Discriminação de género nas tarefas domésticas continua entre os mais jovens

Tarefas domésticas
Partilha das tarefas está longe de ser uma realidade (Shutterstock)

A desigualdade entre mulheres e homens no que respeita ao tempo dedicado a tarefas domésticas e cuidados a terceiros continua a passar de geração em geração.

Em média, as raparigas com idades entre os 15 e os 24 anos trabalham mais 1h21m por dia que os rapazes, segundo revelam as conclusões do Inquérito Nacional aos Usos do Tempo de Homens e de Mulheres (INUT ), apresentadas esta terça-feira, numa conferência em Lisboa.

Conduzida pelo Centro de Estudos para a Intervenção Social (CESIS ) com a Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), a pesquisa revelou que em todos os grupos etários são as mulheres quem mais tempo despende com o trabalho não pago.


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Tarefas domésticas e trabalho de prestação de cuidados a crianças, jovens ou adultos, em situação de dependência e incapacidade, consomem em média 4h23m, por dia, às mulheres. Nos homens, o tempo gasto com esse tipo de trabalho é praticamente metade, correspondendo a uma média de 2h38m diárias.

O estudo, que abrangeu 10146 portugueses com idades acima dos 15, mostra que esses valores se mantêm praticamente inalterados se forem consideradas apenas as pessoas com atividade profissional. As mulheres que têm uma profissão continuam a ver ocupadas 4h17m do seu dia, com trabalho não pago, contra 2h37, no caso dos homens.

Mulheres acham distribuição atual justa

Apesar destas assimetrias, a pesquisa revela que 70% das mulheres considera que a parte das tarefas domésticas realizada por elas corresponde ao que é justo. Só duas em cada dez são da opinião de que trabalham mais do que seria aceitável. Já entre os homens, menos de um em cada cinco assume ter consciência de que faz menos do que devia fazer.

O estudo conclui também que a desigualdade na distribuição do tempo despendido com o trabalho não pago se reflete negativamente no tempo dedicado ao trabalho pago. Ou seja, um terço das mulheres – face a um quarto dos homens – declara sentir, com alguma frequência, dificuldades em concentrar-se na sua atividade profissional devido às suas responsabilidades familiares.

Licenças parentais geram maior insatisfação

Ainda que a distribuição das tarefas domésticas pareça justa à esmagadora maioria das mulheres, o mesmo não se aplica quando se fala de duração e desigual distribuição das licenças por maternidade e paternidade. Esta realidade constitui motivo de insatisfação comum, por implicar uma sobrecarga das mulheres. Independentemente do acordo que possa haver entre o casal para partilhar responsabilidades no cuidado dos filhos, a lei impõe-se.

Talvez por isso o estudo conclua que, ao contrário do que acontece com as tarefas domésticas, a participação dos homens é mais evidente na prestação de cuidados a filhos ou filhas.

A divulgação destes resultados tem como objetivo alertar para a necessidade de uma distribuição mais equilibrada do trabalho não pago, assim como contribuir para a definição de políticas públicas que visem a articulação da vida profissional, familiar e pessoal, enquanto instrumento da igualdade de género.

 

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