Melania: conheça a futura primeira-dama dos EUA

Calma, serena e politicamente correta. Melania Trump, de 46 anos, é a antítese do marido, Donald Trump. A tranquilidade que a sua expressão corporal transmitia, a empatia emocional que procurava estabelecer com o olhar e as voltas que a equipa de campanha de Trump deram para tornar a sua história de vida sem arestas por limar mantiveram as atenções mediáticas onde elas deviam estar: em Donald. Esta terça-feira, 8 de novembro, o candidato republicano tornou-se no provável 45º presidente dos Estados Unidos da América, embora o silêncio Clinton seja interpretado no início desta quarta-feira como um possível período para pensar no recurso da recontagem de votos.


Conheça o perfil do futuro presidente e recorde o que ele disse em noite de vitória


Mas agora a ex-manequim, nascida na antiga Jugoslávia, prepara-se para poder vir a ser a primeira-dama norte-americana, nos próximos quatro anos. A imprensa internacional tem avançado que – apesar do clã Trump ser grande por via dois casamentos anteriores – só Melania e o filho do casal Barron, de 10 anos, deverão ocupar a residência oficial. Assim, a partir de janeiro, a sucessora da carismática Michelle Obama será a primeira mulher estrangeira no cargo desde o século XIX, quando a britânica Louise Adams, mulher de John Quincy Adams (1825- 1829) tomou as rédeas ao lugar.

O plágio que catapultou Melania na campanha eleitoral

Malania Trump conseguiu o aparentemente não planeado, mas grandioso, feito de colocar o marido em segundo plano e tornar-se o centro de todos os olhos e ouvidos. E se até agora não sabia quem era Melania, neste momento sabe que é a mulher que está a ser acusada de ter plagiado o discurso da atual primeira-dama dos EUA, Michelle Obama, na convenção Democrata em 2008, da qual Barack saiu candidato oficial do Partido à presidência norte-americana. Depois, sim, perceberá que Melania é desde 2005 a mulher de Donald Trump, com quem tem um filho, Barron Trump – o “pequeno Donald”, como a mãe lhe chama.

Melania Trump disse que Donald será um presidente que representará todas as “pessoas”, e não apenas algumas

No decorrer do seu já polémico discurso na convenção republicana, Melania apostou na humanização do marido, fugindo a questões profundas da política e apostando em soundbites de encher o ouvido. Por falta de conhecimento em matérias políticas, ou simplesmente por distração, disse que Donald será um presidente que representará todas as “pessoas”, e não apenas algumas. “Isso inclui cristãos, judeus, muçulmanos, mas também hispânicos, afro-americanos, asiáticos, pobres e classe media”. Ora, é relativamente complicado encaixar a imagem do homem que Melania tentou desenhar na imagem que Trump tem vindo a construir ao longo da sua campanha.

O candidato à presidência dos Estados Unidos, esta terça-feira, em Cleveland, com a mulher
O candidato à presidência dos Estados Unidos, esta terça-feira, em Cleveland, com a mulher

“Vou construir um grande muro na nossa fronteira do sul e obrigarei o México a pagar por esse muro” ou apelo a um impedimento total da entrada de muçulmanos nos Estados Unidos”. Estas são frases retiradas de discursos proferidos pelo mesmo homem que Melania diz representar todas as pessoas. E esta é mais uma das contrariedades que ligam a campanha do candidato, de 70 anos, à esposa, de 48 anos.

Nascida na Eslovénia, Melania começou a construir a sua carreira de modelo em Milão (Itália) e Paris (França), os berços de ouro da moda europeia.

Nascida na Eslovénia, Melania começou a construir a sua carreira de modelo em Milão (Itália) e Paris (França), os berços de ouro da moda europeia. A agradável, mas não triunfante, prestação da jovem modelo eslovena motivaram a sua ida para Nova Iorque, Estados Unidos, nos anos 1990, tornando-se assim imigrante e, mais tarde, naturalizando-se norte-americana. Aqui começa o contrassenso entre a política de Trump e as raízes da possível futura primeira-dama.

Ao longo dos últimos meses, o republicano tem sido cabeça de cartaz de uma política americana contra a imigração, argumentando que uma restrição aos imigrantes criaria mais postos de trabalho para os norte-americanos. Fechar fronteiras, aumentar o controlo nas mesmas ou cancelar a emissão de vistos, são algumas das políticas defendidas pelo magnata americano. Portanto, da mesma forma que Melania pode vir a ser a primeira mulher imigrante a assumir o cargo de primeira-dama dos EUA, também o pode conseguir ao lado de um presidente que é manifestamente contra a imigração.

“Ninguém conhece [as suas opiniões sobre política] nem irá conhecer, porque isso é uma coisa entre mim e o meu marido”

Ela, que nunca abordou publicamente este conflito de posições e que, segundo a própria, muito dificilmente o fará. Faz questão de se manter à margem dos temas que envolvem política, transmitindo a sua opinião apenas quando esta lhe é solicitada. “Esse é o trabalho do meu marido”, diz à revista ‘GQ’, e acrescenta que ele conhece perfeitamente as suas opiniões. “Ninguém as conhece nem irá conhecer”, diz, “porque isso é uma coisa entre mim e o meu marido”.

Envolvida numa cortina de fumo parece também estar a sua história de vida. Entre os factos confirmados, por confirmar e os que a equipa de campanha de Donald Trump tenta abafar, a última categoria lidera as sondagens.

Melania Trump à saída da igreja em Palm Beach, na Florida, no dia em que se casou com Donald Trump, a 22 de janeiro de 2005
Melania Trump à saída da igreja em Palm Beach, na Florida, no dia em que se casou com Donald Trump, a 22 de janeiro de 2005

Melania cresceu em Sevnica, uma pequena cidade no sudeste da Eslovénia, onde terá iniciado a sua carreira de modelo aos cinco anos, escreve a Reuters. A mãe era designer de moda. Já o pai era gerente de uma empresa de carros e nunca integrou nenhum grupo politizado. Esta é a versão oficial que a equipa de campanha de Donald Trump transmitiu aos jornalistas da Reuters, quando tentaram confirmar outra versão da história de vida de Melania.

Segundo alguns moradores de Sevnica, a mulher de Trump cresceu nas margens do rio Sava, perto do local onde o pai constituiu um negócio de venda de peças de carros. Já a mãe trabalhava numa fábrica de roupas de criança. A poeira em torno da sua história de vida levantou quando a imprensa norte-americana sugeriu que o pai era membro do partido comunista. O gabinete de comunicação do candidato republicano respondeu apenas: “O pai dela nunca foi membro do partido comunista”, escreve a Reuters, sem nunca conseguir confirmar de forma independente os rumores em torno do pai de Melania.

Matthew Atanian, um fotógrafo que partilhou um quarto com a ex-modelo em Nova Iorque, chegou a dizer à Reuters que Melania viu em Trump aquilo que sempre procurou: “poder e proteção”.

Quando vi com quem é que ela se tinha casado, identifiquei uma série de semelhanças entre Donald Trump e o pai de Melania”, confessou um amigo de infância à agência de notícias. “Eles têm características e comportamentos semelhantes, além de serem os dois muitos trabalhadores. Penso que ela encontrou em Trump um companheiro com quem se pode sentir segura”, acrescentou.

Este parece ser o único argumento para justificar a relação entre Trump e Melania. Matthew Atanian, um fotógrafo que partilhou um quarto com a ex-modelo em Nova Iorque, chegou a dizer à Reuters que Melania viu em Trump aquilo que sempre procurou: “poder e proteção”.

Resta saber que os caminhos do casal cruzaram-se em setembro de 1998, numa das festas que preenchem a semana da moda em Nova Iorque. Paolo Zampolli é o responsável por este encontro. O agente italiano, que também contribuiu para a ida de Melania para os EUA, tem por hábito promover a sua carteira de modelos através de luxuosas festas americanas. A receita é simples: um conjunto de modelos, fotógrafos, produtores, e multimilionários ligados à ‘Playboy’.

Trump e a então ainda namorada em Nova Iorque em maio de 2003
Trump e a então ainda namorada em Nova Iorque em maio de 2003

Trump chegou acompanhado à festa, mas assim que viu Melania descartou a sua acompanhante e apresentou-se à modelo eslovena. Ainda que se tenha esquivado do primeiro encontro, Melania não saiu sem o contato de Trump no bolso. Esperou uma semana para lhe ligar. A empatia estava assegurada, o importante era não passar a imagem de “desesperada”, confessa a própria à ‘GQ’. Não passou.

Resistiu à diferença de idades, manteve-se na sombra das polémicas declarações de Donald Trump e segurou um casamento à moda de um conservador. Até ao seu discurso na convenção republicana, os bastidores foram sempre o seu local de eleição. Saltou agora para a ribalta, aparentemente, sem intenções de o fazer.