“O cancro não é uma sentença de morte, é uma sentença de vida”

Jorge Gabriel aceitou ser o anfitrião da iniciativa ‘Comédia por uma causa séria’, um espetáculo que juntou o humor e a magia para apoiar Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC). A sétima edição contou, este ano, com a participação do humorista Pedro Tochas e do ilusionista Mário Daniel.

O apresentador da RTP1 disse “imediatamente que sim” ao convite e mostrou-se honrado por ser o padrinho desta causa que há muito ouve falar. “Mais do que a minha carreira e o facto de ser apresentador, eu vejo mais [o convite] como um reconhecimento de cidadania do que propriamente um reconhecimento profissional”, explicou ao Delas.

Jorge Gabriel admite ser importante abraçar este tipo de iniciativa. “Qualquer profissional desta área deve, sempre que lhe for possível, juntar-se a causas desta natureza pelo simbolismo que isto pode trazer às pessoas que nos veem”, disse o comunicador que também considera “um dever dos cidadãos” estarem “próximos de causas como esta”.

O embaixador desta edição vê no humor um aliado perfeito na luta contra as doenças oncológicas, mas crê “que o crescimento do espetáculo já o levou para além disso”. “O humor deve ser a parte fulcral deste espetáculo, mas acho que outras artes performativas também cabem aqui, quem sabe num futuro próximo”.

Rir é o melhor remédio? Jorge Gabriel não tem “dúvidas nenhumas”. “Para já, não é possível cobrar imposto sobre a predisposição alegre com que devemos encarar a vida”. É pelo lado positivo da vida, mas sobretudo com segurança, que o apresentador da estação pública encarou o cancro da pele que lhe foi diagnosticado em 2011. “Não sendo propriamente hipocondríaco, sou dos que se olhou ao espelho e fez uma analise que qualquer um fará ao achar um ponto diferente no seu corpo e questionar um profissional de saúdo sobre isso. O auto rastreio e posterior rastreio que foi feito pelo médico foi numa fase muito precoce do desenvolvimento da doença e foi isso que possibilitou que a encarasse com extrema segurança”, recorda.

A sua única “aflição” foi “saber imediatamente o passo que tinha de dar” para extrair o melanoma que lhe foi detetado na zona do abdómen, nunca pontuando a doença com “momentos de catarse” e de “profunda reflexão sobre a vida”. “Procuro na minha vida não perder tempo com as coisas que me possam provocar tristeza. Não fujo delas, mas não aprofundo a agonia. Prefiro arregaçar as mangas e tentar resolver os problemas e isso ajuda muito a superar tudo o que me tem ocorrido na vida”, explica. Jorge Gabriel, embora admita que foi a sua mulher, Filipa Gameiro, quem mais sofreu com toda a situação.

Forjado pela sua própria experiência, mas também pelos testemunhos que teve a oportunidade de recolher na sua trajetória enquanto apresentador, Jorge Gabriel aprendeu “que o cancro não é uma sentença de morte, é uma sentença de vida, de esperança, de luz”, não só pelos “avanços da medicina”, mas também pela “conjugação de vontades e emoções em torno destas pessoas, o que ajuda com que a doença perca toda a carga e os fantasmas que há anos está a carregar”, partilha.

Para Jorge Gabriel, o facto de a doença ser alvo de estigma, ainda nos dias de hoje, apesar dos avanços médicos, deve-se ao facto de ter “morrido muita gente. Mas há cada vez mais pessoas a curarem-se tendo cancro”. “Este tipo de iniciativa tem de continuar a acontecer, para que haja mais investigação e para que o volume de curados atinja valores ainda mais altos. Ainda há muito por fazer, mas nós estamos a vencer esta guerra”, esclareceu o apresentador, que acredita que a chave para o sucesso está no diagnóstico precoce da doença porque “quanto mais cedo for diagnosticado, maior é a probabilidade de sucesso”. “É uma doença grave, mas que tem um maior número de fármacos e terapias disponíveis para que as pessoas recuperem, apesar do horrível diagnóstico”, destaca.

O apresentador de ‘A Praça’ considera importante que as pessoas percam definitivamente o estigma sobre o cancro. “Alguém com esta doença não tem que viver isolada do mundo e, para muitos, passou a ser uma doença crónica mas limitada no tempo, porque há muita gente a curar-se”. Servem, por isso, iniciativas como a organizada pela Pfizer Oncology para passar a mensagem de que “se pode mesmo rir por esta causa séria”.

O público também respondeu, esta segunda-feira, massivamente à iniciativa e esgotou o Teatro Tivoli BBVA. Por cada presença confirmada, a empresa farmacêutica doou 10 euros à LPCC, que contou também com o apoio da Associação Portuguesa de Urologia, Grupo Português Génito-Urinário, Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão, Grupo de Investigação do Cancro Digestivo, Grupo de Estudos de Tumores Neuroendócrinos, Intergrupo Português do Melanoma, Sociedade Portuguesa de Senologia e a Sociedade Portuguesa de Oncologia.

No ano passado, foram angariados 15 mil euros, aos quais a Pfizer Oncology somou mais 35 mil euros para financiar o projeto de apoio domiciliário a doentes oncológicos da LPCC.