de acordo com o brieffing deles. Eu gosto muito de trabalho deles.

Falámos até agora do seu trabalho nos desfiles internacionais. Como é que é o trabalho que desenvolve no Portugal Fashion em Portugal?

É mais doloroso, é mais trabalho, é mais cansativo. Estamos a falar de 3 dias com quase 30 desfiles. Trabalho com 70 manequins por dia diretamente – porque já não tenho os produtores que tenho nas semanas internacionais, essa já a minha parte também – e portanto distribuo os manequins pelos criadores e pelas marcas. Desse manequins, são os designers que escolhem quem é que veste o quê, eu não faço esse trabalho porque não posso, já estou na coordenação geral. Depois tenho uma equipa de bastidores fantástica, mas é muito difícil.