O peso de um bilhete só de ida: quatro histórias de mulheres emigrantes

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Mais de 100 mil jovens fizeram as malas e, com muito ou com o pouco dinheiro que tinham, compraram um bilhete de ida para um outro país. Este é o número de pessoas com idades entre os 15 e os 29 anos que emigraram, entre 2011 e 2015. Conclusões que decorrem do estudo apresentado pela Pordata, nesta última sexta-feira, 11 de agosto

Dias antes, o Instituto Nacional de Estatística revelava o perfil do emigrante. Nele, referia que a população portuguesa emigrada na Europa era, em 2014, mais jovem do que a residente em Portugal e nos países de acolhimento.

Estes são apenas dois olhares, dois retratos, muito específicos da emigração portuguesa recente, que saiu do país à procura de melhores perspetivas de vida.

À procura de trabalho e de oportunidade no mundo

Condicionantes que levaram Clara Silva, hoje com 28 anos, a trocar Portugal pela Noruega à procura de um trabalho como técnica de Oftalmologia. Mas os números comportam muito mais casos, muito mais histórias de vidas que têm de passar a acontecer longe da família.

Que o diga Bárbara Barbosa Neves. A socióloga e investigadora universitária de 36 anos está, desde novembro de 2015, na Austrália, mas antes já tinha vivido no Canadá e também, curiosamente, na Noruega.

Estas são duas das muitas jovens portuguesas que, sozinhas, tiveram de fazer as malas à procura de uma vida melhor e que agora, a propósito do Dia do Emigrante, que se celebra este domingo, 13 de agosto, aceitam contar as suas experiências, as expectativas e o modo como sonham ou não com o regresso à terra que as viu nascer.

Se Clara Silva lamenta a corrupção e vinca que isso lhe vai arrefecendo a vontade do regressar a Portugal, Bárbara, mais otimista, sonha com um retorno e com projetos muito específicos: “o de construir uma espécie de retiro”.

Venezuela: o drama de um retorno a Portugal

Numa outra geração, Cristina Gouveia, de 59 anos, conta como a saúde a empurrou para o Brasil aos 19 anos, já casada. A vida tem corrido bem e, atualmente, não sonha com o regresso.

História bem diferente tem Catarina Barbosa. Aos 63 anos, vê-se “empurrada” pela segunda vez na vida para a migração. Aos 19 anos pisou a Venezuela pela primeira vez, juntando-se ao marido dois meses após o casamento, porque queria pôr termo a uma vida de escassez, no campo. Agora, prepara-se para comprar um bilhete só de regresso ao país de origem. As razões: a violência e a crise politica no país a que se tem vindo a assistir no último ano.

Emigrantes portugueses são mais novos

Segundo o estudo ‘Emigrantes portugueses e seus descendentes no mercado de trabalho’, do INE, 79,6% dos emigrantes de segunda geração tinham entre 15 e 39 anos, o que compara com 46,4% e com 47,7% em Portugal e na Europa, respetivamente.

O INE sublinha que “o fenómeno emigratório que caracterizou Portugal, particularmente em meados do século XX, a par da recente vaga emigratória da população portuguesa, acentuada com a crise financeira de 2008, justifica a análise e caracterização dos emigrantes portugueses”, da sua situação laboral nos países de acolhimento e as razões que motivaram a sua saída do país.

Partidas que levam gente que vai cada vez mais formada, mais educada para outros países de destino.

Mulheres estão a emigrar mais, mas homens mantêm a dianteira

Hoje, de acordo com os dados do relatório anual Observatório da Emigração, de 2016, são mais de dois milhões e 300 mil os portugueses emigrados, com mais de 62% a residir na Europa. Em 2010, eram menos 300 mil os portugueses espalhados pelo mundo.

O mesmo documento reflete que há mais homens a emigrar do que mulheres, apontando para os 51%. Ao Delas.pt, a investigadora do Observatório para a Emigração, Carlota Moura Veiga, revela que tem sido registada uma “tendência de maior equilíbrio nas questões de sexo em matéria de emigração”. E especifica: “Antigamente, eram mais os homens que emigravam, mas desde os anos 70 que a saída de mulheres do país se tornou muito parecida com a tendência masculina”.

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