Joana Ribeiro: “A Paula é um animal autêntico”

Joana Ribeiro estreou-se como atriz há apenas cinco anos, no papel de Mariana Côrte-Real em Dancin’ Days (SIC), mas a sua curta carreira soma já alguns sucessos. E é na pele de Madre Paula que a jovem atriz, de 25 anos, volta a conquistar o público.

A série da RTP1, baseada em factos reais, retrata a história do romance proibido entre Paula, uma freira do convento de Odivelas, e o rei D. João V, papel atribuído a Paulo Pires. Baseada no romance histórico de Patrícia Müller (leia mais aqui), publicado em 2014, a série Madre Paula trouxe a Joana Ribeiro a certeza de que a representação é um caminho sem volta.

Leia mais sobre a série a autora aqui

No passado, ficou a possibilidade de a agora atriz se tornar arquiteta. Ao Delas.pt, Joana Ribeiro revela, em exclusivo, alguns dos maiores segredos de bastidores, inclusivamente o facto de ter ido a casting para fazer de irmã da Madre Paula e acabou por ficar com o papel de protagonista!

Como conseguiu o papel de Paula, uma vez que o casting inicial estava dirigido a outra personagem?

Eu fui ao casting da Maria da Luz, é verdade. E isto só aconteceu porque houve uma atriz que faltou e, então, a minha agente conseguiu encaixar-me nesse espacinho. Fui fazer o teste, mas no final o Tiago Marques, responsável pelos castings, disse-me: ‘olha, eu gostava de te ver como Paula. Queres fazer?’ Claro que sim. Deu-me a cena e tempo para decorar o texto e, depois de fazer a minha interpretação, pediram-me para falar um pouco sobre mim, para ficar registado em vídeo. Passadas duas semanas a minha agente ligou-me a dizer que tinha passado à fase seguinte e que ia fazer um outro casting com o Paulo Pires, o ator que já estava escolhido para fazer o rei D. João V. E foi assim! É daquelas coisas que acontecem e que uma pessoa não está à espera.

Maria Leite no papel de Maria da Luz com Joana Ribeiro, a Madre Paula da série da RTP1 [Fotografia: Divulgação]
Para quem não sabe: quando um ator vai para casting o que é que leva preparado de casa?

No meu caso, tento ao máximo saber o sítio onde a personagem se encontra, naquele momento. Porque é que é que ela está ali, naquela cena, a dizer aquelas coisas. Tento construir a história dessa personagem para trás, como por exemplo conhecer o pai e mãe, e toda a realidade familiar. Conhecer o mais possível sobre aquela personagem é uma mais-valia.

Mas a Joana não ia como Paula…

Pois não! Mas olhando para as duas personagens, Maria da Luz e Paula, a minha energia enquanto pessoa tem muito mais a ver com a Paula do que com a irmã, Maria da Luz. Acho que o Tiago [Alvarez Marques] viu isso e como tal propôs-me o casting da Paula. E elas como são irmãs têm uma backstory mais ou menos parecida. Varia apenas a forma como elas reagem aos inputs que lhes são dados. A Maria da Luz é uma personagem mais contida e a Paula é um animal autêntico. E eu, Joana, tenho uma energia mais Paula do que Maria da Luz.

Identifica-se então com a personagem de alguma forma?

Identifico-me na vontade dela de querer ser livre, de querer fazer as coisas em que acredita sem se deixar rotular. Mas, ao mesmo tempo, há coisas com as quais não concordo que têm a ver com a minha mentalidade de hoje. Se eu tivesse vivido no século XVIII, provavelmente, seria diferente e compreenderia melhor. Esta série passa-se ao longo de alguns anos. A Paula começa a série com 17 anos e acaba com 47 anos. E eu não faço a Paula nessa idade, é bom que fique aqui registado [risos].

A Paula da série é muito diferente daquela Paula que viveu, de facto, no século XVIII?

No guião, e mesmo no livro, havia certas cenas que davam conta de que esta mulher era muito arrogante e pouco simpática. Ela não era tão pobre como na história da Patrícia Müller. Era filha de um ourives e tinha algum dinheiro. Não era pobre como os que realmente eram pobres naquela altura. Mas mesmo assim foi posta num convento, contra a vontade dela. Para mim o que foi difícil aceitar ao início, foi o facto de ela, sabendo de onde vem, tratar as pessoas de uma maneira que, para mim, uma rapariga do século XXI, não faz sentido. Naquela altura, havia escravos. Havia criados. A dada altura surgiu um episódio em que ela chicoteava duas escravas e essa cena foi alterada na série. Porque muitas vezes é difícil gostar da personagem quando ela faz coisas com as quais não nos identificamos ou concordamos. Mas também faz parte do trabalho. Como protagonista, teria de desempenhar um papel pelo qual as pessoas torcessem, e havia certas cenas onde a Paula era muito fria e muito arrogante. Teve de se medir um bocadinho a frieza dela. É uma personagem muito intensa e todas as cenas onde ela entra são, de facto, muito fortes. Desde as discussões até quando ela está triste.

Trabalhar com Paulo Pires, Sandra Faleiro e Maria Leite…

Eu já tinha trabalhado com o Paulo [Pires]. Fiz o filme Uma Hora Incerta, de Carlos Saboga, em que ele fazia de meu pai. [risos] No filme, a minha personagem tinha uma espécie de Complexo de Édipo e era apaixonada pelo pai (risos). E foi muito interessante voltar a trabalhar com o Paulo numa relação diferente. Com a Maria [Leite] nunca tinha trabalhado e adorei. Nós fazíamos de irmãs e estávamos sempre lá uma para a outra. Deu-me imenso apoio e foi uma colega fantástica. Fez uma Maria da Luz incrível. Em contraste com a Paula que é muito intensa, ela fez uma personagem muito contida, mas muito verdadeira. Há um ótimo equilíbrio entre as duas. Com a Sandra [Faleiro] foi ótimo. Eu não tinha muitas cenas com ela, mas as que tinha eram excelentes. A Sandra tem um grande papel e soube com muito pouco tempo de antecedência que tinha de fazer aquela pronúncia, que é das coisas mais difíceis de fazer. E tinha muito texto. Só para terem uma ideia, numa das cenas que tive com ela, a Sandra tinha cinco páginas de texto e eu só dizia uma coisa ou outra lá pelo meio. Ela assustava-me de uma forma tão positiva…

Joana Ribeiro e Paulo Pires vivem um amor proibido em Madre Paula

A Joana tem cinco anos intensos de carreira. As cenas ousadas ainda provocam algum tipo de desconforto?

Eu não tive assim tantas (risos). A série em si tem algumas, mas retrata, de facto, o que se passava naquela altura. O sexo era visto de uma maneira diferente. Os homens tinham tantas relações fora do casamento, porque as pessoas não se casavam por amor, casavam por dever à pátria ou por dinheiro. Então, acabavam por encontrar satisfação fora do casamento. Tinham muitas amantes. E, neste caso, o convento de Odivelas, sendo perto do palácio, era muito frequentado pelos nobres. Fazer cenas ousadas não tem muito a ver com os anos de carreira. Acho que é igual ser o primeiro projeto ou fazer isto há dez anos. São cenas como as outras mas, por vezes, são mais coreografadas. É como que uma dança.

Mas a forma de entrega poderia ser diferente?

Eu entrego-me de igual maneira às cenas todas. Tento compreender a personagem e estou nela quer seja a cozinhar, quer seja a ter relações com alguém. As mais ousadas são simplesmente mais coreografadas e têm menos texto. E depois é uma coisa que toda a gente sabe fazer.

A Joana Ribeiro estreou-se como atriz em 2012 com a novela DancinDays da SIC. Quem era a Joana naquela altura, estudante de arquitetura, e como é agora? Há de facto diferenças?

Não foi um chamamento! De facto, não sabia o que queria fazer e os meus pais sugeriram-me ir fazer um workshop de representação e cinema, de um mês, em Nova Iorque. E lá fui. Quando comecei a ter as aulas e a conhecer aquelas pessoas percebi que aquele seria o caminho a seguir. Depois tudo aconteceu de uma forma muito natural.

Mas havia alguma teatralidade em si?

Gosto de cantar, apesar de cantar mal (risos). Sempre fui uma criança que gostava e fazia coisas diferentes. Em pequena, até fingia que era outra pessoa com a minha mãe ou com o meu pai, mas nada que determinasse ‘ela tem de ser atriz’. As coisas não foram de todo planeadas. Eu fui ao casting de Dancin’ Days só para ver o que era um casting e não era de todo com a ideia de ficar com a personagem. Até porque eu queria era ir estudar e fazer o curso de três anos. Quando fiquei com o papel ainda ponderei se era de facto o que eu queria fazer naquele momento. E porque não?

A arquitetura está posta de lado então?

Eu considero que arquitetura está presente em todas as profissões. Nela, também se criam coisas do nada e eu consigo encontrar um paralelismo entre a arquitetura e a representação. E eu consigo, através da arquitetura, fazer coisas que me interessam na representação. Eu lembro-me que gostava imenso de fazer axonometrias em geometria descritiva. Tinha uma folha em branco e através de linhas e de pontos conseguíamos construir o que se quisesse. A representação é um pouco isso. Ou temos personagens que existiram realmente, como a Paula, ou tens de criar uma pessoa do zero.

E o regresso às novelas acontece quando…

Curiosamente, estou de volta com a novela O Regresso, da SIC (risos), nome provisório. Começo a gravar em agosto, porque agora vou de férias.

Imagem de destaque: Leonardo Negrão/Global Imagens