Isabel Silva: “Tenho truques para controlar a minha vontade de comer”

A energia inesgotável, as gargalhadas contagiantes e o sotaque do norte fizeram da apresentadora de televisão Isabel Silva, de 31 anos, uma das personalidades mais queridas entre os portugueses. Há dois anos começou a partilhar no Instagram o seu estilo de vida saudável, que vai desde as receitas originais à preparação para as duas maratonas que faz questão de correr todos os anos, sem esquecer os passeios diários que dá com o seu cão de raça pug, o caju.

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Os seguidores foram crescendo e já ultrapassam os 312 mil só no Instagram. A par das partilhas diárias nas redes sociais, a apresentadora lançou o blogue I Am Isabel Silva e O Meu Plano do Bem. No livro explica que não faz dieta, revela o que tem sempre na despensa e na mala – truques, incluídos – (pode ver quais são na galeria de imagens acima) e partilha receitas, planos de treino e todos os outros ingredientes que a fazem feliz ao ponto de dar as gargalhadas contagiantes que tanto a caracterizam: o cão caju, a família, os amigos e o trabalho na TVI.

À boleia do livro, Isabel Silva conta agora ao Delas.pt que está longe de ser uma fundamentalista do estilo de vida saudável, que é “lambareira” e que também gosta de pecar e perde-se por doces e por delícias da gastronomia do norte. Tudo conciliado com a prática de exercício intenso, sem esquecer que há aspetos na vida das mulheres que acabam por influenciar os desempenhos e boa disposição. É o caso da menstruação, cujos efeitos – alerta Isabel Silva – devem ser respeitados quando se pratica exercício de alto rendimento.

Já partilhava o seu estilo de vida no Instagram. Entretanto surgiu o blogue I Am Isabel Silva. Porquê agora também o livro?

A culpa é dos meus seguidores, nunca foi meu objetivo lançar um livro. Já partilhava muitas coisas nas redes sociais e achava que era suficiente. Há cerca de dois anos, os meus seguidores começaram, cada vez mais, a pedir-me para lançar um livro de receitas, queriam saber o que como antes, depois e durante o treino, que partilhasse mais coisas da minha vida com o caju, querem acompanhar as minhas provas e saber onde é que vou buscar esta energia toda. E eu comecei a pensar que provavelmente a melhor forma de responder a todas estas perguntas era mesmo lançar um livro. Quando comecei a pensar neste ideia de criar um livro queria muito lançá-lo logo no início do ano passado, mas estava sem tempo e precisava de desenvolver algumas ideias. Demorei, mas gosto de fazer tudo com amor e com carinho porque é assim que os meus seguidores merecem ser tratados.


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E não queria que fosse mais um livro de receitas…

Não queria dar a entender que o meu livro é apenas um livro de receitas e de bem-estar, até porque não sou nutricionista, não sou chef, não sou personal trainer nem tenho a pretensão de ser. Tenho o meu estilo de vida, se ele inspirar os meus seguidores, ótimo, fico feliz da vida. E digo-lhe: nada me deixa mais feliz do que sentir o entusiasmo dos outros. Ao ver que as pessoas se entusiasmam com o meu jeito de viver, eles próprios provocam em mim uma vontade de querer sempre fazer mais, melhor e de partilhar. Isto também está um bocado relacionado com a minha profissão. Gosto muito de dizer coisas ao mundo, de comunicar e de produzir conteúdo, portanto esta questão de partilhar a minha vida nas redes sociais é uma coisa que me dá muito prazer. Obviamente que eu só partilho o que quero e há uma linha que separa a nossa intimidade da vertente profissional, mas mostro grande parte da minha intimidade com os meus seguidores porque também não tenho nada a esconder.

Isabel Silva
Fotografia de João Viegas Guerreiro/Images4Events

Apesar de não ser um livro de receitas também tem algumas da sua autoria.

Tenho receitas que crio, mas se me sobra jantar do dia anterior não deito fora, tenho de aproveitar o que tenho. Mesmo que hoje só me apeteça comer brócolos mas não tenho brócolos no frigorífico, só couve-flor e beterrabas, vou improvisar algo com os outros ingredientes que lá estão. Isso define um bocadinho a forma como olho para os alimentos. Tenho um profundo respeito por aquilo que como, pelos legumes, pela fruta, pelas leguminosas e os hidratos de carbono. Por ter tanto respeito por eles e por querer tratá-los bem, não gosto de os estragar. Enquanto não gastar tudo o que tenho no frigorífico e na despensa não vou ao supermercado. A não ser que exista um dia em que me apeteça uma lambarice, aí é diferente, também não sou fundamentalista.

E quais são as suas lambarices preferidas?

Gosto dos salgados, mas a minha perdição são os doces. Adoro uma boa lambarice, gosto muito de ratar, picar aqui e acolá. Sou muito gulosa e às vezes não tenho fome mas apetece-me comer, apetece-me sempre comer, e tenho de ter alguns truques para controlar a minha vontade de comer.

Truques de que tipo?

Um dos truques é ter sempre sopa, faço sopa para a semana toda. Caso venha a fome tenho aquela pratada de sopa. Quando tenho um jantar ou aniversário, para não ir para o restaurante e enfardar com o pão com manteiga, como uma sopinha ou umas tostinhas de arroz com uma pasta de guacamole, guacamole esse que tem a receita no meu Plano do Bem. Portanto, este meu livro passa também por criar estratégias para estarmos bem. O que seria eu ir para um restaurante, onde quero provar um determinado prato e uma determinada sobremesa, e acabar por matar a minha fome com umas entradas como pãocom manteiga, não faz sentido nenhum.

Então, como faz isso?

Como uma sopinha em casa para “fazer a caminha”. Quando chego ao restaurante começa tudo a enfardar, tudo a comer – cheios de fome – e eu estou bem, com aquela fome q.b. que aguenta a espera de vir o prato. Depois sim, dou-me ao luxo de ter a minha refeição. Tenho de ter prazer e respeito muito o momento em que estou a comer, aquele momento é meu, tanto que desligo o telefone.

Gosta de saborear os alimentos…

E gosto de agradecer aquilo que estou a comer. A forma como olho para a comida é assim. Tenho um profundo respeito pelo meu corpo, gosto que ele se sinta bem à minha beira e, para que isso aconteça, tenho que lhe dar os melhores legumes, as melhores frutas, os melhores superalimentos. E depois há outro ponto: só me sinto bem a comer assim.

Isabel Silva
Fotografia de João Viegas Guerreiro/Images4Events

De onde vem este gosto pela comida e culinária?

Vem dos meus pais e agradeço todos os dias os ensinamentos que me deram. Quando me pergunta o que gosto de comer, naturalmente digo que gosto de um arrozinho a vapor com uma garoupa cozida e legumes cozidos, o que não quer dizer que não goste de mandar abaixo uma francesinha, principalmente quando faço as minhas maratonas. As pessoas desenganem-se se pensam que só como saladas e sementes, senão não tinha aquelas medalhas todas que ali estão. Para correr com a energia com que corro tenho de comer muito bem e para isso também tenho de dormir bem. Há aqui uma conjugação de vários fatores.

Então nunca foi aquela criança que recusava comer peixe cozido e brócolos?

Não, sempre gostei. Não gosto é de iscas, já tentei, mas não consigo. Tenho de ter sempre prazer com aquilo que estou a comer. No dia em que não tiver prazer, não dá. Agora, gosto de arroz com muitos legumes, dá-me muito prazer. Mas também sou muito lambareira, gosto de um pastel de nata, de gelados de cheesecake – adoro cheesecake -, gosto de sobremesas com várias texturas, que têm gelado mas depois também têm bolacha e mousse, com essas misturas todas. Sou capaz de não ter fome e querer continuar a comer, por isso é que também gosto de correr. Quando corro as maratonas tenho de hidratar o meu corpo e dar-lhe alimento, aí tenho uma fome louca. Aliás, no meu blogue, o I Am Isabel Silva, tenho uma rubrica em que mostro o que como durante o dia, desde que acordo até ir para a cama. Até digo a hora a que vou passear o caju. Adoro ter fome, mas para ter fome como pequenas quantidades sempre de três em três horas. Gosto tanto de comer que quero estar sempre a comer.

Apesar de ter noção do que deve comer e quando deve comer, não dispensa o apoio de uma nutricionista, de quem também fala no livro…

A Iara é uma grande amiga, a minha nutricionista. A certa altura da minha vida, apesar de comer de forma saudável, sentia que às vezes não comia o essencial para a intensidade de treino que tinha e a Iara ajudou-me a despertar para outro tipo de alimentos. Apesar de já comer bem, desconhecia a spirulina, a maca, a curcuma, alguns superalimentos que hoje em dia são fundamentais na minha vida porque me dão um boost de energia.

Como por exemplo?

A maca, que é uma planta altamente energética. As pessoas podem achar isto ridículo e pensar: “Lá está ela com as sementes”, mas de facto há coisas que fazem bem ao nosso corpo e acredito que os alimentos curam e que grande parte da minha boa disposição tem a ver com a forma como eu como. Adoro comer um bom hambúrguer, uma boa lasanha e uma boa massa mas têm de ser bem cozinhados, não me permito comer comida de plástico. Ainda há uns tempos fizeram-me uma entrevista e um amigo desafiou-me a comer um hambúrguer do McDonald’s. Eu tinha vindo de um treino, comi aquilo e soube-me pela vida, mas sei que se o fizer todos os dias não vou tirar o real prazer. Portanto, quando há um excesso são sempre exceções à regra porque só assim é que sou feliz, só assim é que me sinto bem.

Isabel Silva
Fotografia de João Viegas Guerreiro/Images4Events

Quando começou a correr?

Toda a vida fiz desporto, sempre fui desportista, sempre gostei de treinar, de desportos de alta intensidade e de ser desafiada. Não é a questão de ser competitiva, é completamente diferente. Gosto de sair da minha zona de conforto e de me superar. Não quero ser mais nem menos do que os outros, quero é cortar a meta e sentir que dei o meu melhor, que não podia ter dado mais, quer corra bem ou mal. Isto é como tudo na vida, até no meu trabalho. Às vezes as coisas podem não correr como queremos, mas tenho de ter consciência de que dei o meu melhor e dei o litro. É assim que olho e é por essa razão que gosto de competição, mas é uma competição saudável. As corridas surgiram há dois anos na minha vida e desde então nunca mais parei. Gosto muito da comunidade de corredores, do espírito de camaradagem que se vive nas provas e do peso do dorsal. Não ganho dinheiro com aquilo, mas aquele momento em que tenho o dorsal e vou começar a correr parece o momento mais importante da minha vida. Só faço duas maratonas por ano porque envolve uma preparação e desgaste físico muito grande.

A maratona de Sevilha foi a primeira de 2017?

Sim. Antes de correr penso: “Estive três meses a preparar-me para este dia. É hoje, portanto quero curtir muito”. Para isso tenho de treinar muito bem. Gosto de correr, mas também gosto sempre de um bom desafio. Antes de começar a preparação andava a surfar, em pequenina fazia ginástica rítmica, nas danças latinas, nas de salão e nas urbanas. Também joguei basquetebol, com 1,50 metros de altura, mas não limpava os bancos. Como sou pequenina, sou muito rápida e distribuía o jogo, era a base ou o extremo. Defendia muitas vezes as mulheres de 2 metros, era rasteirinha e tirava-lhes as bolas. Joguei ténis também.

Mas nunca gostou tanto das outras modalidades como de correr?

Gosto de desafios, não sei se daqui a dois anos vou fazer ultramaratonas, triatlo ou nada disto. Posso só fazer pilates, não sei. Gosto de ir consoante o que o meu corpo me diz para fazer, sigo a minha vontade.

Isabel Silva
Fotografia de João Viegas Guerreiro/Images4Events

O trabalho em televisão é exigente, sem horários e fins de semana. É fácil conjugar este estilo de vida com o trabalho?

É um desafio. Isto só se torna possível, fácil e uma mais-valia porque, efetivamente, amo o meu estilo de vida, preciso de correr para viver bem, preciso de comer bem para estar bem com os outros, preciso de treinar, de libertar endorfinas, as hormonas do prazer. Já disse ao meu diretor na TVI [Bruno Santos, diretor de programação e antena] que no meu contrato devia estar: “Isabel Silva tem de fazer desporto entre três a quatro vezes por semana e tem de correr maratonas.” Se me tirares a comida do bem e o meu desporto, não vou estar bem para trabalhar porque isto é uma necessidade vital. Há pessoas que são viciadas no jogo, no trabalho, em roupas ou viagens, eu sou viciada neste meu estilo de vida. Não pretendo que os leitores do livro comecem a correr maratonas, a treinar como eu e comecem a comer lentilhas, beterrabas e couves, mas este livro pode despertá-las para fazerem algo de que gostem. As pessoas têm de parar para pensar naquilo que gostam de fazer. Se elas gostarem, vão fazê-lo para o resto da vida.

Tem noção de que já é uma inspiração para várias pessoas?

Fui tendo essa noção, mas agora ainda tenho mais. Uma coisa é o blogue, outra coisa é o meu trabalho na TVI em que, de facto, sinto o carinho dos espectadores, mas o meu livro tem sido uma surpresa. Sinto-me profundamente feliz e lisonjeada ao perceber que as pessoas vão a uma livraria comprar uma coisa minha, nunca tive um objeto meu físico à venda, elas têm de pagar para tê-lo. E se o fazem é porque acreditam naquilo que digo, valorizam a minha opinião, é uma responsabilidade muito grande, mas ao mesmo tempo fico muito feliz. Nunca criei muitas expectativas em relação a este livro. Queria lançá-lo para ver no que dava, mas agora que o tenho nas mãos e vejo o impacto que está a ter digo-lhe que foi a melhor coisa que fiz e agradeço às pessoas.

Mas é das que cumpre as receitas à risca?

Eu nem sabia quantificar receitas, faço tudo a olho. Tenho as minhas especiarias, vou cheirando e metendo tudo lá para dentro consoante o meu paladar me vai dizendo. No livro tenho as quantidades certinhas e direitinhas, trabalhei com uma equipa incrível, da qual fazem parte a Inês Mendes da Silva [assessora] e a Bárbara Tomás [produtora para a obra], que me ajudaram a quantifica, foi fundamental. Eu sei fazer para mim e para si, mas fazer quantidades para seis pessoas é difícil. Quando se abre este livro é aberta também a minha despensa, os superalimentos que tenho, os que não dispenso e o que tenho sempre na mala também. Não estou a dizer que os meus truques têm de ser os truques das outras pessoas, são os meus. Provavelmente também faço algumas coisas erradas, não sei.

E que lhe dizem os seus seguidores?

Também aprendo com eles. Por exemplo, às vezes partilho uma receita, depois eles mandam-me uma receita inspirada na minha mas com uma especiaria nova ou um hidrato de carbono novo, eu experimento e às vezes até é melhor do que a versão original. Este livro tem receitas para as quais tenho de olhar, já não as sei fazer ao pormenor, mas o meu objetivo é que as pessoas percebam que esta é a minha base, e que depois qualquer um pode pôr o que quiser, o que gosta mais. O meu objetivo é que percebam o que gostam de comer, que tipo de exercício é que gostam de fazer. Depois há outras coisas que também contribuem para O Meu Plano do Bem, como o caju, esta coisa maravilhosa, o meu fruto seco.

Chamou caju ao seu cão por gostar deste fruto seco?

Ele chama-se caju [de raça pug] por ser sinónimo de energia e pela cor. Falo também da minha ligação com os meus amigos porque não gosto de fazer nada sozinha, não corro maratonas sozinha, gosto de companhia e gosto de partilhar as minhas conquistas e as minhas coisas menos boas. O meu livro tem um capítulo – e que responde a algo muito específico que os leitores me pedem – que mostra o que como antes, durante e depois do treino quando corro 40 minutos ou quando corro 30 quilómetros. Então o que é que fiz? Pus o meu plano de treinos neste livro, de domingo a domingo, em que digo tudo o que como, consoante as horas, o tipo de treino.

Por exemplo?

Se correr 35 quilómetros, o meu pequeno-almoço é duas horas e meia antes, mas se vou correr só 10 quilómetros como uma hora antes. Mostro estes truques. Não é um plano específico para uma prova, é um plano geral em que tento pôr o que faço ao longo da semana. Falo também dos meus treinos de eletroestimulação, os treinos com a personal trainer, as minhas corridas, os meus alongamentos, o meu descanso, um bocadinho de tudo para as pessoas perceberem como me alimento e como funciono. Para os dias menos bons, também dou umas dicas para combater essas tristezas que às vezes temos, principalmente nós mulheres.

A menstruação costuma afetar-lhe os treinos?

Afeta-me imenso. Tenho mais dificuldade em treinar e às vezes fico mais cabisbaixa, mais tristinha, e tento combater isso apesar de às vezes não devermos combater.

Isabel Silva
Fotografia de João Viegas Guerreiro/Images4Events

Em termos de alimentação muda alguma coisa nessa altura do mês?

Não, só bebo ainda mais água porque tenho muita retenção de líquidos e há algumas coisas que tento evitar como o glúten, em minha casa não há.

É intolerante ao glúten?

Sou um bocadinho, o que não quer dizer que não coma fora de casa, mas evito. Nunca tenho açúcar, só de coco ou mascavado, não tenho fritos nem sobremesas boas. Tenho sobremesas do bem, coisas saudáveis. Só peco fora da porta, se tivesse essas coisas em casa ia tudo.

Ficha técnica do livro:

Isabel Silva

O Meu Plano do Bem, Isabel Silva. Editora Manuscrito, 17,50 euros