Luísa Sobral: “Sinto que como estão a olhar para mim eu já não consigo ser tão verdadeira”

Aos 29 anos a compositora Luísa Sobral levou Portugal ao primeiro lugar do Festival da Eurovisão da Canção. Foi a primeira portuguesa a fazê-o. Foi a primeira pessoa a fazê-lo. O feito histórico granjeou-lhe um reconhecimento público que ainda não tinha tido. A cantora que se formou nos Estados Unidos, depois de num concurso de talentos ter descoberto que era música o que queria mesmo fazer – corria o ano de 2003 – diz que agora ainda está a aprender lidar com a fama. Nesta entrevista ao Delas.pt, a propósito do concerto que dará a 26 de julho no EDP Cool Jazz, em Oeiras, conta-nos o que mudou e o que não alterava por nada na sua vida.

Como é que está a ser este período após a vitória no Festival da Eurovisão? Consegue ter uma vida calma?

Não é calma. Já tinha muitos concertos marcados para o verão antes do Festival, sendo que o verão nunca é uma época alta. O tipo de música que eu faço não é uma música de festival, é mais de sala. O verão até era uma época boa para mim, porque eu podia tirar férias como as pessoas normais. Este ano não acontece. Por causa do Festival marcaram-se ainda mais coisas e vai ser um verão muito preenchido. Mas eu gosto muito de tocar, por isso… sou feliz.

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Sente-se uma estrela nacional? As pessoas abordam-na na rua de uma forma diferente daquela que faziam antes?

É um bocadinho diferente sim. Antes não era qualquer pessoa que me conhecia, eram só as pessoas interessadas no meu estilo de música. Hoje em dia sinto que a maior parte das pessoas sabe quem é que eu sou e eu sinto isso de uma maneira que nunca senti antes – só quando estive nos ídolos. Agora estou na praia e vejo as pessoas a olharem para mim.

Acha que é um período passageiro?

Espero que não seja passageiro só porque quero aproveitar esta fama que tenho agora para agarrar as pessoa à minha música e ao meu trabalho. Isso é importante. Se as pessoas deixarem de saber quem eu sou quer dizer que eu não consegui agarrá-las dessa maneira. Gostava que fosse uma coisa natural, que as pessoas não ficassem a olhar para todos os meus movimentos. E eu tenho que aprender a viver melhor com isso e a não me sentir condicionada.

Como é que explica que apesar de não ter uma música conhecida por todos – como acabou de dizer – ter feito uma canção que foi votada por toda a Europa de forma unânime, com 12 pontos?

Como todos os fenómenos, este teve de ter vários ingredientes que todos juntos conseguiram este resultado. Ter escrito esta canção para o meu irmão e não a levar ao festival, ter escolhido outra pessoa a cantar, por exemplo, teria feito a diferença, não teria levado a este resultado, não tinha acontecido isto.

Se fosse a Luísa a cantar?

Não tinha acontecido isto.

Não tem pena de não se ter escolhido a si própria para cantar?

Não! Nenhuma. Um dos meu objetivos era que as pessoas ficassem a conhecer o meu irmão, era fazer com que as pessoas vissem aquilo que eu sempre soube, era que o talento dele chegasse às pessoas. O meu irmão já tinha lançado um disco e o disco, na minha opinião, não recebido como devia ter sido. Eu sabia que isso não tinha acontecido porque as pessoas não tinham chegado à música dele e eu sinto-me muito orgulhosa de ter sido um bocadinho o veículo para o meu irmão chegar aí.

Do ponto de vista da composição, o que é que esta canção tem que as suas anteriores não tinham?

Nada. Foram muitas coisas juntas que fizeram isto. Eu tenho canções melhores do que esta, eu acho. Foi a combinação de várias coisas: ser uma canção muito diferente da outras, ser uma canção muito despida, foi o facto de ser o meu irmão a cantá-la, foi o facto de ser no Festival da Canção primeiro e depois na Eurovisão, sítios que, normalmente, não recebem este tipo de música… Não creio que não tenha as qualidades musicais noutras canções minhas, já compus canções assim, do género desta. Eu até já compus uma canção para o meu irmão quando ele lançou o disco e não foi um sucesso. Teve mesmo de haver uma conjugação de fatores, fatores que nunca se podem repetir porque um dos fatores era a surpresa.

Luísa Sobral nos Jardins do Palácio do Marquês, em Oeiras (fotografia João Viegas Guerreiro)

Estamos nos Jardins do Palácio do Marquês porque é aqui que vais atuar 26 de julho, no EDP Cool Jazz.

Sim! Eu adoro este festival. Este festival tem uma coisa muito diferente da maioria dos festivais: este festival é mesmo para a música. As pessoas não vêm aqui para beber copos e conversar com os amigos. As pessoas vêm mesmo para a música e isso é diferente. Há mais festivais assim, com essa ideia de juntar as pessoas em torno da música e as pessoas estarem caladas a ouvir uma banda, mas não é muito normal. Este festival é mesmo para a música, as pessoas estão caladas, nós podemos cantar uma canção super intimista e as pessoas estão a ouvir. É um festival ao ar livre que parece [que acontece] num auditório. E ser ao ar livre é muito bonito.

Quantas vezes já cantou no Cool Jazz?

Esta vai ser a terceira. Eu abri o concerto do Jamie Cullum, depois fiz uma noite com dois concertos, com a Ana Moura, que é uma grande amiga minha e por isso foi uma noite muito especial – participámos no concerto uma da outra. Esta vai ser a terceira vez, com um concerto em nome próprio e também gosto muito do artista que vem a seguir, o Jamie Lidell.

O que é que se pode esperar deste concerto? Já tem o alinhamento definido?

Eu não trabalho muito bem a longo prazo. Normalmente penso assim: amanhã tenho um concerto. Ainda vou a Madrid tocar, a 24 de julho. Quando chegar a altura de pensar o que quero tocar aqui, vou dedicar-me a isso a 100%. Temos um concerto que temos andado a preparar e andado a tocar, por isso vou fazer esse concerto. Mais perto da data vou perceber se quero alterar alguma coisa, se quero ter algum convidado especial. Este concerto tem uma coisa boa que é: é muito aberto, dá para experimentar muito e cada vez que tocamos é diferente. Aqui, como é o Cool Jazz, como tem essa coisa de jazz, ainda dá para abrir mais e experimentar mais.

Luísa Sobral nos Jardins do Palácio do Marquês, em Oeiras (fotografia João Viegas Guerreiro)