Leite de burra, o segredo de beleza que atravessou séculos

Marisol, Briosa, Papoila e Bolota são apenas quatro entre as dezenas de burras (só adultas são 28) que, normalmente, vivem no Monte das Faias, na localidade do Couço, em Coruche, onde é produzido o leite que dá origem aos produtos cosméticos da Phillippe by Almada. Esta marca portuguesa é detida pela DMC – Donkey Milk Cosmetics, Lda (também ela inteiramente nacional), que utiliza o leite de burra em pó para o fabrico de cremes e sabonetes.

O Delas foi conhecer o espaço, a história e todo o processo que leva à produção destes cosméticos, que demoraram algum tempo a sair do conceito para a realidade.

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A ideia surgiu em 2007, pela mão de três sócios e amigos – Jorge Leal Barreto, Filipe e Miguel de Carvalho, mas só em 2011 a empresa começou a faturar. Foram três anos de investigação intensa, só depois é que decidiram investir na compra dos animais.

No início, diz Jorge Leal Barreto, houve uma grande resistência da parte da indústria cosmética. “Não conheciam, tinham medo, o leite é um produto muito difícil de trabalhar”. Desenvolveram então a sua própria linha de cosméticos, de marca branca, na altura, apresentando o produto final a potenciais compradores. “Experimentaram, adoraram e quiseram. E foi assim que começámos a vender leite em pó”, explica. Mas passados alguns anos ainda sentiam que a indústria “não estava a aproveitar o leite de burra no seu pleno”. Passaram então a lançar o desafio aos laboratórios para que conseguissem aplicar o máximo de leite em pó aos produtos cosméticos.

Os produtos que fazem a marca Phillipe by Almada acabam por ser o resultado de diversos estudos e investigações realizados em estreita colaboração com universidades e a empresa produtora. E os testes de eficácia comprovaram que a aposta estava a certa. O nível de hidratação nos sabonetes e nos cremes, de rosto e corpo era, dizem, “muito acima do comum”, por comparação com os outros produtos do mesmo género.
No seu site disponibilizam essa informação detalhada, acompanhada de estudos e análises aos produtos, feitos por um laboratório externo especializado e certificado. Os resultados desses protocolos permitiram, segundo a empresa, “atingir concentrações elevadas dos constituintes do leite, o que se traduz numa melhor performance dos produtos finais, quando aplicados na pele”.

Produtos e características
O mais recente produto lançado pela marca Phillippe by Almada é o creme de mãos. As propriedades restauradoras e renovadoras do leite de burra, aumentam o seu poder antioxidante e hidratante.
O creme de mãos junta-se aos cremes de rosto e corpo e ao sabonete, cujo índice de hidratação é de 41% , o que “é muito” diz Miguel de Carvalho. “No de rosto, a redução do número de rugas é de mais de 40% e a do seu volume é de mais de 27%”, exemplifica, acrescentando que “foram oito testes de eficácia”, que possibilitaram chegar a estes resultados.

Por serem feitos a partir de um leite é especialmente rico em nutrientes essenciais e oligo-elementos, como proteínas lácteas, vitaminas e minerais, os cosméticos da marca contêm propriedades restauradoras e renovadoras. Essas características, segunda a marca, contribuem para uma maior elasticidade e vitalidade da pele, mantendo-a jovem e saudável.
Entre os benefícios dos produtos apontados pela empresa, e testados pelos laboratórios, estão o potencial antioxidante, o elevado nível de hidratação, a firmeza, suavidade e elasticidade da pele e um conjunto de elementos que contribui para um efeito natural anti-rugas, anti-estrias e alisamento cutâneo.


Veja na nossa fotogaleria, em cima, as propriedades de cada produto


Do leite ao mercado dos cosméticos
Começaram com uma ideia simples e prática, até porque o processo está inteiramente dependente da vontade de quem fornece a matéria-prima: as burras. Quase todas de raça mirandesa, embora haja também algumas mestiças. Há apenas uma pessoa que cuida delas, no Monte das Faias, o senhor Manuel. “A maneira como isto está montado faz com que seja tudo muito prático. E as burras simpatizam com ele, caso contrário a coisa não corria bem”, brinca Jorge Leal Barreto. E a ‘simpatia’ delas é essencial ao sucesso, porque, como lembram, são animais “muito inteligentes” – sabem, por exemplo, qual é a sua box de ordenha e não aceitam alterações, mas não só. É preciso acompanhar o seu ritmo, manter as crias junto delas, durante a noite, e alimentá-las de forma equilibrada.

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70% do leite fica para as crias, sendo apenas 30% aquele que se destina à produção de leite em pó. A parte do processo que é feita na quinta termina com o leite e pó e obedece a uma vigilância rigorosa, com diferente pontos de controlo. “O leite de burra é um produto raro e único, mas difícil de estabilizar”, explica Miguel de Carvalho. Este é depois enviado para os laboratórios parceiros, que fazem os cosméticos a partir dele.

Ao leite de burra foram adicionados outros ingredientes, selecionados e validados tecnologicamente. Um desses ingredientes foi o aroma, para atenuar o cheiro do leite, escolhido em colaboração “com o único português reconhecido pela Academia dos Perfumistas franceses”, refere a informação da empresa. O resultado é uma fragrância leve e com odor a sabonete artesanal.

Apesar de ser 100% nacional, a empresa tem como objetivo preferencial o mercado internacional, apostando forte no mercado asiático – o maior consumidor atual de cosméticos, a nível mundial –, e querendo também chegar aos Estados Unidos, sem esquecer a Europa e o mercado nacional.
E se era Cleópatra que, no antigo Egito, se banhava em leite de burra para se manter bela, hoje a ideia é que ninguém fique privado das suas propriedades. Além de ser ideal para qualquer tipo de pele, incluindo peles sensíveis com tendência a reações alérgicas, os cremes à base de leite de burra, como os da Phillipe by Almada, não têm género e podem ser usados tanto por homens como por mulheres. “Lá em casa usamos todos”, garante Miguel de Carvalho.