Morreu a mulher que levou EUA a reconhecerem direito constitucional ao aborto

Congress holds a hearing on the consequences of Roe v. Wade and Doe v. Bolton on Capitol Hill.
Norma McCorvey (REUTERS/Shaun Heasley)

Norma McCorvey, que ficou conhecida por ter personificado o caso que conduziu à legalização do aborto nos Estados Unidos, morreu este sábado, aos 69 anos, no estado do Texas, anunciou um jornalista próximo da família.

Segundo disse ao jornal ‘The Washington Post’ o jornalista Joshua Prager, que está a trabalhar num livro sobre a mulher que passou de pró a antiaborto e estava com ela e com a sua família aquando da morte, num lar texano, McCorvey sofria há algum tempo de problemas cardíacos.

Sob o pseudónimo “Jane Roe”, Norma McCorvey liderou o processo legal que acabaria por levar o Supremo Tribunal dos Estados Unidos a reconhecer o direito constitucional a interromper uma gravidez.

Nessa altura, McCorvey tinha 22 anos, era solteira e estava grávida pela terceira vez, quando, em 1969, quis interromper a gravidez no Texas, onde o aborto era ilegal, salvo em caso de risco de vida para a mulher. McCorvey acabaria por dar à luz uma menina, que deu para adoção.

O processo a que deu início, conhecido como “Roe vs. Wade”, levou o assunto ao Supremo Tribunal, que, em 1973, reconheceu que o Estado não podia interferir na decisão de uma mulher em recorrer ao aborto durante os primeiros meses de gravidez.

McCorvey só revelou ser “Jane Roe” na década de 1980, durante a qual foi uma fervorosa adepta da liberdade de escolha e do direito à interrupção voluntária da gravidez.
Anos mais tarde, em 1995, McCorvey acabaria por se converter à fé evangélica, cativada pelo reverendo Philip Benham, que montou um grupo antiaborto mesmo ao lado da clínica de Dallas que realizava interrupções voluntárias da gravidez onde ela trabalhava.


Leia também: Mulheres de todo o mundo marcharam contra Trump

Trump ainda não entrou e a vida das mulheres já está a mudar


“Não acredito no aborto, mesmo em situações extremas. Se uma mulher engravidar de um violador, não deixa de ser uma criança”, disse McCorvey à Associated Press, em 1998.

McCorvey converteu-se depois ao catolicismo e não mais se desligou do movimento antiaborto que, a cada 22 de janeiro, data da histórica decisão judicial, realiza uma marcha pedindo a revogação da lei.

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse, durante a campanha, que apoia essa pretensão, defendendo que a decisão sobre o aborto volte a caber a cada estado.

Imagem de destaque: REUTERS/Shaun Heasley