Morreu Manuela de Azevedo, a jornalista mais antiga do mundo

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Manuela de Azevedo, a primeira mulher a ter carteira profissional de jornalista em Portugal, morreu esta sexta-feira pelas 12.00, no Hospital de S. José, em Lisboa, aos 105 anos, informou a direção do Museu Nacional da Imprensa. Manuela de Azevedo tinha sido internada na unidade hospitalar na terça-feira, acrescentou o comunicado.

“Depois da morte de Clare Hollingworth, no dia 10 de janeiro deste ano, em Hong Kong, Manuela de Azevedo era a repórter mais antiga do mundo. Deixa uma obra vasta que honra o jornalismo e o mundo das letras, já que foi romancista, ensaísta, poeta e contista, tendo escrito também peças de teatro, uma delas censurada pelo regime de Salazar. Cortado pela Censura foi também um artigo que escreveu em 1935 a defender a eutanásia”, refere a nota do Museu da Imprensa.

A carteira profissional emitida em 1938
A carteira profissional emitida pelo Sindicato Nacional de Jornalistas em 1938

Nascida a 31 de agosto de 1911, Manuela de Azevedo foi admitida em agosto de 1957 na Casa da Imprensa, sendo a mais antiga associada da instituição. O interesse pelo jornalismo começou porque o pai era correspondente no jornal ‘O Século’.

Dois artigos enviados em 1935 para o jornal República - sobre a Eutanásia e a Sociedade das Nações - são cortados pela Censura de Salazar
Dois artigos enviados em 1935 para o jornal República – sobre a Eutanásia e a Sociedade das Nações – são cortados pela Censura de Salazar

Ao longo de quase sessenta anos de jornalismo privou com as grandes figuras da política, da cultura, da sociedade. Na nota divulgada, o Museu Nacional da Imprensa lembrou como a jornalista conseguiu a primeira entrevista do ex-rei Humberto I de Itália, que se exilara em Lisboa após a implantação da República. Manuela de Azevedo fez-se passar por criada para conseguir a entrevista, que foi publicada no ‘Diário de Lisboa’, em junho de 1946. “Entre muitas das personalidades que conheceu e entrevistou está o jornalista e escritor Ernest Hemingway, prémio Nobel da Literatura”, recorda ainda a nota.

Em junho de 1946 fez-se passar por criada para entrevistar o ex-rei Humberto de Itália, exilado em Sintra.
Em junho de 1946 fez-se passar por criada para entrevistar o ex-rei Humberto de Itália, exilado em Sintra

A par do jornalismo, escreveu e publicou várias obras literárias, entre poesia, conto, romance, biografia ou crónica. Fundou e presidiu a Associação para a Reconstrução e Instalação da Casa-Memória de Camões em Constância, projeto em que trabalhou durante 40 anos.

A jornalista já foi, em várias ocasiões, distinguida pelo seu percurso profissional. Em 2015, foi agraciada com a Ordem da Liberdade pelo então presidente Aníbal Cavaco Silva, numa cerimónia no Palácio de Belém. Em setembro de 2016, a jornalista foi distinguida com a Medalha de Mérito Cultural da Câmara de Lisboa. No dia que assinalou o seu 105º aniversário, no dia 31 de agosto, foi condecorada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com a Ordem da Instrução Pública.