Entre marido e mulher, mete-se mesmo a colher

“Em briga de marido e mulher, a gente mete a colher” é o lema da plataforma Mete a Colher, um projeto que visa ajudar as mulheres brasileiras a sairem de relacionamentos abusivos.

A ideia surgiu no evento Startup Weekend Women Recife, em que as fundadoras deste projeto se conheceram e discutiram a forma de desenvolver uma plataforma de ajuda para mulheres vítimas de violência doméstica.

No Brasil, a cada hora e meia uma mulher é vítima de violência, seja ela física ou psicológica, praticada por homens próximos a ela. Por dia, cerca de 16 mulheres são violentadas. Muitas mulheres são vítimas de violência por: falta de apoio de familiares e amigos, falta de conhecimento, há mulheres que não sabem que estão a ser agredidas, já que muitas vezes a violência pode ser verbal ou psicológica, dependência financeira do agressor, vergonha e medo de se expor. Com todos esses dados, procurámos desenvolver uma solução para apoiar e juntar mulheres que precisam de ajuda com outras que querem ajudar“, contou ao Delas, Lhaís Rodrigues, uma das fundadoras do Mete a Colher.

A solução encontrada para criar esta rede de apoio foi uma aplicação para telemóvel, que já existe para Android e está a ser desenvolvida para IOS. Esta aplicação funciona como um chat onde mulheres que precisam de ajuda e mulheres que podem dar ajuda se encontram, de forma simples e eficaz.

O processo é simples: depois de descarregar a aplicação, disponível no Google Play, cada mulher indica se precisa de ajuda ou se pode dar ajuda, neste caso existem três opções ajuda jurídica, apoio emocional e oportunidades de trabalho. Depois de feito o registo, quem precisa de ajuda tem apenas de enviar uma mensagem com a sua história ou dúvida.

Depois a equipa do Mete a Colher irá avaliar a mensagem e classificá-la “de acordo com o tipo de ajuda que você precisa. Os pedidos de ajuda aparecem numa lista, organizados de acordo com a sua localização e o tipo de ajuda que mais se encaixa no seu perfil,” pode ler-se na discrição da App.

Outra particularidade deste projeto é que apenas permite a entrada de mulheres na rede, sendo o registo feito através do login do Facebook para garantir que todos os usuários são do sexo feminino. Isto acontece porque as mulheres se sentem mais à vontade a falar de relacionamentos abusivos, se estiverem apenas entre mulheres. Mas também é uma questão de segurança para que os agressores não consigam entrar nestas conversas.

Como é que a aplicação se defende dos perfis falsos do Facebook? “Sabemos que algumas pessoas podem criar perfis falsos como mulheres e tentarem aceder à rede. Para o evitar usamos um sistema de report onde a usuária pode reportar outra. Através destas denúncias, fazemos uma análise para tomamos uma iniciativa de bloqueá-la ou entrar em contacto com ela pois às vezes pode ser o agressor da usuária tentando entrar na rede.” explica Lhaís Rodrigues.

O Mete a Colher é ainda protegido por senha, e todas as conversas trocadas são automaticamente apagadas passadas 24 horas, tudo isto para que a segurança e privacidade seja mantida. Como rede que é o Mete a Colher, não facilita apenas a conversação entre as mulheres, mas também fornece uma série de contactos úteis – como esquadras, hospitais, etc. – em várias cidades do Brasil.

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A aplicação é muito recente, por essa razão ainda não é possível medir o impacto que pode ter nas vítimas de violência doméstica, mas tudo indica que pode de facto ajudar as mulheres a quebrarem os seus ciclos de violência. Esta convicção existe porque antes da App a plataforma Mete a Colher já funcionava no Facebook e teve alguns casos de sucesso, como nos explicou Lhaís : “A nossa rede no início funcionava via Facebook e temos casos, dessa altura, de mulheres que se empoderaram e conseguiram sair de relacionamentos abusivos. Conseguimos ajudar mulheres dando instruções, consciencializando através de conteúdo na nossa página e pondo-as em contacto com advogadas para oferecer ajuda jurídica.”

O projeto quer enraizar-se no Brasil mas pretende ajudar mulheres no mundo inteiro e ser uma prova viva de que a partilha de experiências pode salvar vidas. “Muitas mulheres que estão em relacionamentos abusivos acreditam que não conseguirão sair deles e como têm falta de apoio acabam por acreditar que estarão submissas a esta situação até ao final da vida delas. Quando elas vêem outras mulheres que já saíram de um relacionamento abusivo, acabam por acreditar que podem sair desta situação também e isso é inspirador e empoderador para elas.” conta Lhaís Rodrigues ao Delas.

Além de ser uma ponte entre mulheres, este projeto ainda cria conteúdos educativos sobre relacionamentos abusivos, violência doméstica e apoio feminino. Informações estão que são divulgadas nas redes sociais, onde o Mete a Colher tem 100 000 seguidores e noutras ações que promove.

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